quarta-feira, dezembro 09, 2009

Em Busca do Elixir da Longa Vida


Em Busca do Elixir da Longa Vida


Texto de Olavo de Carvalho – Revista Planeta.


Os alquimistas medievais buscavam um remédio universal, capaz de curar todos os males – o elixir da longa vida. Pois bem, na França, há poucos anos, o astrólogo e alquimista Armand Barbault conseguiu produzir o famoso e mítico ouro potável, a primeira das três fases necessárias à fabricação do elixir. Em seu livro “O Ouro da Milésima Aurora, Barbault relata a experiência que o levou, após vinte anos de trabalho, a obter um dos mais formidáveis medicamentos que a história da medicina conheceu.
Um remédio capaz de aumentar consideravelmente o vigor físico das pessoas, curar em alguns dias casos graves de tuberculose, uremia e esclerose em placas e reverter em questão de semanas lesões cardíacas de origem sifilítica, consideradas incuráveis, é certamente espetacular.
Mas se este remédio, ao invés de resultar de pesquisas avançadas em laboratórios farmacêuticas ultra-equipados, é nada mais, nada menos que o velho ouro potável dos alquimistas, então o espetacular adquire uma aura de inacreditável.
E o inacreditável, enfim, parece transformar-se em absurdo, quando ficamos sabendo que essa poção maldita – produzida em retortas e fornos medievalescos segundo métodos que fariam recuar de horror os beatos da ciência moderna, pois se baseiam na clarividência e na astrologia – foi testada e aprovada por prestigiosos clínicos e laboratórios farmacêuticos alemães.
Tudo isto é maluco, mas aconteceu. O ouro potável, que é o primeiro dos três graus do remédio universal denominado elixir da longa vida, foi preparado, ao longo de quinze anos de trabalho, estritamente de acordo com os processos ensinados nos tratados alquímicos clássicos, e produz exatamente os efeitos médicos que esses tratados lhes atribuem. Suas propriedades, entretanto, ultrapassam de longe a ação quimicamente reconhecida dos seus componentes, e só podem ser explicadas mediante a hipótese de que o liquido concentra energias de um tipo ainda não catalogado pela ciência acadêmica, embora não totalmente estranho a certas concepções atuais da física.
Os alquimistas do passado sempre afirmaram que essas energias podiam ser captadas, condensadas e utilizadas para fins médicos. Refazendo pacientemente o seu itinerário, um alquimista moderno, Armand Barbault, demonstrou que eles tinham razão.
Na realidade, remédios alquímicos que funcionam não são grande novidade no mundo moderno. Na Alemanha eles estão à venda nas farmácias desde 1925. São produzidos pelo laboratório Soluna, fundado pelo barão Alexander von Bernus, alquimista erudito muito respeitado, que foi amigo de Thomas Mann e Rainer Maria Rilke. Mas Von Bernus, como todos os seus antecessores, ocultava dados importantes sobre a fabricação, de modo que, embora reconhecesse o valor dos remédios, ninguém tinha condições de investigar e explicar em termos cientificamente aceitáveis por que, afinal, eles funcionavam.
Barbault fez precisamente o contrário. Depois de produzir o seu remédio, escreveu um livro que é o primeiro, em toda a história da humanidade, a revelar com todos os detalhes as várias fases do trabalho alquímico. Publicado na França com prefácio de um filosofo de prestigio como Raymond Abellio, esse livro ( L’Ór du Millieme Matin, Paris, Editions Premières) é provavelmente o mais audacioso desafio já lançado à indiferença e a negação sistemática da parcela da comunidade acadêmica que só usa os princípios da ciência como tabua de salvação contra a maré montante dos fatos.
Esse homem, que emprenhou a existência numa das apostas mais arriscadas e fascinantes já vividas por um pesquisador, começou justamente como cientista acadêmico. Engenheiro eletrônico de formação, foi inicialmente pesquisador na Sociedade Francesa de Radiotecnia e em seguida chefe da seção de biotipologia do Instituto Aléxis Carrel, em Paris. Mais tarde, interessou-se pela astrologia e chegou a tornar-se um dos mais prestigiados astrólogos franceses, com uma clientela composta de banqueiros, chefes políticos e damas da sociedade. Poderia ter ficado rico, mas o alquimista não escolhe: é escolhido pela vocação imperiosa e por uma raríssima conjunção de circunstâncias. Dessas circunstâncias, duas são particularmente importantes. A primeira é o próprio céu astrológico de nascimento do futuro alquimista: o adepto, que não é apenas um operador mecânico de substancia nem um experimentador impessoal e isento, mas um captador e distribuidor de energia, não nasce num momento qualquer, mas apenas sob determinadas configurações astrológicas. A segunda é o casamento. Conforme a tradição a mulher é quem desencadeia geralmente a vocação do alquimista e quem, mais tarde, guiada pela clarividência, o orientará em vários passos importantes (justamente os mais obscuros e incompreensíveis) do seu confronto com as forças da natureza. No fim da segunda guerra, Barbault casou-se com essa mulher e, abandonando carreira e clientela, se retirou para os campos da Alsácia, onde havia não somente paz para o trabalho, mas onde também a terra, em certos sítios, se encontrava num estado muito propicio de pureza intocada.

Sem comentários: