sábado, junho 18, 2011

O TEMPO


O TEMPO
 

O tempo não é um assunto que Bardon discutiu na seção de “Teoria” de CVA. Mesmo assim, eu penso que é de tal importância ao estudante da magia que eu decidi dizer algumas coisas sobre ele aqui.

É difícil separar a realidade objetiva do tempo de nossa percepção subjetiva e humana dele. Ambas são de importância para o mago.

Como seres humanos materiais, vivenciamos o tempo como uma coisa que se alarga para trás e à frente de nós. Para nós, o tempo ou parece se mover à frente, ou nós parecemos nos mover adiante através do tempo. De qualquer uma das duas maneiras, percebemos o tempo como tendo um movimento de avanço.

Para manter registro desse avanço, construímos métodos elaborados de medição da passagem do tempo. Dividimos o tempo em segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos etc.

No momento em que estou escrevendo isto, são 13:10, Pacific Standard Time, no dia 3 de março de 2001. Esse fato tem relevância para a minha existência mundana porque me ajuda a me colocar em contexto quanto a minha rotina, mas, como um mago, ele tem pouca relevância pra mim.

Na magia, existe apenas um aspecto do tempo que tem verdadeira relevância, e esse é o momento presente ou o agora. As exceções a isso são quando o mago precisa separar uma duração para certo ato mágico (como quando se mantém uma cura mágica efetiva até um paciente estiver bem) ou quando se alinha certo ritual com eventos astrológicos favoráveis etc.

A essência do tempo é a mudança sequencial. O número de mudanças que ocorrem dentro de cada momento é, verdadeiramente, infinito. Não existe estase – não existe um momento em que as mudanças cessam e tudo permanece o mesmo. Esse é o ponto crucial do que diferencia a nossa percepção subjetiva do tempo da realidade objetiva do tempo.

Como seres humanos materiais, não somos capazes de percebermos o número infinito de mudanças que ocorre a cada momento. Tudo que podemos fazer é nos apercebermos de uma pequena quantidade de mudanças em um momento. Os mecanismos da percepção humana são tais que tiramos o equivalente a uma fotografia do momento presente – alterando-a para uma figura estática, imutável dos eventos – e então decodificamos a sua significância para nós. Isso acontece muito rapidamente e desenvolvemos uma cadeia dessas imagens de ação imóvel, e desse processo obtemos a impressão de movimento para frente similar àquele derivado quando assistimos a um filme feito de 24 imagens estáticas por segundo.

Isso tem o efeito de colocar-nos sempre ligeiramente fora da sincronia temporal e emocional com o tempo real ou tempo objetivo. No tempo objetivo, existe apenas uma parte – o momento presente ou o agora. Objetivamente, o Agora é eterno e num estado de mudanças que nunca cessa. Ele não tem movimento – ele apenas É.

O presente momento tem três componentes: 1) Mudança Infinita, 2) Continuidade Infinita. Isso é o que torna um momento tão similar ao que precede e ao que o segue. 3) “Agorismo”. Essa é a sensação de imediatismo inerente à nossa experiência do momento presente.

Processado pelo cérebro humano, o momento presente infinito é percebido como uma sequência de momentos finitos. Dessa forma sentimos que não existem momentos passados, momentos presentes e momentos futuros. Mas o mago deveria compreender claramente que, no nível físico de nossa existência, o passado é apenas uma função da memória, e o futuro é apenas uma função de nossa imaginação criativa. Nem o passado nem o futuro podem ser atribuídos como existentes presentemente.

Em aparente contradição a isso, falamos de uma eternidade que engloba o todo da passagem do tempo e nos preocupamos com minúcias sobre se temos ou não livre arbítrio. Digo para você que não existe contradição, ou melhor, as contradições coexistem de modo bastante confortável. Enquanto o presente momento é tudo que verdadeiramente existe dentro do reino físico, onde o tempo se envolve tão intimamente com o espaço, nas partes mais efêmeras do reino não físico, onde reina a eternidade, todo o tempo (passado, presente e futuro, igualmente) existe simultaneamente e inteiramente.

O tempo é multidimensionalmente infinito. Quando se vivencia a eternidade, a inteira infinidade multidimensional do tempo é percebida como um Agora unificado. Dessa perspectiva, o problema do livre arbítrio é irrelevante devido ao fato de que a infinidade implica a existência de opções suficientes para acomodarem o número infinito de cursos disponíveis que se podem escolher. Em outras palavras, é necessário o livre arbítrio para criar e seguir o número infinito de escolhas que preenchem a eternidade. Do ponto de vista mágico, essa é a verdade essencial por trás de muitas das teorias dos físicos sobre a ideia de que existe um número infinito de universos seguindo um número infinito de linhas temporais. A eternidade não é preenchida com possibilidade infinita; em vez disso, é preenchida com infinita realidade. Em outras palavras, todas as possibilidades são realizadas – se elas não o fossem, então a eternidade não seria verdadeiramente infinita.

O que nos impede de constantemente percebermos a eternidade através de nossa consciência normal é o fato de que, como seres humanos, somos intimamente presos à sequência. Em todos os aspectos, uma coisa se segue à outra. Uma ideia leva a outra, um efeito acompanha uma ação etc. Perceber a eternidade (ou qualquer infinidade em seu inteiro, no que diz a seu respeito) requer que se remova o seu ser para uma perspectiva não sequencial. Essa perspectiva é tão estranha à nossa existência do dia-a-dia que raramente consideramos as suas implicações, o que se diga de sua possibilidade.

O reino material é governado pelo espaço e pelo tempo. Devo dizer, porém, que é difícil separar o espaço do tempo, porque, sem o fator do tempo, o espaço não existiria.

O reino astral é a mediação entre o reino físico densamente sequencial e o aspecto não sequencial do reino mental. Dessa maneira, o reino astral não é completamente preso à substância, e, por essa razão, diz-se que o espaço não impera no astral. Isso é apenas parcialmente verdadeiro. Para o mago, isso é especialmente verdadeiro ao que se diz respeito à viagem astral e à comunicação astral com outros seres. Em outras palavras, o mago bem treinado pode viajar para qualquer espaço físico através do reino astral e comunicar-se com outro ser, não importando de onde, espacialmente, ele possa residir. O tempo (isto é, a sequência), porém, mantém rédeas curtas sobre o reino astral e, para se verdadeiramente viajar pelo tempo, o mago deve trabalhar dentro do reino mental.

O reino mental engloba não só o reino da sequência (o tempo) e o reino não sequencial (eternidade). Dentro dos alcances mais elevados do reino mental, não existe sequência e é como se pisasse fora do tempo, e se visse coisas de uma perspectiva eterna. Nos níveis inferiores do reino mental (aqueles de pensamento sequencial e de matéria física) o tempo é um fator. Apenas no nível em que o reino mental apresenta uma interseção com o reino físico o espaço se torna um fator, mas essa é uma pequena parte do reino mental geral e, dessa forma, podemos dizer que nem o tempo nem o espaço restringe a substância mental.

O estudante da magia se beneficiará muito ao analisar a natureza da percepção humana e do próprio tempo. Meditações frequentes sobre esse assunto, experimentação e leitura da literatura disponível melhorarão a compreensão do estudante.

E não se preocupe, existe muito tempo à frente...

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