domingo, novembro 15, 2009

SANTA EUFÉMIA E O CULTO DA DEUSA-MÃE


SANTA EUFÉMIA E O CULTO DA DEUSA MÃE
VITOR MANUEL ADRIÃO
Num aprazível terreiro, plantada no ponto considerado o mais antigo de Sintra, onde se terá constituído o seu primeiro núcleo civilizacional, datável do Neolítico (cerca 4000 a.C.)à 1.ª Idade do Ferro (séculos III a IV a.C.), está a capela românica da milagrosa Santa Eufémia da Serra. O templo, como se vê, é uma restauração do século XIX, apesar de ser muito mais antigo, havendo notícias das águas virtuosas deste sítio já no século XII, na crónica do cruzado Osberno que acompanhou Afonso Henriques na conquista de Lisboa. Será muito natural, pois, que no século XIII houvesse já um santuário cristão aqui, em volta do culto à Senhora do Ó, com as águas parturienses desta, certamente na génese do seu culto aqui, ligadas às profusas águas laxativas do corpo e da alma correndo neste ermo, primitivo eremitério ou lugar de eremita, quiçá moçárabe tal qual a Orago Eufémia, motivo central das sucessivas romarias cuja popularidade, aos poucos, fez sobressair a mesma Eufémia, cuja lenda toda miraculosa se associa ao líquido elemento, e a Senhora do Ó, imagem da Deusa-Mãe primitiva, indo ficar numa posição como que de subalterna. Sendo exteriormente de planta rectangular e telhado de duas águas, o interior deste templo é de formato pentagonal, feito de conformidade à “proporção dourada”, e nos altares laterais encontra-se à esquerda a imagem da Senhora do Ó e à direita a da milagrosa Santa Eufémia. Ao centro, no topo do altar-mor feito por andares, está a imagem de São Jerónimo, o Eremita, com o leão aos pés. Tudo dos finais do século XVIII, mandado fazer pelos frades Jerónimos do convento da Penha, vulgo Pena, com as esmolas dos devotos a Santa Eufémia.Terá sido por essa altura que este santuário serrano da Deusa-Mãe primordial passou a ser conhecido pelo nome dessa santa moçárabe. Exteriormente, encravada na parede lateral esquerda da capela, encontra-se, gradeada, uma fonte cuja água, considerada milagrosa, é tida pelo povo local e arredor como curadora de todas as enfermidades corporais, «principalmente da sarna, do fígado e dos corpos chagados», segundo a sua longa inscrição historiada em azulejos, com a data de1787.Sobre isso, possivelmente os principais romeiros procurando as águas purgadoras de Santa Eufémia, a partir dos finais do século XVIII quando cessou o abastecimento das águas daí à freguesia de São Pedro, onde se encontrava o desaparecido Hospital da Misericórdia com a gafaria anexa, de que sobrevive num esconso discreto a capela de São Lázaro, seriam precisamente “lázaros”, agafados ou leprosos. Sendo assim, então estará neles a origem setecentista da fama crescente deste lugar miraculoso, o que inclusive deu azo à fundação da “Confraria dos Irmãos de Santa Eufémia”, de carácter católico e destinada à preservação patrimonial e natural deste sítio, propriedade da Igreja (cuja “Fábrica” parece andar esquecida do mesmo, pelo ar de desleixo e abandono com que ele se apresenta hoje aos seus vários visitantes e escassos romeiros…), ao cuidado da paroquial de São Pedro. Testemunho dessa Confraria quase esquecida ou ignorada presentemente, ela só não se torna «efabulação fantasista» devido à prova cabal que apresento a seguir: a fotografia rara de exemplar do colar dos confrades de Santa Eufémia da Serra de Sintra. Encostada nas costas do lado da sacristia, está do lado de fora a casa dos romeiros, assim como o cubículo conhecido por casa dos banhos, havendo no terreiro os desafectos tanques de mergulho. Tudo indica haver aqui uma inteira sagração ancestral das águas da Serra por via