Em sua última entrevista para um emprego, tudo correu bem, você tinha certeza que o cargo seria seu, mas estranhamente não retornaram a ligação. Talvez você nem suspeite, no entanto seus garranchos, isto mesmo, sua letra talvez o tenha eliminado. Apesar de não haver comprovação científica sobre a validade da análise da escrita para determinar personalidade ou desempenho profissional, a grafologia é utilizada por mais de um terço das empresas no Brasil para contratação de pessoal e avaliação interna de funcionários
O que é a grafologia e como ela surgiu
A grafologia é, em um sentido amplo, o estudo da escrita (do grego graphos, escrita e logos, estudo ou tratado). Mas em sua acepção mais comum é uma metodologia utilizada para inferir atributos psicológicos, sociais, ocupacionais e médicos de uma pessoa a partir da configuração de suas letras, linhas e parágrafos. Segundo os grafólogos, estas informações são tiradas somente da escrita e não do texto em si. A grafologia afirma ser possível determinar se alguém é um líder, um empreendedor ou um estorvo para a empresa, apenas analisando a sua letra e diz também ser possível determinar até a compatibilidade matrimonial. A premissa básica da grafologia é que como o cérebro é a fonte da escrita e somente os seres humanos possuem esta capacidade, a personalidade e as emoções atuam sobre o gesto gráfico. Assim, se sua letra T possui uma haste muito alta é sinal de vaidade por se considerar melhor do que os outros, ou se você esquece de cortar os Ts é porque você é uma pessoa esquecida.
Aqui cabe fazer uma distinção entre grafologia e Grafotecnia (ou Grafoscopia). Esta última está relacionada à análise da letra como uma característica individual do ser humano e é a base das perícias para verificação de autenticidade de assinaturas. Quando escrevemos, os gestos são tão automatizados que nossa mão se move duas vezes mais rápido do que podemos controlar conscientemente. Assim, introduzimos certas características muito sutis, um ganchinho aqui, uma leve mudança de inclinação lá, que quando feitas de modo intencional por um falsário, por exemplo, perdem certas características de dinamismo que permitem identificar o lançamento como falso ou inautêntico. Mesmo quando a pessoa tenta disfarçar a letra, muitas vezes é possível encontrar suas características, seus hábitos gráficos, permitindo identificar quem falsificou uma determinada assinatura. Assim, mesmo com várias tecnologias para identificação de pessoas (reconhecimento de voz, leitura da íris, etc), a assinatura ainda continua sendo a mais utilizada, pela sua simplicidade, confiabilidade e baixo custo. E, como é comum nas pseudociências, a grafologia segue no esteio de sua parente científica, a Grafotecnia. O criador das leis do grafismo, base da Grafotecnia, Solange Pellat, também investigou a ligação entre a escrita e a personalidade. Uma coisa não valida a outra: Newton também estudou alquimia e escreveu mais sobre ela do que sobre a Ótica! Nem mesmo os grandes gênios estão corretos 100% das vezes.
A grafologia tem acompanhado a civilização desde a própria invenção da escrita. Os romanos, gregos, chineses, cristãos e judeus procuravam traços da personalidade das pessoas em sua caligrafia. No entanto, foi somente no século XIX, na França, que o termo grafologia foi criado pelo abade Jean-Hippolyte Michon, apesar do primeiro trabalho sobre algo parecido com o que hoje chamamos de grafologia ter sido publicado pelo médico italiano Camillo Baldi, ainda no século XVII.
São os escritos de Michon que formam a base da grafologia "analítica" ou "atomista" atual, onde os traços da personalidade são inferidos a partir de características da letra em si, como a posição e tipo dos pingos nos i's, em oposição à grafologia "holística", criada por um discípulo dele, Crepieux-Jamin, na qual o analista utiliza uma impressão geral que o escrito como um todo lhe inspira para inferir os traços da personalidade. Essa não é apenas a única divergência entre especialistas em grafologia. Dependendo do autor consultado, uma mesma característica, tal como a inclinação da escrita, pode representar nuances de personalidade totalmente diferentes, como se vê no exemplo mais adiante. Desde então muitos outros se especializaram no assunto e vêm publicando livros e ganhando (muito) dinheiro com este tipo de análise. No Brasil, o marco da grafologia é a publicação do livro "A Grafologia em Medicina Legal" do Dr. Costa Pinto em 1900 e hoje, existe, inclusive, uma Sociedade Brasileira de Grafologia.
