OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO - HISTÓRICO
A DESCOBERTA
Em 1947, no deserto da
Judéia, no vale de Khirbet Qumran, junto às encostas do Mar Morto, vivia
uma tribo semibeduína conhecida como Taamireh.
Juma Muhammad edh-Dhib, um
jovem pastor de 15 anos, cuidava das cabras do seu pai, quando deu por falta de
um animal, que logo tratou de procurar (ao lado, foto de um rebanho de cabras
na região de Qumran).
, ao explorar o
local, percebeu uma fenda em uma rocha e começou a atirar pedras para testar a
sua pontaria. Após várias tentativas, ouviu um ruído dentro da caverna,
parecendo o som de um vaso quebrando. Curioso, foi verificar o que seria aquele
barulho.
Ao olhar pela entrada da
rocha avistou grandes jarros de barro, mas ao lembrar-se da lenda do espírito
mau que mora numa caverna, o Sheitan, voltou apressadamente para casa.
Ao chegar à tenda contou a
sua experiência ao seu irmão mais velho, Ahmed Muhammad, que ficou muito
curioso. Ahmed então pediu ao irmão para levá-lo ao local e na manhã
seguinte foram em busca dos vasos.
Chegando ao local, Ahmed
viu os vasos de barro (foto ao lado) e de imediato entrou na gruta. Acreditando
que encontraria tesouros em sue interior, transferiu todos os vasos para
o seu irmão, que permanecia do lado de fora da caverna.
Ahmed, ao sair da caverna,
encontrou um embrulho feito de panos de linho. Abriu e viu um rolo feito de
couro de cabras, com uma escrita desconhecida, e assim foi com todos os outros
jarros.
Outros exploradores
encontraram centenas de pergaminhos em 11 cavernas.
Além destes potes com os
papiros, outras cerâmicas e artefatos domésticos também foram encontrados nas
grutas (foto ao lado).
Este material data do
terceiro século a.C até 68 d.C., segundo testes realizados com carbono 14.
A Caverna IV (foto ao lado)
foi uma das mais ricas em artefatos. Nela, forma encontrados milhares de
fragmentos de 382 manuscritos diferentes.
EXPLORANDO E ESTUDANDO OS
MANUSCRITOS
Inicialmente os pastores
tentaram, mas sem sucesso, vender o material em Belém. Mais tarde, o material
que possuíam foi finalmente vendido para Athanasius Samuel, bispo do mosteiro
ortodoxo sírio São Marcos, em Jerusalém, e para Eleazar Sukenik, da
Universidade Hebraica, em dois lotes distintos.
A autenticidade dos
documentos foi atestada em 1948. Em 1954, o governo israelense, que já havia
comprado o lote de Sukenik, comprou através de um representante, os documentos
em posse do bispo, por 250 mil dólares.
Outra parte dos
manuscritos, encontrada nas últimas dez cavernas, estavam no Museu Arqueológico
da Palestina, em posse do governo da Jordânia, que então controlava o
território de Qumram.
O governo jordaniano
autorizou apenas oito pesquisadores, a maioria padres católicos europeus, a
trabalharem nos manuscritos. Em 1967, com a Guerra dos Seis
Dias, Israel apropriou-se do acervo do museu.
Porém, mesmo com a entrada
de pesquisadores judeus, o avanço nas pesquisas não foi signicativo. Apenas em
1991, com a quebra de sigilo em relação aos microfilmes que Israel havia
enviado para algumas instituições pelo mundo, um número maior de pesquisadores
passou a ter acesso aos documentos, permitindo que as pesquisas, enfim
avançassem significativamente.
Os desdobramentos em
relação aos resultados prosseguem e, recentemente, a Universidade da Califórnia
apresentou o "The Visualization Qumram Project" (Projeto de
Visualização de Qumram), recriando em três dimensões a região onde os
manuscritos foram achados.
O Museu de Israel já
publicou na Internet parte do material sob seus cuidados e o Instituto de
Antiguidades de Israel, do Museu Rockefeller, trabalha para fazer o mesmo com
sua parte do material.
CONTEÚDO DOS MANUSCRITOS
Os Manuscritos do Mar Morto
foram escritos em três idiomas diferentes: Hebreu, Aramaico e Grego,
totalizando quase mil obras.
