terça-feira, novembro 13, 2007

Pequena Alma

A Pequena Alma

Eu sei quem sou!
E Deus disse: Que bom! Quem és tu?
E a Pequena Alma gritou: Eu sou Luz!
E Deus sorriu. É isso mesmo! Exclamou Deus. Tu és Luz!

A Pequena Alma ficou muito contente, porque tinha descoberto aquilo que todas as almas do Reino deveriam descobrir.

Uauu, isto é mesmo bom! Disse a Pequena Alma.
Mas, passado pouco tempo, saber quem era já não lhe chegava.
A Pequena Alma sentia-se agitada por dentro, e agora queria ser quem era.
Então foi ter com Deus (o que não é má idéia para qualquer alma que queira ser Quem Realmente É) e disse:
Olá Deus! Agora que sei Quem Sou, posso sê-lo?
E Deus disse: Quer dizer que queres ser Quem já És?
Bem, uma coisa é saber Quem Sou, e outra coisa é sê-lo mesmo. Quero sentir como é ser a Luz! Respondeu a Pequena Alma.
Mas tu já és Luz, repetiu Deus, sorrindo outra vez.
Sim, mas quero senti-lo! Gritou a Pequena Alma.
Bem, acho que já era de esperar. Tu sempre foste aventureira, disse Deus com uma risada.
Depois sua expressão mudou.
Há só uma coisa...
O quê? Perguntou a Pequena Alma.
Bem, não há nada para além da Luz. Porque eu não criei nada para além daquilo que tu és; por isso, não vai ser fácil experimentares-te como Quem És, porque não há nada que tu não sejas.
Hã? Disse a Pequena Alma, que já estava um pouco confusa.

Pensa assim: tu és como uma vela ao Sol. Estás lá sem dúvida. Tu e mais milhões, ziliões de outras velas que constituem o Sol. E o Sol não seria o Sol sem vocês.
Não seria um Sol sem uma das suas velas... e isso não seria de todo o Sol, pois não brilharia tanto.
E no entanto, como podes conhecer-te como a Luz quando estás no meio da Luz, eis a questão.

Bem, tu és Deus. Pensa em alguma coisa! Disse a Pequena Alma mais animada.
Deus sorriu novamente.
Já pensei. Já que não podes ver-te como a Luz quando estás na Luz, vamos rodear-te de escuridão, disse Deus.

O que é a escuridão? Perguntou a Pequena Alma.
É aquilo que tu não és – replicou Deus.
Eu vou ter medo do escuro? Choramingou a Pequena Alma.
Só se o escolheres. Na verdade não há nada de que devas ter medo, a não ser que assim o decidas. Porque estamos a inventar tudo. Estamos a fingir.
Ah! Disse a Pequena Alma, sentindo-se logo melhor.

Depois Deus explicou que, para se experimentar o que quer que seja, tem de aparecer exatamente o oposto.
É uma grande dádiva, porque sem ela não poderíamos saber como nada é – e disse Deus – Não poderíamos conhecer o Quente sem o Frio, o Alto sem o Baixo, o Rápido sem o Lento. Não poderíamos conhecer a Esquerda sem a Direita, o Aqui sem o Ali, o Agora sem o Depois. E por isso, continuou Deus, quando estiveres rodeada de escuridão, não levantes o punho nem a voz para amaldiçoar a escuridão.
"Se antes uma Luz na escuridão, e não fiques furiosa com ela. Então saberás Quem Realmente És, e os outros também o saberão. Deixa que a tua Luz brilhe tanto que todos saibam como és especial!"
Então posso deixar que os outros vejam que sou especial?
Perguntou a Pequena Alma.
Claro! Deus riu-se. Claro que podes! Mas lembra-te de que "especial" não quer dizer "melhor"! Todos são especiais, cada qual a sua maneira! Só que muitos esqueceram-se disso.
Esses apenas vão ver que podem ser especiais quando Tu vires que podes ser especial!

Uau! Disse a Pequena Alma, dançando e saltando e rindo e pulando. Posso ser tão especial quanto quizer!
Sim, e podes começar agora mesmo, disse Deus, também dançando e saltando e rindo e pulando juntamente com a Pequena Alma.
Que parte de especial é que queres ser?

Que parte de especial? Repetiu a Pequena Alma. Não estou a perceber.
Bem, explicou Deus, ser a Luz é ser especial, e ser especial tem muitas partes.
É especial ser bondoso. É especial ser delicado. É especial ser criativo. É especial ser paciente.
Conheces alguma outra maneira de ser especial?

A Pequena Alma ficou em silêncio por um momento.
Conheço imensas maneiras de ser especial! Exclamou a Pequena Alma. É especial ser generoso. É especial ser simpático. É especial ser atencioso com os outros.

Sim! Concordou Deus. E tu podes ser todas essas coisas, ou qualquer parte de especial que queiras ser, em qualquer momento. É isso que significa ser a Luz.

