terça-feira, outubro 31, 2006

LIVRE-ARBÍTRIO

· LIVRE-ARBÍTRIO

ter, 12 de abril, 2005
Amiko escreveu algo interessante nos comentários, um assunto que é praticamente infinito e que eu gostaria de mostrar só mais um pouco, para que nossa mente ocidental, tão acostumada com o preto-no-branco, possa libertar-se um pouco mais e enxergar o cinza:
"Ninguém vem a esse mundo para o mal. Toda reencarnação é para a evolução, e se a intenção fosse a de voltar apenas para o mal não lhe seria permitido tal dádiva. Quando um espírito reencarna e repetidamente fracassa em sua "missão" ele volta impedido de cometer novamente tal erro, por exemplo: uma pessoa que em várias reencarnações cometera suicídio pode vir na próxima totalmente paraplégica, ficando assim impossibilitada de cometer outro suicídio, portanto ele vem apenas para expiação. Não existe isso de anticristo e sim espíritos ainda sem o conhecimento ou compreensão do amor de Deus".
É mais complexo, Amiko... é bem mais complexo. Se houvesse uma "programação Divina" que impedisse as pessoas de se suicidarem ou serem más em duas encarnações seguidas, seria um atentado contra o livre-arbítrio, não acham? Além de ser uma punição Divina. As deformações e conseqüências para o corpo que os suicidas (e não só eles) sofrem advém da séria perturbação mental a que estão submetidos, que não "passa" após a morte (ao contrário, piora, potencializa-se), e como aprendemos no princípio hermético do mentalismo, TUDO é mental. Inclusive a formação de nosso próximo corpo. Isso não quer dizer que toda pessoa que é meio tantã tenha ou vá ter alguma deformidade, e sim que uma planta cuja semente foi bombardeada por radiação não vai crescer do mesmo jeito que outra saudável. E sabemos que a radioatividade é decorrente do caos à nível atômico, da instabilidade que, como um castelo de cartas desabando, cria a aparente desordem, e conseqüente destruição / transmutação. Mas, voltando ao exemplo da planta, ela pode vir a deformar-se por N outros motivos, portanto, não podemos (nem devemos) julgar as pessoas pelas aparências. Às vezes a pessoa com a consciência mais dilatada PEDE pra vir assim, para que não sucumba à certas provas, como fez no passado. O esforço e mérito desta pessoa é muito maior do que aquele que vai carregando seu "defeito de estimação" em todas as suas encanações, sem se preocupar em melhorar. Por isso não estranhe se aquele deformado do sinal de trânsito, após a morte, esteja em melhor situação que você, como numa certa parábola de Jesus.
A mente é tudo. Morra com a mente agitada e você vai ter problemas do lado de lá. Meditação devia ser ensinada nas escolas. No Japão há toda a tradição dos samurais, incorporada na própria cultura popular, onde a morte é encarada como uma passagem, com tranqüilidade, inclusive no suicídio. É provável que nunca tenha existido um "vale dos suicidas" no Japão como os descritos por André Luis, que se situava um pouco acima da crosta do Brasil. Não terão problemas de consciência, mas ainda assim terão de arcar com as conseqüências. Isso porque somente morrer tranqüilo não garante a felicidade. Até porque o suicida só se mata porque não está bem (ninguém resolve: "puxa, hoje o dia está bom pra pescar, nadar, brincar com os amigos... ah, mas eu acho que vou me matar"). É quase sempre uma decepção com algo, ou alguém, e este pensamento por si só já vai atraí-lo, por afinidade, para regiões mais densas (e perigosas). Além do que, há o aspecto metafísico: seu perispírito é uma bateria com carga programada. Se você "corta parte da fiação", a bateria vai continuar gerando energia e te prendendo aqui na Terra. Se acontece um acidente, geralmente há amparadores dispostos a ajudar a liberar essas energias, mas no caso de um suicida isso não ocorre, pois é uma lição a ser aprendida (não quis fazer? agora agüente).
