Superação da paralisia corporal por meio da imaginação consciente
Cleber Monteiro Muniz
Há casos em que o corpo físico apresenta uma paralisia quando nos deitamos para dormir ou durante o relaxamento profundo. É um fenómeno que pode ser induzido voluntariamente mas que também ocorre espontaneamente com pessoas que nunca ouviram falar em adentrar conscientemente ao sono. Nesse último caso, a paralisia é motivo de medo e angústia.
Por desconhecer a natureza do fenómeno experimentado, o não-iniciado em experiências oníricas conscientes tece julgamentos equivocados sobre a paralisia do sono. Supõe que está morrendo, que está enlouquecendo, que está doente ou, se for supersticioso, pode acreditar que está sendo vítima de uma entidade demoníaca ou que isso é um sinal maléfico indicador de mau-presságio, etc. A falsa sensação de sufocamento ou asfixia que acompanha a imobilidade corporal contribui ainda mais para intensificar o terror.
O medo é injustificado. A fase de imobilidade corresponde à etapa de transição entre a vigília e o sono. É uma catalepsia leve, temporária, natural e inofensiva que corresponde ao primeiro umbral para a dimensão interior desconhecida, um crepúsculo entre a luz e a sombra, como disse Don Juan:
"O crepúsculo é a fresta entre os mundos" (apud Castaneda, p. 93)
A etapa crepuscular da viagem da consciência ao inconsciente nos presenteia com a oportunidade de carregarmos a lucidez vígil para dentro do mundo onírico.
Uma dificuldade do iniciante é ultrapassar a paralisia. Preso à cama, o aspirante fica um bom tempo estancado: não prossegue a viagem e não retorna. A solução encontrada por alguns é abandonar a prática e entregar-se ao sonho usual ou se desesperar para retornar ao mundo vígil.
Por meio da concentração e da imaginação podemos superar essa etapa e prosseguir o trabalho.
Se construirmos, por meio da concentração, uma cena mental em plena letargia e imobilidade do corpo e a vivenciarmos como vivenciaríamos uma cena deste mundo, porém sem perder a recordação de que pertence a uma realidade psíquica e paralela, penetramos conscientemente no mundo interno. A cena construída se transforma em cena onírica enquanto o corpo adormece mais e mais profundamente. Prosseguindo, chegaremos à fase em que a cena não é mais a que criamos voluntariamente. A partir de então as cenas são numinosas, nítidas, densas e se processam e se moldam por si mesmas.
A estratégia para transcender a fase da paralisia é, portanto, simplesmente imaginar um sonho e vivê-lo como tal lucidamente, aguardando os resultados.
O que os desconhecedores da experiência onírica consciente consideram um problema terrível é uma bênção para os aspirantes à mesma, uma oportunidade valiosa e desejável. Alguns anseiam tanto por ela que a afugentam.
A paralisia é natural pois, ao adormecer, o corpo precisa ser desactivado. Todas as funções ficam muito reduzidas. Os movimentos são desacelerados, inclusive os diafragmáticos, cuja redução proporciona a falsa sensação de asfixia. Os únicos movimentos que conservam desenvoltura semelhante à vígil são os das pálpebras. Sob alguns aspectos, o sono é semelhante a um estado de quase-morte. É a inofensiva simulação de um coma que pode ser aproveitada para que nos acostumemos a abandonar o corpo temporariamente, ou seja, esquecer que ele existe e nos concentrarmos mais no universo imaginal. Uma vez bem guardado e seguro, o corpo pode perfeitamente ser deixado de lado sem nenhum problema. Não há nisso nada de místico ou perigoso. O que há de místico em diminuir os movimentos de braços, pernas ou cabeça no sono? É uma função humana natural. Todos sabem que o corpo diminui os movimentos ao dormir. Entretanto, nem todos presenciam conscientemente a diminuição em si próprios.
Quando a letargia penetra no campo de consciência de quem está adormecendo, é percebida como incapacidade de movimentos. Aquele que se percebe paralisado na cama, transportou a consciência vígil a um nível de adormecimento corporal mais profundo do que o usual. Pode, a partir daí, experimentar conscientemente a vida no mundo no mundo dos sonhos e até mesmo atingir lucidamente um nível transpessoal, sendo e sentindo-se temporariamente parte da natureza (rio, águia, rocha, lobo, árvore...) ou vivenciando o papel de heróis míticos ou entes arquetípicos.
Referência bibliográfica:
• CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo: as experiências indígenas com plantas alucinógenas reveladas por Don Juan. (The Teachings of Don Juan, 1968). Trad. de Luzia Machado da Costa. 12a edição. Record.