do culto telúrico geo-hídrico assinalado na Deusa-Mãe primordial, grávida da Natureza sempre renovada por via do líquido vital. O sentido primacial das “águas santas” e o seu culto hídrico-selenita neste lugar, inquestionavelmente foi o principal de toda esta Serra da Lua, inclusive, aqui mesmo se tendo nomeado o luminário da noite como o astro principal deste alcantilado lugar e que, por suas influências geo-hídricas influindo na maternidade, cedo foi correlacionado à velhinha Deusa-Mãe Cyntia, a cristianizada Senhora do Ó. Quis-se e fez-se, também, aqui mesmo uma reprodução bíblica da Piscina Probática de Jerusalém. Com efeito, observando o tanque dos enfermos (achacados e leprosos) neste lugar, em recinto fechado, subterrâneo, é impossível não ligar o seu formato rectangular e o sentido sagrado que lhe dão as figuras decorativas nas paredes em volta, a essa outra Piscina Probática de Jerusalém, subterrânea, por onde se entrava junto à Porta dos Rebanhos ou das Ovelhas, onde os achacados e leprosos procuravam a cura milagrosa sempre que a mão misteriosa do Anjo do Senhor agitava as águas!...Essa Piscina Probática chamava-se em hebreu Betesda, nome da “Casa da Misericórdia” que a continha cinco andares abaixo, tal qual ela era feita de cinco alpendres. Reza a tradição que essas águas eram originárias do próprio Paraíso Terrestre cujo Riobanhava Sião. Segundo narra São João (5:1-11), foi aí que o Anjo ou “Mensageiro” do Senhor não em forma volátil mas concreta, ou seja o próprio Jesus Cristo, curou o leproso que há anos esperava pacientemente que as águas se movessem. Pois sim, era milagre idêntico a esse que os achacados e “lázaros” buscavam fervorosamente na Betesda sintrã, crendo na ressurreição da saúde perdida, tomando como intercessora celeste a Senhora Mãe Primordial, a do Ó, e a sua “adjunta” Eufémia, fazendo a evocação em nome das Cinco Chagas de Cristo, que vai bem com o Sangue Real nesta Tebaida do V Império do Espírito Santo, de cujo taumatúrgico milagre é sempre o Orago, a Causa Original. Por isso, o “milagre da água santa” é sempre atribuído ao Divino Espírito Santo, que sendo a Mãe traz em seu seio virginal ao Filho, no mais sublime e primordial dos Androginismos que é o do Segundo Trono… Ave Maris Stella!Nossa Senhora do Ó no seu altar lateral na capela de Santa Eufémia de SintraPor esse processo, sendo motivo imediato a procura da cura para as doenças corporais, não esquecendo que a lepra entre os antigos era considerada mais que um mal do corpo, da alma, realizava-se entre o povo o Baptismo da Água antecedendo o do Espírito Santo, que equivalia à Iluminação ou “Fogo Divino” (Agni), de que fala São Mateus (3:11).Com isso também vai bem a Serra Sagrada de Sintra, toda Ela sob a égide do Divino Espírito Santo na figura amorável e misericordiosa da Mãe Divina…O sacramento do Baptismo (do grego baptisma, “imersão”) só tem validade após exorcizar e sacralizar a água, como a Igreja ainda faz hoje como herdeira de tradições antigas. Com efeito, os povos antigos usavam a “água santa” para purificar as suas cidades, os seus campos, os seus templos e os homens; tudo isso pratica-se ainda hoje nos países católicos romanos. As pias baptismais acham-se à porta de cada templo, cheias de água lustral, e chamavam-se favisses e aquiminaria. Antes de oferecer o sacrifício, o pontífice ou curion (cura) mergulhava um ramo de louro na água lustral para aspergir toda a piedosa congregação, o que era então chamado lustrica e aspergilium, e hoje chamado hissope ou aspersório. Este aspersório nas mãos das sacerdotisas de Mithra, era o símbolo do lingam universal, a mesma pushkara como emblemática do mesmo Espírito