sábado, setembro 30, 2006

AS APARIÇÕES DA SENHORA DE LOURDES

AS APARIÇÕES DA SENHORA DE LOURDES

Lubélia Travassos

Uma das mais célebres aparições de Nossa Senhora, pelo seu local de culto, peregrinação e de curas, ocorreu, também, no século XIX, depois da aparição da Virgem Maria nas montanhas de La Salette, em 1846. Entre Fevereiro e Julho de 1858 a Virgem voltou a aparecer, em Lourdes, 18 vezes, numa localidade próxima dos Pirinéus, sudoeste de França, a uma adolescente de 14 anos, Bernadette Soubirous, e confiou-lhe 17 mensagens.
A 1.ª Aparição deu-se numa 5.ª Feira, 11 de Fevereiro de 1858, num dia chuvoso e enevoado. Eram 11 horas da manhã quando Bernadette reparou que tinha acabado a lenha e o pai, desempregado, estava deitado. Resolveu ir apanhá-la, vestiu uma capa para se proteger, chamou a irmã Toinete e convidou Joana Abadie, uma moça alta e forte para acompanhá-las. A mãe proibiu-a de sair por causa do tempo, porque ela sofria de asma, mas ela insistiu e, por fim, a mãe aceitou. No caminho atravessaram duas pradarias, a ponte do canal, até chegarem à ponta de areia do rio Gave, que tem à esquerda uma rocha íngreme com uma gruta na base, Massabieille, que mais parece uma acentuada concavidade na rocha. Enquanto as duas moças corriam pela praia do Gave, achando a água fria, Bernadette sentou-se na margem do canal em frente à gruta. De repente ouviu o barulho de ventania, mas não viu nada, seguindo-se, uma luz suave que iluminou toda aquela área sombria, e do meio dela surgiu uma jovem Senhora maravilhosa, vestida de branco, abrindo os braços num gesto de acolhimento, como a convidá-la a aproximar-se. Bernadette ficou espantada e assustada por tal encontro repentino, esfregou os olhos várias vezes para se certificar que não era um sonho e a Senhora sorriu-lhe. Fez o sinal da cruz, depois ajoelhou-se, e a grande emoção que sentiu desapareceu. Tirou o terço e começou a rezar junto com a Senhora, que apenas passava as contas pelos dedos e não falava. Só no fim de cada mistério dizia com ela: «Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo». Acabado o terço a Senhora fez-lhe um sinal para se aproximar, mas ela não ousou fazê-lo e a Virgem desapareceu. Após aquele encontro extraordinário Bernadette sentiu uma felicidade imensa na sua alma, que lhe deu muita força e atravessou o regato sem dificuldade, sentindo a água morna.
Quando as companheiras voltaram tentou falar-lhes na visão, mas elas não acreditaram. Resolve, então, contar tudo à irmã, que não acredita, e não consegue guardar segredo, revelando-o à mãe, Luísa, que quer saber toda a história. É repreendida e o pai diz que não quer que os outros se riem dela. À noite, na hora das orações chora muito, a mãe faz-lhe mais perguntas, mas ela não responde. No dia seguinte sente-se atraída a voltar à gruta, mas a mãe não a deixa ir e manda-a a trabalhar. Na tarde de sábado, 13, resolve ir confessar-se e conta tudo ao padre Pomian, que, por sua vez, contou ao abade Peyramale, com o seu consentimento. No domingo, 14, dá-se a 2.ª Aparição. As amigas resolvem ir a sua casa pedir à mãe para voltarem à gruta, pois gostariam de ver o mesmo. A mãe deu-lhes permissão de apenas 15 minutos, e elas levaram um frasco de água benta, para afastar o mal, caso a aparição fosse maligna. Separaram-se em dois grupos e dirigiram-se à gruta. Bernadette chegou primeiro com o seu grupo, ajoelhou-se e começou a rezar o terço, e as companheiras ficaram a seu lado. A meio do terço a sua face mudou, os olhos brilharam e ela disse para as colegas: «Ei-la! Com o terço no braço, a olhar para nós». As amigas não viram nada, e Bernadette pega no frasco de água benta e espalha-a em direcção do vulto, dizendo: «Se vem da parte de Deus, fique, se não, pode ir embora». A seguir entrou em êxtase, empalideceu e não ouve o que as amigas dizem. Elas ficaram assustadas com a sua reacção e pediram ajuda ao moleiro para a retirar dali. Não foi fácil, pois parecia que ela estava amarrada a uma barra de ferro. Com muito esforço conseguiu levá-la nos braços enquanto ela mantinha um sorriso nos lábios. As meninas foram para casa e as notícias chegaram depressa a Lourdes. Nestas duas aparições a Senhora não disse nada, além de rezar as glórias dos mistérios. No dia 15 a vidente sofreu muito com as críticas que aumentavam, mas muitas pessoas interessaram-se pelo caso. Madame de Millet convenceu Luísa, a mãe da vidente a deixar a filha ir à gruta na sua companhia, às 5 horas da manhã de 5.ª Feira, 18 de Fevereiro. Antonieta Peyret também foi com ela e encontraram-se com Bernadette. Depois de participaram da primeira missa, desceram à gruta. Deu-se, então, a 3.