Existem vários cursos e organizações grafológicas dentro e fora do país e alguns cursos, apesar da falta de base científica para tal prática, são ministrados em Universidades, principalmente na Itália, França, Espanha e Israel.
Investigando a grafologia
O raciocínio ao qual os grafólogos se apegam é que a escrita é comandada pelo cérebro (em inglês "handwriting is brainwriting") e como o cérebro é a fonte da personalidade, logo a escrita reflete a personalidade. É verdade que a personalidade pode influenciar o desenvolvimento do potencial genético das habilidades motoras do ser humano. É fácil entender como fatores como ousadia, agressividade, persistência, vontade de participar em atividades em grupo determinam o quanto uma criança irá se desenvolver, tendo em vista a importância das habilidades motoras ensaiadas em grupo. O controle motor fino exigido para atividades como tocar um instrumento musical, tricotar ou escrever é um refinamento das habilidades motoras gerais e também vai depender de persistência e concentração. Então é de se esperar que pessoas perseverantes e com alta capacidade de concentração possuam boa caligrafia. E só. As correlações entre os aspectos gráficos da escrita como inclinação, pressão e gênese das letras e os aspectos individuais da personalidade precisam ser demonstradas através de estudos cientificamente rigorosos que sejam verificados independentemente.
Apesar da roupagem pretensamente científica que toda pseudociência possui, a grafologia se baseia no mesmo princípio do mais primitivo (e do mais atual) pensamento mágico: o princípio da similaridade. Encontramos o princípio da similaridade desde a homeopatia até às práticas de vodu, nas quais uma imagem de uma determinada pessoa é utilizada para influenciá-la positiva ou negativamente. Também é encontrado na astrologia, onde, por exemplo, pessoas do signo de Touro possuiriam as características deste animal, como a teimosia. Assim, na grafologia, para citar alguns exemplos, letras de pessoas raivosas apresentariam grande pressão e linhas retas, ao passo que amor é expresso através de letras curvilíneas e com leve pressão. A tristeza ou pessimismo seriam traduzidos por linhas descendentes, assim como otimismo por linhas ascendentes. Um punho inconstante com letras sendo desenhadas de forma diferente todo o tempo representaria pessoas "inconstantes". Aparentemente, características físicas como um gingado ao caminhar também aparece em uma escrita "gingada (The Complete Idiot's Guide to Handwriting Analysis, por Sheila R. Lowe).
Somente porque a lei da similaridade aparece como base de várias superstições e pseudociências, não significa que esteja sempre errada. Então necessitamos de estudos científicos para comprovar ou não se características da letra podem dizer algo sobre uma pessoa. Muitos grafólogos, quando perguntados sobre as evidências científicas que validam suas práticas, apresentam livros escritos por outros grafólogos que também não se baseiam em estudos científicos. Outro típico erro de avaliação é o famoso: "eu uso e dá certo comigo e meus clientes que nunca reclamaram". Se isto soa familiar é porque astrólogos e outros pseudocientistas usam este mesmo tipo de argumento.
Não podemos deixar de mencionar os mesmos fatores que parecem validar todas estas "metodologias de autoconhecimento": a leitura fria, através da qual o "analista" vai colhendo pequenas pistas para obter informações acerca desta pessoa sem que ela perceba (no caso da grafologia, as pistas são obtidas quando textos de caráter pessoal são utilizados nas análises); o efeito Forer, também conhecido como validação subjetiva, que faz com que as pessoas se reconheçam em descrições psicológicas vagas e abrangentes que poderiam ser aplicadas a qualquer um. Além destes, outros fatores fazem com que as pessoas acreditem que uma determinada descrição contém a verdade sobre sua personalidade. Um deles é falta de real autoconhecimento - você não está muito certo sobre suas características pessoais, logo você procura uma destas "metodologias para o autoconhecimento" e quaisquer características ditas como sendo suas serão aceitas, desde que não sejam muito excêntricas, tipo "você é um assassino em série em potencial, dadas as circunstâncias corretas você certamente irá matar alguém". Principalmente, porque as descrições apresentadas são vagas de forma que quase qualquer pessoa se encaixa.