Eu sei o que quero ser, eu sei o que quero ser! Proclamou a Pequena Alma com grande entusiasmo. Quero ser a parte de especial chamada "perdão". Não é ser especial alguém que perdoa?
Ah, sim, isso é muito especial, assegurou Deus à Pequena Alma.
Está bem. É isso que eu quero ser. Quero ser alguém que perdoa.
Quero experimentar-me assim, disse a Pequena Alma.

Bom, mas há uma coisa que devias saber, disse Deus.
A Pequena Alma já começava a ficar um bocadinho impaciente. Parecia haver sempre alguma complicação.
O que é? Suspirou a Pequena Alma.
Não há ninguém a quem perdoar.
Ninguém? A Pequena Alma nem queria acreditar no que tinha ouvido.
Ninguém! Repetiu Deus.
Tudo o que Eu fiz é perfeito. Não há uma única alma em toda a Criação menos perfeita do que tu. Olha a tua volta.
Foi então que a Pequena Alma reparou na multidão que se tinha aproximado. Outras almas tinham vindo de todos os lados, de todo o Reino, porque tinham ouvido dizer que a Pequena Alma estava a ter uma conversa extraordinária com Deus, e todas queriam ouvir o que eles estavam a dizer.
Olhando para todas as outras almas ali reunidas, a Pequena Alma teve de concordar.
Nenhuma parecia menos maravilhosa, ou menos perfeita do que ela.
Eram de tal forma maravilhosa, e a sua Luz brilhava tanto, que a Pequena Alma mal podia olhar para elas.

Então, perdoar quem? Perguntou Deus.
Bem, isto não vai ter piada nenhuma! Resmungou a Pequena Alma. Eu queria experimentar-me como Aquela que Perdoa. Queria saber como é ser essa parte especial.
E a Pequena Alma aprendeu o que é sentir-se triste.
Mas, nesse instante, uma Alma Amiga destacou-se da multidão e disse:
Não te preocupes, Pequena Alma, eu vou ajudar-te, disse a Alma Amiga.
Vais? A Pequena Alma animou-se. Mas o que é que tu podes fazer?
Ora, posso dar-te alguém a quem perdoares!
Podes?
Claro! Disse a Alma Amiga alegremente. Posso entrar na tua próxima vida física e fazer qualquer coisa para tu perdoares.
Mas porquê? Porque é que farias isso? Perguntou a Pequena Alma. Tu, que és um ser tão absolutamente perfeito! Tu, que vibras a uma velocidade tão rápida a ponto de criar uma Luz de tal forma brilhante que mal posso olhar para ti! O que é que te levaria a abrandar a tua vibração para uma velocidade tal que tornasse a tua Luz brilhante numa Luz escura e baça? O que é que te levaria a ti, que danças sobre as estrelas e te moves pelo Reino à velocidade do pensamento, a entrar na minha vida e a tomares-te tão pesada a ponto de fazeres algo de mal?
É simples, disse a Alma Amiga.
Faço-o porque te amo.

A Pequena Alma pareceu surpreendida com a resposta.
Não fiques tão espantada, disse a Alma Amiga, tu fizeste o mesmo por mim. Não te lembras?
Ah, nós já dançamos juntas, tu e eu, muitas vezes. Dançamos ao longo das eternidades e através de todas as épocas, Brincamos juntas através de todo o tempo e em muitos sítios. Só que tu não lembras. Já fomos ambas o Todo. Fomos o Alto e o Baixo, a Esquerda e a Direita. Fomos o Aqui e o Ali, o Agora e o Depois. Fomos o Masculino e o Feminino, o Bom e o Mau, fomos ambas a vítima e o vilão. Encontramo-nos muitas vezes, tu e eu, cada uma trazendo à outra a oportunidade exata e perfeita para Expressar e Experimentar Quem Realmente Somos.

E assim, a Alma Amiga explicou mais um bocadinho, eu vou entrar na tua próxima vida física e ser a "má" desta vez. Vou fazer alguma coisa terrível, e então tu podes experimentar-te como Aquela Que Perdoa.

Mas o que é que vais fazer que seja assim tão terrível? Perguntou a Pequena Alma, um pouco nervosa.
Oh, havemos de pensar em alguma coisa, respondeu a Alma Amiga, piscando o olho.

Então a Alma Amiga pareceu ficar séria, disse numa voz mais calma:
Mas tens razão acerca de uma coisa, sabes?
Sobre o quê? Perguntou a Pequena Alma.
Eu vou ter de abrandar a minha vibração e tornar-me muito pesada para fazer esta coisa não-muito-boa.
Vou ter de fingir ser uma coisa muito diferente de mim. E por isso, só te peço um favor em troca.
Oh, qualquer coisa, o que tu quizeres! Exclamou a Pequena Alma, e começou a dançar e a cantar. Eu vou poder perdoar, eu vou poder perdoar!
Então a Pequena Alma viu que a Alma Amiga estava muito quieta.
O que é? Perguntou a Pequena Alma. O que posso fazer por ti? És um anjo por estares disposta a fazer isto por mim!
Claro que esta Alma Amiga é um anjo! Interrompeu Deus, são todas!
Lembra-te sempre:

Não te enviei senão anjos.

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