Santo, o Fecundador Universal. De maneira que o uso da água benta no Cristianismo, cujo reservatório ou pia tem tradicionalmente o formato de mama de Mulher Mãe, nutridora portanto, vai buscar aí a sua origem, ao Mistério do Baptismo que pertencia à Teurgia caldaica, posteriormente adoptado nos Mistérios de Eleusis, na Grécia, e integrado no mesmo Cristianismo por via dos descendentes dos sabeus, os mendaítas ou el mogtasila, como sejam os “cristãos de São João Baptista” que ainda hoje vivem nos países árabes do Médio Oriente. Voltando ao lugar serrano que aqui me traz, o caminho de acesso dos romeiros àermida está em grande parte lajeado, fazendo lembrar uma via romana, desenvolvendo-se de nascente para poente. Esta disposição era prática habitual nos castros da Época do Ferro,para dificultar o arremesso de armas do inimigo, em caso de assalto. Esse caminho passa pelas antigas cocheiras (hoje Pousada da Juventude) do Palácio Real, terminando no terreirode Santa Eufémia. As águas miraculosas que deram tamanha fama a este sítio (cuja tradição hagiográfica reza ter aparecido aqui a supracitada Santa Eufémia e feito irromper água das penhas), foram mandadas canalizar por D. Fernando II para abastecer o Palácio da Penha, aproveitando as antigas canalizações dos monges Jerónimos. Daí poder deduzir-se que as águas de que se serviam os membros da Família Real eram santas, purificadoras ou purgadoras dos males do corpo e da alma...As 3 portas sinaléticas da S. S. Trindade sendo que a da direita é a que dá acesso à piscina probática, “besteda”, dos agafados de Santa Eufémia da Serra de Sintra As “mães d’água” atravessando a Mata do Tomado (tendo gravadas a coroa real de cinco pontas e a primeira e última letras de “Fernando”), são provas disso. Ademais, tudo leva a crer que D. Fernando II de Saxe-Coburgo Gotha mandou reedificar a ermida perto do quartel final do século XIX, conforme atesta uma pequena lápide por cima da porta de entrada principal no templo, com os seguintes dizeres dispostos em triângulo invertido, simbólico da mesma Mãe Nutridora: Santa Eufémia, tal como São Jerónimo, seguiu a via da Iniciação Martirial. Santa portuguesa, natural de Braga e filha de pais árabes, estou em crer que o seu culto sintrense remonte ao período Moçárabe que, por sua vez, terá prosseguido o antiquíssimo Matriártico-Lunar processado aí desde a mais profunda noite dos tempos. Reza a Tradição que neste lugar havia um templo de sacerdotisas adoradoras da Deusa-Mãe Cyntia na forma astroláticada Lua, sobre o qual os greco-romanos levantariam milénios depois um outro templo possivelmente consagrado a Hécate, a deusa dos Infernos, “Inferiores ou Interiores Lugares”. A verdade é que as ruínas de tal templo são vistas numa gravura a carvão do século XIX, assim como nas pedras talhadas que cerceiam a ermida e mesmo no seu interior, na sacristia, onde foram depostos dois fustes de mármore com 42 cm de diâmetro, HUM DEVOTO ESTRANGEIRO MANDOU RE-EDIFICAR ESTA CAPELLA EM 1876.possivelmente por iniciativa de D. Fernando II (na época dos restauros do imóvel). Além disso, descobrem-se petróglifos em vários penedos em volta do terreiro da capela, tendo verificado num o curioso de um triângulo gravado na penha apontando na direcção do Cruzeiro de Santa Eufémia. Causalidades ancestrais na casualidade actual!... Verdade, também, é que uma enorme galeria subterrânea (hoje obstruída) passa por debaixo da capela… São, afinal, resquícios misteriosos recuando à perdida e lendária Atlântida, deparceria com a misteriosa e nebulosa Agharta!...Resto de fuste greco-romano na sacristia da ermida de Santa Eufémia Desse culto arcaico aqui realizado, a