Também é bastante comum a tentativa de validação da grafologia através do grau de satisfação dos gerentes de empresas com os empregados contratados através deste tipo análise. No entanto, para uma análise completa seria preciso analisar também o desempenho de um outro grupo - pessoas que foram reprovadas no teste da grafologia. Só assim seria possível confirmar que a análise grafológica é uma metodologia válida de seleção, pois talvez os gerentes ficassem ainda mais satisfeitos com este outro grupo. E como ter certeza que excelentes profissionais não estão deixando de ser contratados simplesmente porque sua assinatura não está de acordo com o que a escola daquele grafólogo segue? Afinal de contas, não existe um consenso entre eles.
Por exemplo, no livro de Peter West, "Grafologia", ele afirma que a uma barra do T minúsculo curta significa "falta de autocontrole; não gosta de disciplinas impostas", ao passo que Maurício Xandró em seu "Grafologia para Todos", explica que este mesmo tipo de barra "é um sinal de potência volitiva não isenta de autocontrole (...) há controle de si mesmo, esforço bem dirigido e domínio". Uma mesma pessoa teria avaliações completamente opostas!
No entanto, não é necessário se preocupar, basta descobrir a escola do grafólogo que presta consultoria para sua empresa (muitas fazem este tipo de consulta não só para a contratação como também para promoção de pessoal) e fazer algumas sessões de grafoterapia. Basicamente consiste em educar sua letra para deixar de fazer aquelas características negativas e assim, dizem os grafólogos, modificar a sua personalidade. Depressivo? Nada de Prozac! Basta copiar alguns textos com letras grandes em linhas ascendentes até que esse passe a ser seu tipo de letra. Fácil e barato.
Os grafólogos também alegam poder diagnosticar doenças como hipocondria, paranóia, esquizofrenia e depressão, mas não há estudos científicos publicados em revistas de renome, que suportem tais alegações. No entanto é possível encontrar anúncios de cursos de grafologia que dizem explicitamente que após a conclusão o aluno será capaz de realizar a "detecção de casos de hipocondria, depressão, pressão arterial, cleptomania e doenças de fins neurológicos". E que tal a seguinte descoberta de Maurício Xandró, apresentada em seu livro "Grafologia para Todos"? Ele afirma ser possível afirmar pela observação do seu D maiúsculo, se uma pessoa é crente ou atéia. Ele deixa claro que isto só é possível para aquelas em cuja língua mãe deus é iniciado pela letra D.
E que tal ser considerado, pelo mesmo autor, uma pessoa libidinosa, apresentando "sonhos eróticos, interesse por assuntos libidinosos ou pornográficos, procura por prazer sexual", só porque seu G minúsculo apresenta um "pé", a parte inferior, exagerada?
A verdadeira ciência por trás da grafologia
Pelo menos, uma das alegações da grafologia é cientificamente comprovada: algumas doenças podem ser identificadas através da escrita. O mal de Parkinson, quando em seu estágio menos desenvolvido, pode levar a uma mudança na escrita da pessoa, que se torna pequena, comprimida e lenta.
A análise da escrita pode fornecer elementos que quando somados a um diagnóstico clínico podem auxiliar o diagnóstico de certas doenças neurológicas. Por exemplo, "Maneirismos ocorrem em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos, e são caracterizados por gestos artificiais, ou linguagem e escrita rebuscada, com uso de preciosismo verbal, floreados estilísticos e caligráficos, etc...". Mas disso vai uma longa distância a poder diagnosticar esquizofrenia após concluir um curso noturno de grafologia.
Pessoas com a doença neurodegenerativa de Huntington escrevem com diferentes velocidades e aquelas apresentando demência têm uma escrita constantemente alterando entre padrões acelerados e desacelerados, que resulta em um aspecto pictórico de aparência nervosa. Um fato interessante é que a letra não muda em seus aspectos mais importantes, mesmo que a pessoa escreva com a mão esquerda se for destra, ou utilize outro membro, a não ser que áreas ligadas à habilidade motora do cérebro sejam afetadas.
Porém para realizar estes diagnósticos é preciso mais do que a simples capacidade de observação humana. Os cientistas utilizam tablets (pranchetas de captura digital), que permitem não só registrar a escrita formalmente, mas também registrar em valores absolutos parâmetros como velocidade, pressão, aceleração e ritmo. Assim, é possível verificar como um determinado medicamento afeta o cérebro do paciente ou mesmo o progresso da terapia pela melhora na letra ou desenhos, já que não é somente a escrita que á analisada, mas também a habilidade para desenhar.
