Introdução à Cabala Prática
A Cabala, que soletrada em hebraico é QBLH, deriva da
raiz Qibel e significa "receber". Dizem os estudiosos que este
significado vem do fato de que, teoricamente, a Cabala deveria ser um
Conhecimento transmitido oralmente ("de boca a ouvido").
Sua origem é incerta, já tendo sido associada aos judeus e
até mesmo ao Egito. No entanto, o intuito deste pequeno ensaio é apenas o de
esboçar superficialmente o conteúdo usado ocidentalmente no que seria a Cabala
Prática, que pode ser dividida em:
Gematria - baseia-se nos relativos valores numéricos
das letras. Assim, palavras com o mesmo valor numérico se explicam mutuamente.
Notaricon ou Notariqon - subdivide-se em duas formas:
1) cada letra de uma palavra torna-se inicial de uma outra palavra - ex.: o
título BRAShTh (a primeira palavra do Gênesis) constituirá outras diversas
palavras ou frases, formando BRAShITh RAH ALHIM ShIQBLV IShRAL ThVRH = Berashit
Rahi Elohim Sheyequebelo Israel Torah = "No princípio Os Elohim disseram
que Israel aceitaria a Lei" -; 2) exatamente o reverso da primeira, i.e.,
pelas letras finais ou iniciais de uma sentença, forma-se uma palavra ou
palavras - ex.: a frase ChKMh NSThRh = Chokmah Nesethrah = "Sabedoria
Secreta (Cabala)"; e se tomarmos as iniciais destas duas palavras, Ch e N,
formamos ChN = "Graça".
Temurá - Significa "permutação". De acordo
com certas regras, uma letra é substituída por outra a precedendo ou seguindo-a
no alfabeto. Uma destas regras chama-se Albath. Exemplo:
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
K I Ch Z V H D G B A
M N O P Tz Q R Sh Th L
Assim, da palavra Albath, que da para RUACH, formaremos
DTzO.
Além disto existe um artifício muito usado chamado de
Redução Teosófica, que consiste basicamente em reduzir um número composto
qualquer a um único número. Por exemplo: usando a gematria, notamos que o valor
da palavra Qabala (QBLH) é 137. Com a redução fica 1 + 3 + 7 = 11 = 1 + 1 = 2.
OTZ CHIIM - A Árvore da Vida
Toda tradição oculta emprega certos diagramas e esquemas
pictóricos no treino de seus membros. A tradição ocidental é uma composição que
abarca "mistérios" egípcios, gregos, caldeus e judaicos, possuindo,
portanto, uma grande quantidade de "mandalas", como se diz na
terminologia oriental.
Mas o "Mandala por excelência" é aquele que
conhecemos pelo nome de Árvore da Vida (Otz Chiim em hebraico), originário dos
centros esotéricos caldeus e hebraicos. Ela tem sido referida como o mais
poderoso grifo do universo e da alma do homem, e esta é uma descrição dela.
A Árvore da Vida também é comparada com a Pedra de Rosetta,
pois no capacita a traduzir linguagens previamente desconhecidas em uma outra
inteligível.
Mas o que representava esta Pedra? A Pedra de Rosetta
continha um decreto escrito em três línguas diferentes, uma das quais era o
Hieróglifo (que na época que os oficiais de Napoleão a encontraram, ainda era
uma língua desconhecida), além do Cópta e do Grego.
Decifrando as inscrições contidas na Pedra, notou-se que se
tratava de um mesmo texto escrito em três idiomas diferentes, tornando possível
a tradução dos hieróglifos, ou pelo menos uma pequena parte deles (aquela
contida na Pedra).
O mesmo acontece com a Árvore da Vida; uma vez
encontrando-se os significados dos nomes hebraicos sobre ela, poderemos
substituí-los por qualquer outro sistema filosófico e nos tornaremos aptos a
ver seu funcionamento.
É necessário, entretanto, compreender que a Árvore da Vida
não é um mapa da Alma do Homem ou do Universo desconhecido no qual ele vive,
mas sim um diagrama das mútuas relações entre as subjacentes "forças"
de ambos. Juntamente com a Árvore, nós herdamos um vasto corpo de filosofias
que formaram a base da magia medieval.