Cleber Monteiro Muniz
Há casos em que o corpo físico apresenta uma paralisia quando nos deitamos para dormir ou durante o relaxamento profundo. É um fenómeno que pode ser induzido voluntariamente mas que também ocorre espontaneamente com pessoas que nunca ouviram falar em adentrar conscientemente ao sono. Nesse último caso, a paralisia é motivo de medo e angústia.
Por desconhecer a natureza do fenómeno experimentado, o não-iniciado em experiências oníricas conscientes tece julgamentos equivocados sobre a paralisia do sono. Supõe que está morrendo, que está enlouquecendo, que está doente ou, se for supersticioso, pode acreditar que está sendo vítima de uma entidade demoníaca ou que isso é um sinal maléfico indicador de mau-presságio, etc. A falsa sensação de sufocamento ou asfixia que acompanha a imobilidade corporal contribui ainda mais para intensificar o terror.
O medo é injustificado. A fase de imobilidade corresponde à etapa de transição entre a vigília e o sono. É uma catalepsia leve, temporária, natural e inofensiva que corresponde ao primeiro umbral para a dimensão interior desconhecida, um crepúsculo entre a luz e a sombra, como disse Don Juan:
"O crepúsculo é a fresta entre os mundos" (apud Castaneda, p. 93)
A etapa crepuscular da viagem da consciência ao inconsciente nos presenteia com a oportunidade de carregarmos a lucidez vígil para dentro do mundo onírico.
Uma dificuldade do iniciante é ultrapassar a paralisia. Preso à cama, o aspirante fica um bom tempo estancado: não prossegue a viagem e não retorna. A solução encontrada por alguns é abandonar a prática e entregar-se ao sonho usual ou se desesperar para retornar ao mundo vígil.
Por meio da concentração e da imaginação podemos superar essa etapa e prosseguir o trabalho.
Se construirmos, por meio da concentração, uma cena mental em plena letargia e imobilidade do corpo e a vivenciarmos como vivenciaríamos uma cena deste mundo, porém sem perder a recordação de que pertence a uma realidade psíquica e paralela, penetramos conscientemente no mundo interno. A cena construída se transforma em cena onírica enquanto o corpo adormece mais e mais profundamente. Prosseguindo, chegaremos à fase em que a cena não é mais a que criamos voluntariamente. A partir de então as cenas são numinosas, nítidas, densas e se processam e se moldam por si mesmas.
A estratégia para transcender a fase da paralisia é, portanto, simplesmente imaginar um sonho e vivê-lo como tal lucidamente, aguardando os resultados.
O que os desconhecedores da experiência onírica consciente consideram um problema terrível é uma bênção para os aspirantes à mesma, uma oportunidade valiosa e desejável. Alguns anseiam tanto por ela que a afugentam.
A paralisia é natural pois, ao adormecer, o corpo precisa ser desactivado. Todas as funções ficam muito reduzidas. Os movimentos são desacelerados, inclusive os diafragmáticos, cuja redução proporciona a falsa sensação de asfixia. Os únicos movimentos que conservam desenvoltura semelhante à vígil são os das pálpebras. Sob alguns aspectos, o sono é semelhante a um estado de quase-morte. É a inofensiva simulação de um coma que pode ser aproveitada para que nos acostumemos a abandonar o corpo temporariamente, ou seja, esquecer que ele existe e nos concentrarmos mais no universo imaginal. Uma vez bem guardado e seguro, o corpo pode perfeitamente ser deixado de lado sem nenhum problema. Não há nisso nada de místico ou perigoso. O que há de místico em diminuir os movimentos de braços, pernas ou cabeça no sono? É uma função humana natural. Todos sabem que o corpo diminui os movimentos ao dormir. Entretanto, nem todos presenciam conscientemente a diminuição em si próprios.
Quando a letargia penetra no campo de consciência de quem está adormecendo, é percebida como incapacidade de movimentos. Aquele que se percebe paralisado na cama, transportou a consciência vígil a um nível de adormecimento corporal mais profundo do que o usual. Pode, a partir daí, experimentar conscientemente a vida no mundo no mundo dos sonhos e até mesmo atingir lucidamente um nível transpessoal, sendo e sentindo-se temporariamente parte da natureza (rio, águia, rocha, lobo, árvore...) ou vivenciando o papel de heróis míticos ou entes arquetípicos.
Referência bibliográfica:
• CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo: as experiências indígenas com plantas alucinógenas reveladas por Don Juan. (The Teachings of Don Juan, 1968). Trad. de Luzia Machado da Costa. 12a edição. Record.
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