Esta nova disciplina chamada Grafonômica (do original em inglês, Graphonomics) surgiu no início dos anos 80 e visa verificar quais são os processos neuromotores por trás da escrita e desenhos humanos. Portanto, existe uma ciência baseada na escrita, mas não como a grafologia é vendida por aí.
Fonte: www.projetoockham.org
GRAFOLOGIA
Grafologia é o estudo da escrita manual, especialmente quando empregado como método para análise da personalidade. Os verdadeiros peritos em escrita manual são conhecidos como grafotécnicos, ou periciadores de documentos, não como grafólogos.. Os periciadores de documentos levam em conta os laços, pingos nos "i" e cortes nos "t", espacejamentos das letras, inclinações, alturas, arremates, etc. Examinam a caligrafia para determinar autenticidade ou falsificação.
Os grafólogos examinam laços, pingos nos "i" e cortes nos "t", espacejamentos das letras, inclinações, alturas, arremates, etc., mas acreditam que essas minúcias da escrita sejam manifestações de processos mentais inconscientes. Acreditam que tais detalhes possam revelar tanto sobre uma pessoa como a astrologia, a quiromancia, a psicometria, ou o indicador Myers-Briggs de tipos de personalidade. No entanto, não há nenhuma prova de que a mente inconsciente seja um reservatório que guarda a verdade sobre uma pessoa, muito menos de que a grafologia ofereça um portal para esse reservatório.
Afirma-se que a grafologia serve para tudo, desde entender questões de saúde, moral e experiências passadas a talentos ocultos e problemas mentais. * Porém, "em estudos adequadamente controlados e cegos, em que as amostras de caligrafia não contêm nada que possa fornecer informações não grafológicas nas quais se possa basear uma predição (por exemplo, um trecho copiado de uma revista), os grafólogos não se saem melhor que o acaso na predição... de traços de personalidade...." ["The Use of Graphology as a Tool for Employee Hiring and Evaluation [Uso da Grafologia Como Ferramenta Para a Contratação e Avaliação de Empregados]," da Associação das Liberdades Civis de British Columbia] E mesmo os que não são experts são capazes de identificar o sexo da pessoa que escreveu em cerca de 70% das vezes (Furnham, 204).
Os métodos usados pelos grafólogos variam. * Mesmo assim, as técnicas desses "peritos" parecem se resumir a itens como a pressão exercida sobre a página, espacejamento de palavras e letras, cortes nos "t", pingos nos "i", tamanho, inclinação, velocidade e regularidade da escrita. Embora os grafólogos neguem, o conteúdo da escrita é um dos fatores mais importantes na avaliação grafológica da personalidade. O conteúdo de uma mensagem, naturalmente, independe da caligrafia e deveria ser irrelevante na avaliação.
Barry Beyerstein (1996) considera as idéias dos grafólogos nada mais que magia simpática. Por exemplo, a idéia de que deixar espaços em branco entre as letras indica tendência ao isolamento e solidão porque os grandes espaços indicam alguém que não se relaciona facilmente e que não se sente confortável com a proximidade. Um desses grafólogos afirma que uma pessoa revela sua natureza sádica se cortar os 't' com linhas que se assemelham a chicotes.
Como não há nenhuma teoria útil de como a grafologia poderia funcionar, não é surpresa o fato de não existirem indícios científicos de que nenhuma característica grafológica tenha correlação significativa com qualquer traço de personalidade interessante.
Adrian Furnham escreve
Os leitores familiarizados com as técnicas da leitura a frio serão capazes de entender por que a grafologia parece funcionar e por que tantas pessoas (inteligentes em outras circunstâncias) acreditam nela. [p. 204]
Acrescente-se à leitura a frio o Efeito Forer ou Barnum, a predisposição para a confirmação, e o reforço comunitário, e temos uma explicação bastante completa para a popularidade da grafologia.
A grafologia é mais uma ilusão daqueles que querem um método rápido e rasteiro de tomar decisões para lhes dizer com quem se casar, quem cometeu o crime, a quem contratar, que carreira seguir, onde achar boa caça, onde encontrar água, petróleo ou o tesouro escondido, etc. É mais um elemento na longa lista de substitutos enganosos para o trabalho duro. É atraente para os que se impacientam com questões problemáticas como a pesquisa, análise de indícios, raciocínio, lógica e teste de hipóteses. Se você quer resultados, e os quer imediatamente e expressos em termos fortes e determinados, a grafologia serve. Se, no entanto, você puder conviver com probabilidades razoáveis e incertezas, pode tentar outro método para escolher uma esposa ou contratar um empregado.