A maior parte dos
manuscritos encontra-se gravada em pergaminhos, sendo uma pequena parcela em
papiros e penas um deles em cobre (foto ao lado).
De acordo com os
estudiosos, os Manuscritos estão divididos em três grupos principais: escritos
bíblicos e comentários, textos apócrifos e literatura de Qumram.
Um quarto de todos os
manuscritos são bíblicos, contendo todos os livros do Antigo Testamento, exceto
Ester, totalizando 22 livros. Os manuscritos mais numerosos são Deuteronômio,
Salmos e Isaías, sendo este último mil anos mais velho do que qualquer outro
anteriormente conhecido. Ele, ao contrário dos outros manuscritos, foi escrito
em "folhas" feitas de pele de cabra e costuradas uma ao lado da
outra, totalizando cerca de 7 metros (foto acima).
Os Apócrifos são os livros
sagrados excluídos da Bíblia e são ricamente representadas, incluindo dois
livros em escrita criptográfica, um livro de Enoque e um tratado sobre o livro
de Moisés.. Ao final deste texto, há uma breve referência ao Evangelho segundo
Tiago.
Os da literatura são
manuscritos relacionados com a sociedade, incluindo visões apocalípticas,
manuais de disciplinas, hinários, comentários bíblicos, calendários e outros
escritos.
Os pergaminhos não-bíblicos
mais famosos são o Manual de Disciplina, o Comentário de Habacuque, os Salmos
de Ação de Graças, o antigo ritual da Ordem da Batalha, o Gênesis
Apócrifo (uma história mais completa do Genesis, incluindo uma nova história de
Abraão no Egito), um "Descrição da Nova Jerusalém " e um Comentário
sobre Jó.
Até agora os estudiosos em
geral concordam que os pergaminhos nos ensinam, pela primeira vez: (1) a vida
de João Batista, (2) a data exata da Páscoa; (3) a natureza e origem da
organização da Igreja Primitiva, (4) o significado da língua estranha e os
ensinamentos de João; (5) a origem do gnosticismo; (6) a natureza da Igreja
como uma continuação de uma antiga tradição apocalíptica e messiânica, ignorada
pelo judaísmo rabínico; (7) a natureza da terminologia estranha do Novo
Testamento como continuação de uma tradição antiga; (8) da comunidade cristã,
como seguidores do padrão das primeiras comunidades apocalíptica no deserto, e
(9) o antigo cenáriodos hebraico-apocalíptico dos escritos de Paulo.
Portanto, oferecem uma vasta
e inédita documentação sobre o período que foram escritos, revelando aspectos
desconhecidos até então do contexto político e religioso no período do
nascimento do Cristianismo e do Judaismo rabínico.
Um relatório parcial sobre
essa descoberta, do arqueólogo inglês G. Lankester Harding, diretor do
Departamento de Antiguidades da Jordânia, diz o seguinte:
"A mais espantosa revelação dos documentos
essênios até agora publicada é a de que os essênios possuíam, muitos anos antes
de Cristo, práticas e terminologias que sempre foram consideradas exclusivas
dos cristãos. Os essênios tinham a prática do batismo, e compartilhavam um
repasto litúrgico de pão e vinho presidido por um sacerdote. Acreditavam na
redenção e na imortalidade da alma. Seu líder principal era uma figura
misteriosa chamada o Instrutor da Retidão, um profeta-sacerdote messiânico
abençoado com a revelação divina, perseguido e provavelmente martirizado."
"Muitas frases, símbolos e preceitos semelhantes
aos da literatura essênia são usados no Novo Testamento, particularmente no
Evangelho de João e nas Epístolas de Paulo. O uso do batismo por João Batista
levou alguns eruditos a acreditar que ele era essênio ou fortemente
influenciado por essa seita.
"Os Pergaminhos deram também novo ímpeto à teoria
de que Jesus pode ter sido um estudante da filosofia essênia."
Todos esses documentos
foram preservados por quase dois mil anos, e sua grande importância teológica
reside no fato de que a Bíblia data de uma tradução grega, feita pelo menos mil
anos depois dos pergaminhos de Qumran terem sido escritos.
Hoje, os Manuscritos do Mar
Morto encontram-se no Museu do Livro em Jerusalém (foto ao lado).
AUTORIA DOS MANUSCRITOS
A autoria dos documentos é
até hoje desconhecida.