Neste estudo, A Árvore da Vida é um maravilhoso diagrama de
forças; não de coisas. Se considerarmos o universo no qual vivemos e considerarmos
a natureza de nosso próprio contato imediato com Ele, constataremos que vivemos
num universo no qual uma das supremas manifestações da realidade subjacente é
aquele fenômeno que denominamos "vibrações". Todas as coisas, todos
os seres, todas as forças, encontram expressão no universo por meio de
vibrações. Quando alguém fala, as vibrações de sua voz são levadas pelo ar;
quando vemos, as vibrações da luz (que também funciona como onda, além de
partícula) afetam nosso sistema óptico; as vibrações do som afetam nossos
ouvidos; e existem certos fatos que comprovam que o senso do olfato não depende
inteiramente da difusão de pequenas partículas da substância cheirada.
Quando consideramos a luz e o som, percebemos que ambos
possuem uma escala ascendente de frequência, e nesta escala, toda manifestação
de luz e som pode ser ajustada. Assim, o universo torna-se o teatro de uma
infinidade de forças entrelaçadas, e estas forças atuam em níveis objetivos e
subjetivos do homem e do universo. Na Cabala há um enorme campo de forças e
energias vivas, e este campo de confluência de forças é conhecido como ADAN
KADMON, O HOMEM CELESTE.
Somos partes vivas de um organismo vivo; um microorganismo
que é impregnado e atualmente criado pelo Eterno Espírito que é, ao mesmo tempo,
imanente nele e transcendente a ele.
Para o estudo de todas estas Forças com as quais temos
contato, criou-se a Árvore da Vida, que segundo Aleister Crowley, era "a
jóia do pensamento humano".
Partindo deste princípio, esta Luz Ilimitada, quando manifesta,
forma o que é chamada Árvore da Vida, que os cabalistas produziram indicando
dez numerações que chamaram de Sephiroth (plural de Sephira) ou Emanações
Divinas. Os ramos desta Árvore crescendo ou evoluindo no espaço, representam
dez graus variáveis de uma só Substância ou Princípio.
A cada uma dessas sephiroth foram denominadas as dimensões
do Universo como o Macro, correspondendo ao ser humano como o Micro, formando
assim uma escala de cima para baixo.
Estas Esferas Sagradas são ligadas por vinte e duas linhas,
a que comumente chamamos caminhos, ou canais de influência divinas. Cada
caminho representa o equilíbrio entre duas sephiroth que as une - alguns
cabalistas chamam as próprias sepiroth de caminhos, que somados aos outros 22 e
à "falsa esfera de Daath" formam 33.
Falemos de cada Sephirah em cadeia descendente:
Kether - Significa Coroa. Como o ápice da Árvore
Celestial, Kether representa o mais profundo senso de individualidade e a
ultimal origem da substância. Constitui o centro divino da consciência humana
juntamente com todos os demais princípios a que chamamos homem. Deste
metafisicamente universal "centro", emana-se o que chamamos
"dualidade", ou dois princípios de atividade, que são as sephiroth
seguintes (Chokmah e Binah).
Chokmah - Recebe o título de Sabedoria. É considerada
a Grande Estimuladora do Universo. É dela que parte o fluxo de emanação a Binah
que organiza e estabiliza essas forças.
Binah - Compreensão. É considerada o fundamente da
sabedoria Primordial.
Chesed - Misericórdia. Gedulah é outro nome dado a
esta sephira, significando Grandeza, a qualidade astrológica de Júpiter, pela
sua concepção de construção, expansão e solidificação.
Geburah - Força. É o símbolo de força que demole
todas as formas e idéias quando suas funções de utilidade e vida são
ultrapassadas. Simboliza não tanto um estado fixo de coisas como um ato, uma
adicional passagem e transição de potencialidade em atualidade.
Tiphareth - A sexta sephira recebe o título de
Beleza. Esta, tal como Kether, refere-se às mais secretas das profundezas do
inconsciente, o coração da vida do homem. Assim, Tiphareth é seu reflexo, o
ego, a consciência ordinária humana.
Netzach - Vitória. É a primeira sephira da terceira
tríade, e marca uma diferente ordem de coisas. Aqui penetramos na esfera
elemental, onde as Forças da Natureza têm sua influência (Terra, Fogo, Água e
Ar). Representa a vida emocional do homem e pode ser associada ao Elemento
Fogo.
Hod - Glória. Pertence ao Elemento Água. Sua ação
representa a mente fluídica, o pensamento, a capacidade lógica do homem ou sua
força mágica nervosa; é também ligada à última tríade da Árvore da Vida.