Se, por outro lado, você não se importar em discriminar pessoas com base em bobagens pseudocientíficas, pelo menos tenha a coerência de usar um tabuleiro Ouija para ajudá-lo a escolher o grafólogo certo.
O que é a grafologia e como ela surgiu
A grafologia é, em um sentido amplo, o estudo da escrita (do grego graphos, escrita e logos, estudo ou tratado). Mas em sua acepção mais comum é uma metodologia utilizada para inferir atributos psicológicos, sociais, ocupacionais e médicos de uma pessoa a partir da configuração de suas letras, linhas e parágrafos. Segundo os grafólogos, estas informações são tiradas somente da escrita e não do texto em si. A grafologia afirma ser possível determinar se alguém é um líder, um empreendedor ou um estorvo para a empresa, apenas analisando a sua letra e diz também ser possível determinar até a compatibilidade matrimonial. A premissa básica da grafologia é que como o cérebro é a fonte da escrita e somente os seres humanos possuem esta capacidade, a personalidade e as emoções atuam sobre o gesto gráfico. Assim, se sua letra T possui uma haste muito alta é sinal de vaidade por se considerar melhor do que os outros, ou se você esquece de cortar os Ts é porque você é uma pessoa esquecida.
Aqui cabe fazer uma distinção entre grafologia e Grafotecnia (ou Grafoscopia). Esta última está relacionada à análise da letra como uma característica individual do ser humano e é a base das perícias para verificação de autenticidade de assinaturas. Quando escrevemos, os gestos são tão automatizados que nossa mão se move duas vezes mais rápido do que podemos controlar conscientemente. Assim, introduzimos certas características muito sutis, um ganchinho aqui, uma leve mudança de inclinação lá, que quando feitas de modo intencional por um falsário, por exemplo, perdem certas características de dinamismo que permitem identificar o lançamento como falso ou inautêntico. Mesmo quando a pessoa tenta disfarçar a letra, muitas vezes é possível encontrar suas características, seus hábitos gráficos, permitindo identificar quem falsificou uma determinada assinatura. Assim, mesmo com várias tecnologias para identificação de pessoas (reconhecimento de voz, leitura da íris, etc), a assinatura ainda continua sendo a mais utilizada, pela sua simplicidade, confiabilidade e baixo custo. E, como é comum nas pseudociências, a grafologia segue no esteio de sua parente científica, a Grafotecnia. O criador das leis do grafismo, base da Grafotecnia, Solange Pellat, também investigou a ligação entre a escrita e a personalidade. Uma coisa não valida a outra: Newton também estudou alquimia e escreveu mais sobre ela do que sobre a Ótica! Nem mesmo os grandes gênios estão corretos 100% das vezes.
A grafologia tem acompanhado a civilização desde a própria invenção da escrita. Os romanos, gregos, chineses, cristãos e judeus procuravam traços da personalidade das pessoas em sua caligrafia. No entanto, foi somente no século XIX, na França, que o termo grafologia foi criado pelo abade Jean-Hippolyte Michon, apesar do primeiro trabalho sobre algo parecido com o que hoje chamamos de grafologia ter sido publicado pelo médico italiano Camillo Baldi, ainda no século XVII.
São os escritos de Michon que formam a base da grafologia "analítica" ou "atomista" atual, onde os traços da personalidade são inferidos a partir de características da letra em si, como a posição e tipo dos pingos nos i's, em oposição à grafologia "holística", criada por um discípulo dele, Crepieux-Jamin, na qual o analista utiliza uma impressão geral que o escrito como um todo lhe inspira para inferir os traços da personalidade. Essa não é apenas a única divergência entre especialistas em grafologia. Dependendo do autor consultado, uma mesma característica, tal como a inclinação da escrita, pode representar nuances de personalidade totalmente diferentes, como se vê no exemplo mais adiante. Desde então muitos outros se especializaram no assunto e vêm publicando livros e ganhando (muito) dinheiro com este tipo de análise. No Brasil, o marco da grafologia é a publicação do livro "A Grafologia em Medicina Legal" do Dr. Costa Pinto em 1900 e hoje, existe, inclusive, uma Sociedade Brasileira de Grafologia.
Existem vários cursos e organizações grafológicas dentro e fora do país e alguns cursos, apesar da falta de base científica para tal prática, são ministrados em Universidades, principalmente na Itália, França, Espanha e Israel.