Com base em referências
cruzadas com outros documentos históricos, ela é atribuída aos essênios, uma
seita judaica que viveu na região da descoberta e guarda semelhanças com as
práticas identificadas nos textos encontradas. O termo "essênio", no
entanto, não é encontrado nenhuma vez em nenhum dos manuscritos.
O que se sabe é que a
comunidade de Qumram era formada provavelmente por homens, que viviam
voluntariamente no deserto, em uma rotina de rigorosos hábitos, opunham-se à
religiosidade sacerdotal e esperavam a vinda de um messias.
A organização parece ter
nascido no Egito, nos anos que precedem o Faraó Akhenathon, o grande fundador
da primeira religião monoteísta, sendo difundida em diferentes partes do mundo,
inclusive em Qumran.
Para medir o tempo, os
Essênios utilizavam um calendário diferenciado, baseado no Sol. Ao contrário do
utilizado na época, que consistia de 354 dias, seu calendário continha 364
dias, que eram divididos em 52 semanas. Isto permitia que cada estação do ano
fosse dividida em 13 semanas e mais um dia, unindo cada uma delas.
Ainda, o primeiro dia do
ano e de cada estação sempre caía no mesmo dia da semana, quarta-feira, já que
de acordo com Gênesis, foi no quarto dia que a lua e o sol foram
criados.
Segundo os Manuais de
Disciplina dos Essênios, encontrados dos Manuscritos do Mar Morto, eles eram
realmente originários do Egito.
Durante a dominação do
Império Selêucida, em 170 a.C., formaram um pequeno grupo de judeus, que
abandonou as cidades e rumou para o deserto, passando a viver às margens do Mar
Morto, e cujas colônias estendiam-se até o vale do Nilo.
No meio da corrupção que
imperava, os essênios conservavam a tradição dos profetas e da Pura Doutrina.
Eram pacíficos e de boa fé, dedicavam-se ao estudo espiritualista, à
contemplação e à caridade, longe do materialismo avassalador.
Procuravam auxiliar o
próximo, sem imolações no altar e sem cultuar imagens. Eram livres, trabalhavam
em comunidade, e não tinham criados, pois acreditavam que todo homem e mulher
eram seres livres.
Era uma seita aberta aos
necessitados e desamparados, mantendo inúmeras atividades onde a acolhida, o
tratamento de doentes e a instrução dos jovens eram a face externa de seus
objetivos.
O silêncio era
prezado por eles. Sabiam guardá-lo, evitando discussões em público e assuntos
sobre religião. A voz, para um essênio, possuía grande poder e não devia ser
desperdiçada. Através dela, com diferentes entonações, eram capazes de curar um
doente.
Cultivavam hábitos
saudáveis, zelando pela alimentação, pelo físico e pela higiene pessoal.
O EVANGELHO SEGUNDO TOMÉ
O Evangelho de Tomé,
preservado em um manuscrito copta em Nag Hammadi, é uma lista de 114 ditos
atribuídos a Jesus.
Alguns são semelhantes aos
dos evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, mas outros eram
desconhecidos até a descoberta desse manuscrito em 1945.
Tomé não explora, como os
demais, a forma narrativa, apenas cita - de forma não estruturada - as frases,
os ditos ou diálogos breves de Jesus a seus discípulos, contados a Tomé o
Gêmeo, sem incluí-los em qualquer narrativa, nem apresentá-los em contexto
filosófico ou retórico.
Duas características
marcantes do Evangelho de Tomé, que o diferenciam dos canônicos, são a
recomendação de Jesus para que ninguém faça aquilo que não deseja ou não gosta
e a ênfase não na fé, mas na descoberta de si mesmo.
Uma boa discussão sobre
esse evangelho, em português, encontra-se no livro "Além de Toda
Crença: O Evangelho Desconhecido de Tomé", da historiadora Elaine
Pagels, que defende a tese de que o Evangelho de João teria sido escrito para refutar
o de Tomé.
Obtém-se nesse livro
proveitosa aula sobre o início do Cristianismo e entende-se melhor a escolha
dos evangelhos canônicos e a posterior rejeição aos demais, tratados como
"heréticos".
Segundo a tradição, São
Tomé teria partido para as Índias acompanhado de João Crisóstomo. O escritor
Panteno, segundo Eusébio, também esteve na Índia e conversou com Crisóstomo,
mas nada comentou sobre Tomé.
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