ª Aparição. Mal começaram a rezar o terço a vidente diz-lhes: «Ela está aqui!». Terminado o terço Antonieta deu-lhe uma caneta e papel e Bernadette levou-os à aparição, aproximando-se para que escrevesse o seu nome. Da conversa de ambas nunca se soube nada, mas a vidente contou a sorrir que a Senhora dissera que não precisava escrever, e pediu-lhe que voltasse durante 15 dias. Foi a primeira vez que a ouviu falar. A Virgem prometeu-lhe que “não a poderia tornar feliz neste mundo, mas sim no outro”. A 4.ª Aparição aconteceu a 19 de Fevereiro. Enquanto a vidente rezava uma multidão de vozes sinistras gritava em tom estridente e raivoso: «Foge! Foge daqui!». Nossa Senhora ergueu a cabeça franziu a fronte e as vozes fugiram em debandada. A 5.ª Aparição foi a 20 de Fevereiro, e a Senhora ensinou, pacientemente, uma oração só para Bernadette, que ela deveria repetir todos os dias. No domingo, 21 de Fevereiro deu-se a 6.ª Aparição. A Senhora desviou o olhar da vidente e quando voltou a fixá-la estava triste. Esta perguntou-lhe porque estava triste, e Ela respondeu: «Reza pelos pecadores e pelo mundo tão revolto». Depois dessa aparição, o Comissário Jacomet, interrogou a menina para saber mais pormenores da Aparição. Ela contou-lhe que era uma Dama, com um vestido longo branco, atado na cintura com uma fita azul, usava um véu branco na cabeça, caindo pelas costas. Estava descalça, e as duas dobras do vestido encobriam-lhe um pouco os pés, cujas pontas tinham uma rosa dourada. Do braço direito pendia um rosário de contas brancas encadeadas em ouro.
A 7.ª Aparição deu-se a 23 de Fevereiro, e Nossa Senhora confiou-lhe um segredo que ela não podia revelar a ninguém. No dia 24, na 8.ª Aparição, a quantidade de pessoas aumentara, com a esperança de ver a Senhora, e já se tornava difícil o acesso ao local. Depois da reza do terço Bernadette avançou dois passos, arrastando-se de joelhos e prostrando-se com a face na terra beija-a, atendendo ao pedido da Aparição. Porém o povo não entendeu e ela explicou que a Senhora tinha dado uma mensagem nova: «Penitência, Penitência! Rezem a Deus pela conversão dos pecadores. Beija a terra em penitência pela conversão dos pecadores!». No dia seguinte, da 9.ª Aparição, a movimentação começou cedo, a partir das duas da manhã as pessoas aglomeraram-se à procura de melhores lugares. A Senhora disse a Bernadette: «Vai beber à fonte e lava-te nela». Não vendo qualquer fonte foi ao rio, mas a Senhora fez-lhe um sinal e mostrou-lhe o sítio da fonte. A vidente viu apenas um pouco de lama, meteu as mãos e começou a escavar, saindo água suja, mas, depois de tirar três vezes já se podia beber. Era a água milagrosa que tem realizado tantos prodígios. Além disso a Senhora mandou-lhe fazer penitência pelos pecadores e disse-lhe para comer a erva que estava no chão. Quando começaram todos a rir da pequena, por tão estranha ordem, a Senhora respondeu: «Mas, vocês também não comem salada?» Na 10.ª e 11.ª Aparições, a 27 e 28 de Fevereiro a Virgem mandou, de novo, beijar o chão em penitência pelos pecadores, e não respondeu à Vidente quando ela lhe perguntou o nome. Na 12.ª Aparição, a 1 de Março, diz a Bernadette para rezar o terço pelas Suas contas e não pelas de uma companheira. Na 13.ª Aparição, a 2 de Março, a Virgem pediu-lhe que contasse aos sacerdotes, e que trouxessem o povo ao local, em procissão, e que lhe construíssem uma Capela no local. A 14.ª Aparição foi a 13 de Março, ao entardecer. A Senhora explicou que de manhã havia pessoas indignas que tinham passado a noite na gruta, profanando-a. Na 15.ª Aparição, a 4 de Março, a vidente começou a ver a Senhora no primeiro terço e rezou outros dois, reflectindo ora de alegria ora de tristeza. Durante aquela quinzena a Virgem comunicou-lhe três segredos e uma oração e proibiu-lhe de falar naquilo a quem quer que fosse. A 16.ª Aparição, a 25 de Março, foi na manhã da festa da Anunciação. Depois de pedir à Senhora três vezes para dizer quem era, Ela juntou as mãos, olhou para o céu, depois separou-as e inclinou-se sobre a vidente, dizendo: «Eu sou a Imaculada Conceição.» Na 17.ª Aparição, a 7 de Abril, a Virgem não disse nada, mas deu-se o milagre da vela benta que Bernadette segurava, que escorregou da mão e atingiu-lhe os dedos sem a queimar. A 18.ª Aparição, e última, a 16 de Julho, foi durante a festa da Senhora do Carmo. A vidente assistiu à missa e comungou. À tarde sente que Deus a chama à gruta, mas não pode aproximar-se devido à sebe e aos soldados, que o governo enviara para cercar o recinto. Contudo, a menina contemplou a Senhora, para além do rio e da sebe, como se não houvesse nada a impedi-la. Foi o último adeus da Virgem até ao céu.
A partir daí, 1858, e até hoje, Lourdes continua a reunir multidões, presididas, muitas vezes, por papas ou seus legados, e os milagres de cura das almas têm sido mais numerosos que os físicos, embora mais difíceis de contar…

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