A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Tudo o que fazemos tem uma conseqüência, uma ressonância não só no mundo, mas fora dele também. Jogue uma pedra num lago escuro. Você verá a pedra sumir, e os efeitos que ela causou na superfície do lago. Não há mais pedra para você. Aparentemente ela sumiu, "morreu". Mas a jornada da pedra continua, descendo lago abaixo, causando mais perturbação do "lado de dentro" do lago, interagindo com um novo ambiente, uma nova realidade. A pedra não "morreu", nem deixou de ser pedra por causa disso.
Há um capítulo do Livro dos espíritos intitulado Desgosto da Vida / Suicídio onde há muitas informações interessantes, do tipo "O suicídio não é sempre voluntário?"; "Os que conduzirem alguém ao suicídio sofrerão as conseqüências disso?"; ou "O suicídio pode ser desculpável quando tem por objetivo impedir que a vergonha recaia sobre filhos ou sobre a família?". Curiosos? Espero que sim. Se forem ateus, basta trocar a palavra "Deus", onde ela aparecer, por "Tao", "Sistema" ou o que quiser. O sentido não muda.
Ainda sobre o livre-arbítrio: Se fôssemos acreditar nas punições Divinas, não existiria ateus no mundo. Afinal, pra que serve esse bando de "filhos ingratos" comendo e bebendo os recursos da terra que Deus nos deu? Bastava cair um raio na cabeça de cada um. Afinal, Ele é Deus, não é? E vingativo, segundo o Velho Testamento! Aliás, segundo essa lógica, os palestinos nem sequer existiriam: cairiam todos fulminados.
Não, Deus não é vingança. É amor. É o meio onde nós crescemos, nos sustentamos, respiramos. Está aqui para todos, sem distinção. Uns "usam" Deus para o bem, outros, para o mal, e a maioria sequer tomou consciência de que dispõem de ilimitados recursos à sua disposição, bastando pra isso se esforçar para aprender a usar.
"Deus" permite que um Hitler use seus recursos para sua política de extermínio, amparado pela legião das trevas. Permite crimes hediondos, permite que pessoas boas sucumbam ao aparente "poder" do mal. Pode soar estranho aos ouvidos cristãos, mas o próprio Jesus não só sabia, como ensinou:
Quem blasfemar contra o Pai receberá a graça; quem blasfemar contra o Filho receberá a graça; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo esse não receberá a graça, nem na terra nem no céu.(Evangelho de Tomé, Nº 44)
Enquanto o Pai e o Filho são ícones criados pelo homem, o Espírito Santo permanece um mistério indefinível, imaterial até mesmo na mente das pessoas. É a energia pela qual Jesus atuava, na qual ele foi batizado / iniciado no Rio Jordão. Seria o equivalente aos Siddhas. Jesus dominava essas energias. Outros apenas a manipulam, e mal, como quem aprende um truque. Mesmo um satanista vai respeitar as energias com as quais trabalha. Mal sabe ele que as energias são em essência Divinas (hehehe).
"O Reino do Pai é semelhante a um homem que semeou boa semente em seu campo. De noite, porém, veio o seu inimigo e semeou erva má no meio da semente boa. O senhor do campo não permitiu que se arrancasse a erva má, para evitar que, arrancando esta, também fosse arrancada a erva boa. No dia da colheita se manifestará a erva má. Então será ela arrancada e queimada".(Evangelho de Tomé, Nº 57)
As duas ervas se alimentam dos mesmos nutrientes do solo. A diferença está no resultado: o que você se tornou com o solo, adubo e água que lhe foi dado? O "Sistema" permite que coexistamos, que cresçamos juntos, porque enquanto crescemos não dá pra distinguir o que é bom ou mal; e quem já não errou na vida? E quem não continua errando, sem maldade, por ignorância, por toda a vida? Será que este vai ser "queimado" ao cabo de apenas uma encarnação? Parece injusto, não?

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