Investigando a grafologia
O raciocínio ao qual os grafólogos se apegam é que a escrita é comandada pelo cérebro (em inglês "handwriting is brainwriting") e como o cérebro é a fonte da personalidade, logo a escrita reflete a personalidade. É verdade que a personalidade pode influenciar o desenvolvimento do potencial genético das habilidades motoras do ser humano. É fácil entender como fatores como ousadia, agressividade, persistência, vontade de participar em atividades em grupo determinam o quanto uma criança irá se desenvolver, tendo em vista a importância das habilidades motoras ensaiadas em grupo. O controle motor fino exigido para atividades como tocar um instrumento musical, tricotar ou escrever é um refinamento das habilidades motoras gerais e também vai depender de persistência e concentração. Então é de se esperar que pessoas perseverantes e com alta capacidade de concentração possuam boa caligrafia. E só. As correlações entre os aspectos gráficos da escrita como inclinação, pressão e gênese das letras e os aspectos individuais da personalidade precisam ser demonstradas através de estudos cientificamente rigorosos que sejam verificados independentemente.
Apesar da roupagem pretensamente científica que toda pseudociência possui, a grafologia se baseia no mesmo princípio do mais primitivo (e do mais atual) pensamento mágico: o princípio da similaridade. Encontramos o princípio da similaridade desde a homeopatia até às práticas de vodu, nas quais uma imagem de uma determinada pessoa é utilizada para influenciá-la positiva ou negativamente. Também é encontrado na astrologia, onde, por exemplo, pessoas do signo de Touro possuiriam as características deste animal, como a teimosia. Assim, na grafologia, para citar alguns exemplos, letras de pessoas raivosas apresentariam grande pressão e linhas retas, ao passo que amor é expresso através de letras curvilíneas e com leve pressão. A tristeza ou pessimismo seriam traduzidos por linhas descendentes, assim como otimismo por linhas ascendentes. Um punho inconstante com letras sendo desenhadas de forma diferente todo o tempo representaria pessoas "inconstantes". Aparentemente, características físicas como um gingado ao caminhar também aparece em uma escrita "gingada (The Complete Idiot's Guide to Handwriting Analysis, por Sheila R. Lowe).
Somente porque a lei da similaridade aparece como base de várias superstições e pseudociências, não significa que esteja sempre errada. Então necessitamos de estudos científicos para comprovar ou não se características da letra podem dizer algo sobre uma pessoa. Muitos grafólogos, quando perguntados sobre as evidências científicas que validam suas práticas, apresentam livros escritos por outros grafólogos que também não se baseiam em estudos científicos. Outro típico erro de avaliação é o famoso: "eu uso e dá certo comigo e meus clientes que nunca reclamaram". Se isto soa familiar é porque astrólogos e outros pseudocientistas usam este mesmo tipo de argumento.
Não podemos deixar de mencionar os mesmos fatores que parecem validar todas estas "metodologias de autoconhecimento": a leitura fria, através da qual o "analista" vai colhendo pequenas pistas para obter informações acerca desta pessoa sem que ela perceba (no caso da grafologia, as pistas são obtidas quando textos de caráter pessoal são utilizados nas análises); o efeito Forer, também conhecido como validação subjetiva, que faz com que as pessoas se reconheçam em descrições psicológicas vagas e abrangentes que poderiam ser aplicadas a qualquer um. Além destes, outros fatores fazem com que as pessoas acreditem que uma determinada descrição contém a verdade sobre sua personalidade. Um deles é falta de real autoconhecimento - você não está muito certo sobre suas características pessoais, logo você procura uma destas "metodologias para o autoconhecimento" e quaisquer características ditas como sendo suas serão aceitas, desde que não sejam muito excêntricas, tipo "você é um assassino em série em potencial, dadas as circunstâncias corretas você certamente irá matar alguém". Principalmente, porque as descrições apresentadas são vagas de forma que quase qualquer pessoa se encaixa.
Também é bastante comum a tentativa de validação da grafologia através do grau de satisfação dos gerentes de empresas com os empregados contratados através deste tipo análise. No entanto, para uma análise completa seria preciso analisar também o desempenho de um outro grupo - pessoas que foram reprovadas no teste da grafologia. Só assim seria possível confirmar que a análise grafológica é uma metodologia válida de seleção, pois talvez os gerentes ficassem ainda mais satisfeitos com este outro grupo. E como ter certeza que excelentes profissionais não estão deixando de ser contratados simplesmente porque sua assinatura não está de acordo com o que a escola daquele grafólogo segue? Afinal de contas, não existe um consenso entre eles.