sua memória subjaz também no próprio nome Eufémia, ou seja, o grego Eu, “boa, em medida, perfeita”, associado à corruptela filológica Fêmia, “fêmea, mulher”, portanto, a “Boa ou Perfeita Fêmea”, a “Boa ou Perfeita Mãe”, comisso associando-se a uma daquelas nephil (plural, nefilim) de que fala a Bíblia. O termo hebraico nephil procede da dicção assírio-caldaica nab-ilu, à letra, a “deusa” (ilu) das“águas” (nabi). Esta é a Senhora do Ó, a primeira da Hipertúlia iniciada com São Lucas, a que foi associada a hagiografia iconográfica de Santa Eufémia.O Santoral cristão narra que Eufémia era uma nobre e que, quando foi presa com outros cristãos, salvou-se milagrosamente de todos os suplícios que lhe impuseram: a tentativa de violá-la foi detida após o agressor ser acometido de impotência súbita (alusão à virgindade incorruptível e intocável da Virgem consagrada ao Templo); quando a quiseram queimar, um anjo elevou-a acima das chamas; seguidamente, um algoz tentou subir até à altura em que levitava e acabou por cair, partindo a coluna vertebral. Depois quiseram lançá-la sobre umas penhas, mas estas converteram-se em água. Só ficava a possibilidade de atirá-la às feras, e colocaram-na num poço com três ursos; porém, ao invés de atacá-la eles formaram com o seu dorso uma espécie de trono para que ela pudesse se sentar. Vendo isso, o verdugo tomou da espada e trespassou o coração da santa, matando-a de vez. Porém, de imediato as feras saíram do poço e devoraram-no completamente, desfechando assim a saga martirial de Santa Eufémia. Hoje ela é homenageada pela Igreja a 16 de Setembro (Arcano “A Torre”, por«casualidade» sucedendo um dia após o nascimento do maior Adepto luso-brasileiro que o século XX já conheceu: Henrique José de Souza, nascido em São Salvador da Bahia em 15de Setembro de 1883). Mas devo falar um pouco do significado esotérico dos atributos desta Santa, agora homenageada.Santa Eufémia da Serra de Sintra O urso, guardião de Eufémia, foi o sinal dos que detinham o Poder Temporal numa Sociedade Sinárquica, do mesmo modo que o javali o foi dos que assumiam a AutoridadeEspiritual nessa mesma Sociedade, sendo exemplo notório a Celta. O urso veio a ser, neste contexto, o encarregado de fazer valer essa Autoridade e de obrigar a respeitá-la. A roda, ainda que não apareça na imagem de Santa Eufémia da Serra, é outro atributo seu. A roda é o símbolo do Universo e dos seus ciclos, signo fundamental nas Iniciações transcendentes onde ciência e devoção se unem numa só Sabedoria Primordial. Além do seu suposto significado martirial, quem possuir a roda terá superado os limites da Iniciação e se integrado num universo de saberes que permanecem proibidos e secretos aos demais. O livro fechado na sinistra de Santa Eufémia da Serra. Há que discernir entre os livros abertos e os que aparecem fechados nas mãos dos seus santos portadores, pois os primeiros são mostra dum ensinamento que esses mesmos repartiram e os segundos sinal dum conhecimento secreto que, ocasionalmente, se pode aperceber nos escritos do santo ou, inclusive, na aventura da sua vida. Esta imagem - muito mais recente que a da Senhora do Ó – da Santa Moura exposta na ermida singela é, a meu ver, de uma beleza sensível e de uma finura de traços que quase lhe dão humanidade. Vestida de túnica branca (cor da Lua, da Mãe e da Pureza virginal), tem sobre esta uma capa vermelha descendo abaixo dos joelhos, sendo amarela por dentro.Significa o Poder Temporal (vermelho) “escudando” e garantindo a Autoridade Espiritual (amarela), esta o Sol predominando sobre a Lua, tanto valendo por Jerónimo – no topo noaltar central, com o leão solar aos pés – sobre Eufémia... a