Yesod - Fundamento. Este é o centro da Quarta
Dimensão, chamada vulgarmente de Mundo Astral. Aqui encontramos a sutil substância
eletromagnética na qual todas as forças mais altas estão focadas: o Éter.
Constitui também, a base ou modelo final sob o qual o mundo físico é
fundamentado. Sua atribuição é ao Elemento Ar, sempre soprando rápido e
constante em fluxo e perpétua estabilidade.
Malkuth - Por fim, o Reino. Pendente a estas três
tríades está a sephira que chamamos de Reino, sendo referida à Terra, a síntese
ou veículo dos outros Elementos. Este é o Mundo Físico e nos homens representa
seu corpo material: o Templo do Espírito Santo.
Daath, A Sephirah Invisível - Além das dez sephiroth
acima descritas, existe outra localizada na Coluna Central da Árvore da Vida, a
qual da acesso às Sephiroth Supernas de Kether, Chokmah e Binah. Os cabalistas
afirmam que se trata da Passagem do Abismo. Atribui-se a Chokmah a Sabedoria,
Binah a Compreensão e a Daath, o Conhecimento.
Os Quatro Mundos
Os Quatro Mundos podem ser alocados na Árvore da Vida da
seguinte forma: O Mundo de Atziluth (ou Mundo Arquetípico) está na sephira de
Chokmah; O Mundo de Briah (ou Mundo Criativo) está em Binah, formando assim o
Triângulo Supremo. A seguir vem o Mundo de Yetzirah (ou Mundo Formativo), onde
estão as esferas de Chesed, Geburah, Tiphareth, Netzach, Hod e Yesod.
Finalmente temos o Mundo de Assiah (ou Mundo Material) representado por
Malkuth.
As sephiroth de Chesed, Geburah e Tiphareth encontram-se no
Triângulo Ético. Enquanto que Netzach, Hod e Yesod formam o Triângulo Astral.
A estes Quatro Mundos estão alocados os trunfos do Tarô, os
Quatro Elementos Alquimistas e as quatros letras que formam o Nome Divino, o
TETRAGRAMATON (IHVH):
Yod - Representa a mais alta Fonte Espiritual do qual
todos os outros Mundos nasceram. Ele pode ser referido como a Vontade (Baqueta
- Paus) de Deus. Como falamos, este Mundo é Atziluth, designado como o Mundo
Arquetípico.
Heh - Representa o Mundo Criativo onde os arquétipos
da Criação, vindo de Atziluth, são impressos em conceitos e idéias. Neste mundo
de Briah, Deus opera através de seus Ministros, os Arcanjos, sendo seu o Trunfo
da Copa, a Alma de Deus.
Vav - Representa o Mundo Formativo onde Conceitos
vindos de Briah estão atualmente formulados em "projetos", os quais
eventualmente tornar-se-ão o Universo Material. Este Mundo é Yetzirah, o Mundo
do Coro Angelical, que pode ser visto como um departamento da Engenharia
Divina, com o Trunfo da Espada, a Mente de Deus.
Heh (final) - Representa o Mundo Material, o Universo
Fenomenal e todas as energias visíveis e invisíveis que compõem este Mundo
chamado de Assiah, que começou com o impulso de Atziluth, tornando-se conceito
em Briah, projeto em Yetzirah para, finalmente, se concretizar (ou se
manifestar) em Assiah. Seu Trunfo é Ouros ou Discos.
Os Caminhos
Por fim, as linhas que unem as dez sephiroth na Árvore da
Vida recebem o nome de Caminhos, os quais podemos considerar como canais de
influência divina ou arquétipos de nossa mente. As sephiroth são atreladas,
portanto, por estes caminhos, que representam o equilíbrio entre duas delas.
Existem ainda, outros símbolos consignados a estes caminhos,
que são as Vinte e Duas Letras do Alfabeto Hebraico, os Doze Signos do Zodíaco,
os Sete Planetas Clássicos, os Quatro Elementos e os Vinte e Dois Trunfos
Maiores do Tarô.
A Árvore da Vida, a Astrologia e o Tarô são três aspectos de
um mesmo Sistema e um é incompreensível sem os demais.
Finalmente, o esquema completo da Árvore da Vida totaliza
Trinta e Três Caminhos, que são compostos pelas Vinte e Duas Cartas do Tarô
(Arcanos Maiores), e das Onze Sephiroth (incluindo Daath), além dos simbolismos
alocados a estes.
por Frater AUMGN
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