Por exemplo, no livro de Peter West, "Grafologia", ele afirma que a uma barra do T minúsculo curta significa "falta de autocontrole; não gosta de disciplinas impostas", ao passo que Maurício Xandró em seu "Grafologia para Todos", explica que este mesmo tipo de barra "é um sinal de potência volitiva não isenta de autocontrole (...) há controle de si mesmo, esforço bem dirigido e domínio". Uma mesma pessoa teria avaliações completamente opostas!
No entanto, não é necessário se preocupar, basta descobrir a escola do grafólogo que presta consultoria para sua empresa (muitas fazem este tipo de consulta não só para a contratação como também para promoção de pessoal) e fazer algumas sessões de grafoterapia. Basicamente consiste em educar sua letra para deixar de fazer aquelas características negativas e assim, dizem os grafólogos, modificar a sua personalidade. Depressivo? Nada de Prozac! Basta copiar alguns textos com letras grandes em linhas ascendentes até que esse passe a ser seu tipo de letra. Fácil e barato.
Os grafólogos também alegam poder diagnosticar doenças como hipocondria, paranóia, esquizofrenia e depressão, mas não há estudos científicos publicados em revistas de renome, que suportem tais alegações. No entanto é possível encontrar anúncios de cursos de grafologia que dizem explicitamente que após a conclusão o aluno será capaz de realizar a "detecção de casos de hipocondria, depressão, pressão arterial, cleptomania e doenças de fins neurológicos". E que tal a seguinte descoberta de Maurício Xandró, apresentada em seu livro "Grafologia para Todos"? Ele afirma ser possível afirmar pela observação do seu D maiúsculo, se uma pessoa é crente ou atéia. Ele deixa claro que isto só é possível para aquelas em cuja língua mãe deus é iniciado pela letra D.
E que tal ser considerado, pelo mesmo autor, uma pessoa libidinosa, apresentando "sonhos eróticos, interesse por assuntos libidinosos ou pornográficos, procura por prazer sexual", só porque seu G minúsculo apresenta um "pé", a parte inferior, exagerada?
A verdadeira ciência por trás da grafologia
Pelo menos, uma das alegações da grafologia é cientificamente comprovada: algumas doenças podem ser identificadas através da escrita. O mal de Parkinson, quando em seu estágio menos desenvolvido, pode levar a uma mudança na escrita da pessoa, que se torna pequena, comprimida e lenta.
A análise da escrita pode fornecer elementos que quando somados a um diagnóstico clínico podem auxiliar o diagnóstico de certas doenças neurológicas. Por exemplo, "Maneirismos ocorrem em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos, e são caracterizados por gestos artificiais, ou linguagem e escrita rebuscada, com uso de preciosismo verbal, floreados estilísticos e caligráficos, etc...". Mas disso vai uma longa distância a poder diagnosticar esquizofrenia após concluir um curso noturno de grafologia.
Pessoas com a doença neurodegenerativa de Huntington escrevem com diferentes velocidades e aquelas apresentando demência têm uma escrita constantemente alterando entre padrões acelerados e desacelerados, que resulta em um aspecto pictórico de aparência nervosa. Um fato interessante é que a letra não muda em seus aspectos mais importantes, mesmo que a pessoa escreva com a mão esquerda se for destra, ou utilize outro membro, a não ser que áreas ligadas à habilidade motora do cérebro sejam afetadas.
Porém para realizar estes diagnósticos é preciso mais do que a simples capacidade de observação humana. Os cientistas utilizam tablets (pranchetas de captura digital), que permitem não só registrar a escrita formalmente, mas também registrar em valores absolutos parâmetros como velocidade, pressão, aceleração e ritmo. Assim, é possível verificar como um determinado medicamento afeta o cérebro do paciente ou mesmo o progresso da terapia pela melhora na letra ou desenhos, já que não é somente a escrita que á analisada, mas também a habilidade para desenhar.
Esta nova disciplina chamada Grafonômica (do original em inglês, Graphonomics) surgiu no início dos anos 80 e visa verificar quais são os processos neuromotores por trás da escrita e desenhos humanos. Portanto, existe uma ciência baseada na escrita, mas não como a grafologia é vendida por aí.