Boa Mãe, cujas águas remissoras de seu ventre a todos nutre. Tal é, afinal, a mensagem muda de Santa Eufémia da Serra de Sintra em sua universalidade interiorizada, secreta, e todavia acessível a quantos queiram trilhar os passos da Verdadeira Iniciação. Inscrição na fonte miraculosa, ilustrada com azulejos, de Santa Eufémia: O citado Catélio ou Catílio, esposo de Cálcia, foi cônsul em Roma pelo ano 120 d.C.,sendo natural de Braga, e depois governador ou régulo da Lusitânia e da Galiza, com residência em Baiona, perto de Tui, segundo o cronicão de Julião Peres, arcipreste de Toledo. Em Braga, ainda há poucos anos se acreditava que o palácio de Catélio era no sítio onde se ergueu a casa pertencente à ilustre família Brandão Pereira, perto do cruzeiro da Praça do Conde de S. Joaquim, segundo Albano Bellino (vd. bibliografia final). O cronicão de Julião Peres diz que a esposa desse nobilíssimo régulo, Cálcia, teve nove gémeas dum só parto: Eufémia, Quitéria, Basilisa, Marinha, Germana, Márcia, Genivera, Vitória e Liberata. Representam, tão-só, o ciclo lunar de germinação que se prolonga por nove meses, pois que é naturalmente impossível uma mulher dar à luz nove crianças dum só parto, pelo que se deve interpretar a descrição como simbólica. De maneira que tem a ver com a faceta astrolática deste espaço centralizado em Eufémia antropomorfizando à própria Lua a qual, como Cyntia ou Chaitânia, igualmente indica aqui aexistência de Embocadura para o Mundo Subterrâneo de Sintra!...Gruta de Santa Eufémia de SintraEste é o lugar aonde apareceu a milagrosa Santa Eufémia da Serra de Cintra filha de um Rei bárbaro ou gentio filho da Cidade de Braga chamado Cathelio ou Tacio Caio de Philon. Sua Mãe também gentia chamada Calcia que a teve e a oito Irmãs todas de um parto e todas foram mártires por mandado de seu Pai no Segundo Século de Jesus Cristo em 125, a qual Santa é advogada de todas as enfermidades do corpo e principalmente da Sarna e do fígado e corpos chagados que tudo Cura. Com a água da Sua fonte que assim o dizemos os que tomam os banhos no Seu tanque. Esta pegada que se vê nesta pedra, dizem que fora onde a milagrosa Santa pusera os pés quando apareceu. Ano de 1787.Quanto ao simbolismo das “marcas de pés” sobre os rochedos, que se encontra um pouco em todas as tradições, geralmente não deixam de ser covas feitas por povos pré-históricos destinadas a cultos votivos à Deusa-Mãe, cultos votivos esses de fecundidade ligados à terra e à água, mesmo sendo a «pegadinha» desta fonte eventual «fossete», como Paulo Pereira a considera acertadamente.Obedecendo o Povo em seu inconsciente colectivo aos princípios inalteráveis e sacrais da Tradição das Idades, em seu crencismo simples pelo qual confunde ou mistura a doutrina da religião vigente ou “oficial” com as tradições pagãs ou campesinas (dando origem à chamada religião popular), acaba transformando essas marcas votivas dum culto ancestral geo-telúrico nas dum não menos telúrico culto petitivo assente sobre os«pezinhos» de alguma Matrona ou da própria Nossa Senhora!... Dum modo geral e recorrendo à Tradição, essas marcas representam o “sinal” dos Estados Superiores no nosso Mundo, por influência directa do Espiritual (Princípio Masculino) no Material (PrincípioFeminino), por os extremos se identificarem ou, se se quiser, acasalarem. Isto leva-me ao considerando dos Iniciados islâmicos a respeito do Homem Superior, exposto por René Guénon:«Se ele caminha sobre a areia, não deixa nenhum sinal; se ele caminha sobre o rochedo, os seus pés deixam a sua marca. Se ele estiver ao sol, não projecta sombra; na escuridão, uma luz emana dele.»Realmente este é um Lugar