terça-feira, março 30, 2010

Onde estou?

Onde estou?

Raman costumava dar uma técnica aos seus discípulos: eles deviam apenas perguntar: “Quem sou eu?”. No Tibet eles usam uma técnica similar, mas bem melhor que a de Raman. Eles não perguntam “Quem sou eu?”. Eles perguntam “Onde estou?” — porque o quem pode criar um problema.

Quando você pergunta “Quem sou eu?” você toma como certo que você é; o único problema é saber quem você é. Você tem o pressuposto que você é. Agora a única questão é quem você é. Só a identidade deve ser conhecida, a face deve ser reconhecida, mas está lá — está lá não reconhecida.

O método tibetano é bem mais profundo. Eles dizem para ser silencioso e então buscar dentro onde você está. Penetre no espaço interior, mova-se para cada ponto e pergunte: “Onde estou?”. Você não irá encontrar em lugar nenhum. E quanto mais você procura, mais isso não estará lá.

E perguntar “Quem sou eu?” ou “Onde estou” leva a um momento em que você chega a um ponto onde você é, mas sem nenhum eu — uma simples existência acontece a você. Mas isso só irá acontecer quando pensamentos não forem seus. Essa é uma esfera mais profunda — “eu sou”.

Nunca sentimos isso. Continuamos dizendo eu. A palavra é continuamente usada — a palavra mais usada é eu — mas você não tem nenhuma percepção. O que quero dizer com eu? Quando você diz eu, o que você quer dizer? O que está implicado nessa palavra? O que está expresso?

Eu posso fazer um gesto. Então posso dizer: “Quero dizer isso”. Posso mostrar meu corpo — “Quero dizer isso”. Mas então pode ser perguntado: “Você quer dizer sua mão? Sua perna? Seu estômago?”. Então eu terei que negar, terei que dizer não. Assim todo o corpo será negado.

Então o que você quer dizer quando diz eu? Você está se referindo à sua cabeça? Bem fundo, sempre quando você diz eu, isso é um sentimento muito vago, e esse sentimento vago procede de seus pensamentos.

Estabelecido no sentir, eliminados os pensamentos, encare o eu sou, e quando você o encara, você descobre que isso não existe. Era somente uma palavra útil, um símbolo lingüístico — necessário, mas não real.

Mesmo um Buda precisa usá-lo, mesmo após sua iluminação. É apenas um recurso linguístico. Mas quando um Buda diz eu, ele nunca quer dizer eu, porque não há ninguém.

Quando você encara esse “eu sou” ele desaparece. O medo pode agarrá-lo nesse momento, você pode ficar assustado. E isso ocorre a muitos que se movem tão profundamente em tais técnicas que ficam tão assustados que correm dela.

Então se lembre disso: quando você sente e enfrenta seu “eu sou” você estará na mesma situação de quando você morre — a mesma. Porque o eu está desaparecendo, você irá sentir que a morte está acontecendo a você. Você terá uma sensação de afundar, você irá sentir que você está afundando cada vez mais.

E se você ficar com medo, você emergirá novamente e irá se apegar a pensamentos porque esses pensamentos serão de ajuda. Essas nuvens estarão aí: você pode apegar-se a elas e assim o medo lhe deixará.

Lembre-se: esse medo é muito bom, um sinal de esperança. Isso mostra que agora você está indo fundo — e a morte é o ponto mais profundo. Se você puder penetrar na morte você se tornará imortal porque aquele que penetra na morte não pode morrer.

Assim a morte também está apenas ao redor; nunca no centro, só na periferia. Quando “eu sou” desaparece você é exatamente como a morte. O velho não é mais e o novo veio a existir.

Essa consciência que surgirá é absolutamente nova, não contaminada, jovem, virgem. O velho não é mais — e o velho nem mesmo a tocou. Esse “eu sou” desaparece e você está na sua virgindade pura, no seu absoluto frescor. A camada mais profunda do ser foi tocada.
Osho, em "The Book of Secrets

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