Fonte: www.projetoockham.org
GRAFOLOGIA
Grafologia é o estudo da escrita manual, especialmente quando empregado como método para análise da personalidade. Os verdadeiros peritos em escrita manual são conhecidos como grafotécnicos, ou periciadores de documentos, não como grafólogos.. Os periciadores de documentos levam em conta os laços, pingos nos "i" e cortes nos "t", espacejamentos das letras, inclinações, alturas, arremates, etc. Examinam a caligrafia para determinar autenticidade ou falsificação.
Os grafólogos examinam laços, pingos nos "i" e cortes nos "t", espacejamentos das letras, inclinações, alturas, arremates, etc., mas acreditam que essas minúcias da escrita sejam manifestações de processos mentais inconscientes. Acreditam que tais detalhes possam revelar tanto sobre uma pessoa como a astrologia, a quiromancia, a psicometria, ou o indicador Myers-Briggs de tipos de personalidade. No entanto, não há nenhuma prova de que a mente inconsciente seja um reservatório que guarda a verdade sobre uma pessoa, muito menos de que a grafologia ofereça um portal para esse reservatório.
Afirma-se que a grafologia serve para tudo, desde entender questões de saúde, moral e experiências passadas a talentos ocultos e problemas mentais. * Porém, "em estudos adequadamente controlados e cegos, em que as amostras de caligrafia não contêm nada que possa fornecer informações não grafológicas nas quais se possa basear uma predição (por exemplo, um trecho copiado de uma revista), os grafólogos não se saem melhor que o acaso na predição... de traços de personalidade...." ["The Use of Graphology as a Tool for Employee Hiring and Evaluation [Uso da Grafologia Como Ferramenta Para a Contratação e Avaliação de Empregados]," da Associação das Liberdades Civis de British Columbia] E mesmo os que não são experts são capazes de identificar o sexo da pessoa que escreveu em cerca de 70% das vezes (Furnham, 204).
Os métodos usados pelos grafólogos variam. * Mesmo assim, as técnicas desses "peritos" parecem se resumir a itens como a pressão exercida sobre a página, espacejamento de palavras e letras, cortes nos "t", pingos nos "i", tamanho, inclinação, velocidade e regularidade da escrita. Embora os grafólogos neguem, o conteúdo da escrita é um dos fatores mais importantes na avaliação grafológica da personalidade. O conteúdo de uma mensagem, naturalmente, independe da caligrafia e deveria ser irrelevante na avaliação.
Barry Beyerstein (1996) considera as idéias dos grafólogos nada mais que magia simpática. Por exemplo, a idéia de que deixar espaços em branco entre as letras indica tendência ao isolamento e solidão porque os grandes espaços indicam alguém que não se relaciona facilmente e que não se sente confortável com a proximidade. Um desses grafólogos afirma que uma pessoa revela sua natureza sádica se cortar os 't' com linhas que se assemelham a chicotes.
Como não há nenhuma teoria útil de como a grafologia poderia funcionar, não é surpresa o fato de não existirem indícios científicos de que nenhuma característica grafológica tenha correlação significativa com qualquer traço de personalidade interessante.
Adrian Furnham escreve
Os leitores familiarizados com as técnicas da leitura a frio serão capazes de entender por que a grafologia parece funcionar e por que tantas pessoas (inteligentes em outras circunstâncias) acreditam nela. [p. 204]
Acrescente-se à leitura a frio o Efeito Forer ou Barnum, a predisposição para a confirmação, e o reforço comunitário, e temos uma explicação bastante completa para a popularidade da grafologia.
A grafologia é mais uma ilusão daqueles que querem um método rápido e rasteiro de tomar decisões para lhes dizer com quem se casar, quem cometeu o crime, a quem contratar, que carreira seguir, onde achar boa caça, onde encontrar água, petróleo ou o tesouro escondido, etc. É mais um elemento na longa lista de substitutos enganosos para o trabalho duro. É atraente para os que se impacientam com questões problemáticas como a pesquisa, análise de indícios, raciocínio, lógica e teste de hipóteses. Se você quer resultados, e os quer imediatamente e expressos em termos fortes e determinados, a grafologia serve. Se, no entanto, você puder conviver com probabilidades razoáveis e incertezas, pode tentar outro método para escolher uma esposa ou contratar um empregado.
Se, por outro lado, você não se importar em discriminar pessoas com base em bobagens pseudocientíficas, pelo menos tenha a coerência de usar um tabuleiro Ouija para ajudá-lo a escolher o grafólogo certo.
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