Graalístico por excelência, atendendo à triplicidade do Santo Graal como TAÇA – LIVRO – PEDRA ou ARA. Para o primeiro aspecto está o Castelo do Mouros, para o segundo o Palácio da Pena, e para o terceiro este mesmo espaço da Ermidade Santa Eufémia, em inteira consonância às Três Pessoas da Santíssima Trindade: PAI –FILHO – ESPIRITO SANTO na MÃE. De maneira que dos 7 Planetas tradicionais (Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus, Saturno), cada um influindo em determinada área jina da Serra, é exactamente a LUA que auspicia este lugar de Santa Eufémia, com a sua Embocadura de SINLAL (em aghartino) sob a regência do deus SAMUS – Abraxis, Gabriel… –, sendo quem entoa o 2.ºAtributo do Odissonai (“Ode ao Som”, Cântico dos Cânticos) – O NOME DE DEUS. Agindo em conformidade a esses cânones sagrados, como homenagem suprema à Excelsa Mãe Divina, “Olhos do Céu” sorrindo para a Terra, a ORDEM DO SANTO GRAAL levou a efeito num domingo, dia do Sol mas a 13 (“A Grande Mãe”, segundo o Tarot Sacerdotal),portentoso Ritual de cariz Andrógino dentro deste mesmo Templo de Misericórdia como novel Betesda do Grande Ocidente, de maneira a juntar às palavras os actos sacramentais. Flagrante de Ritual da Ordem do Santo Graal, na Ermida de Santa Eufémia de SintraAssim como iniciou esse Ritual agora feche este estudo a Evocação à Excelsa Mãe Divina ALLAMIRAH:– Salve Excelsa Allamirah, Digna Esposa Divina e Irmã Espiritual do Grande Senhor Akbel! Glória a Portugal, o Porto do Graal, cujo Pico é a Serra Sagrada desta Sintra mesma onde vos manifestastes, com o vosso Excelso Consorte, por Jesus e Maria, no bendito ano de1800! Glória, também, ao Brasil, onde crepitam as prodigiosas brasas de Agni, o Fogo Sagrado! Exaltadas sejam todas as Chamas que se erguem dos Corpos daqueles que, realmente, procuram identificar-se ao Cristo Universal, pela União dos Fogos da Terra e do Céu, Fohat e Kundalini, para eu de Manhã de Nevoeiro urja o Encoberto Arabel, Al-Djabal, o Sol da Nova Aurora! O Hálito Divino soprando o Fogo que a Vida alimenta! Que Eu e cada Irmão e Irmã, Filho e Filha desta Grande Obra Divina transformemos, enfim, o nosso Tríplice Corpo, Alma e Espírito num Templo digno de conter o Mestre Supremo. BIJAM OBRAS CONSULTADAS Vítor Manuel Adrião, Capela românica de Santa Eufémia da Serra – Culto da Deusa-Mãe.Reportagem no jornal “A Pena”, semanário regional do Concelho de Sintra, 27 de Março de 1997.Vítor Manuel Adrião, Sintra, Serra Sagrada (Capital Espiritual da Europa). Edição Dinapress,Lisboa, 1.ª edição Abril de 2007.Paulo Pereira, Lugares Mágicos de Portugal (Montes Sagrados, Altos Lugares e Santuários), vol.VI. Edição “Círculo de Leitores”, Rio de Mouro, Abril de 2005.Gustavo Marques, Povoado de Santa Eufémia. In Sintria I-II, Sintra, 1982-1983.Félix Alves Pereira, Sintra no Pretérito. Sintra, 1957.José Cardim Ribeiro, Contributos para o conhecimento de cultos e devoções de cariz aquático relativos ao território do Município Olisiponense. Lisboa, 1983.Albano Bellino, Archeologia Christã, pág. 273. Lisboa, 1900.P. Miguel de Oliveira, Lenda e História (Estudos Hagiográficos). União Gráfica, Lisboa, 1964.Juan Garcia Atienza, Santoral Diabólico. Ediciones Martínez Roca, Barcelona, 1988.René Guénon, Initiation et Réalisation Spirituelle. Éditions Traditionnelles, Paris.J. M. Ragon, La Misa y sus Misterios. Muñoz Moya y Montraveta editores, sa, Sevilha, 1.ª ediçãoOutubro de 1989.H. P. Blavatsky, As origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria. Editora Pensamento, São Paulo,1972.Helena P. Blavatsky, Glossário Teosófico. Editora Ground Ltda, São Paulo.

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