O “TENTADOR”, DO LIVRO DE JÓ
“Entre
pensamentos e visões noturnas, quando cai sobre os homens o sono profundo,
sobrevieram-me o espanto e o temor, e todos os meus ossos estremeceram. Um
espírito passou por diante de mim, e fez-me arrepiar os cabelos do corpo. Parou
ele, mas não consegui discernir sua aparência. Um vulto estava diante dos meus
olhos, e ouvi uma voz abafada: Pode o homem mortal ser mais justo do que Deus?
Pode o homem ser mais puro do que seu criador? (Jó 33:12-18)
O Livro de
Jó tem sido chamado de “poema dramático de uma história épica”. Os capítulos 1
e 2 são um prólogo que descreve o cenário da história. Satanás, o Tentador,
apresenta-se ao Senhor, junto com os filhos de Deus, e desafia a piedade de Jó,
dizendo: “Porventura, teme Jó a Deus debalde?” Vai mais longe e sugere que se
Jó perdesse tudo o que possuía, amaldiçoaria a Deus. Deus dá permissão a
Satanás para provar a fé que tinha Jó, privando-o de sua riqueza, de sua
família e, finalmente, de sua saúde. Mesmo assim, “em tudo isso não pecou Jó
com os seus lábios”. O que se questiona é sobre o verdadeiro significado dessa
visita do Diabo a Deus. Se esse Diabo do Livro de Jó fosse o nimigo por
excelência, por que Deus o receberia juntamente com os outros Anjos do Céu?
Portanto, concluímos que o Tentador é um “símbolo” referente ao Diabo Tentador,
reflexo da Divindade.
Leiamos mais
sobre o “mito” do Profeta Jó. Esse profeta, então, é visitado por três amigos –
Elifaz, Bildad e Zofar –, os quais, à luz do gnosticismo, são a representação dos
3 Traidores Psicológicos que vemos em todos os “mitos iniciáticos”, que ficam
impressionados pela deplorável condição de Jó, e permanecem sentados com Jó
durante sete dias sem dizer uma só palavra.
A maior
parte do livro é composta por três diálogos entre Jó e Zofar, seguidos pelo
desafio de Eliú a Jó. Os quatro homens tentam responder à pergunta: Por que
sofre Jó? Elifaz, argumentando a partir da sua experiência, declara que Jó
sofre porque pecou. Argumenta que aqueles que pecam são punidos. Como Jó está
sofrendo, obviamente pecou. Bildad, sustentando sua autoridade na tradição,
sugere que Jó é um hipócrita. Também ele faz a inferência de que se os
problemas vieram, então Jó deve ter pecado. “Se fores puro e reto, certamente,
logo despertará por ti.” Zofar condena Jó por verbosidade, presunção e
pecaminosidade, concluindo que Jó está recebendo menos do que merece: “Pelo que
sabe Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade”.
Os três
homens chegam basicamente à mesma conclusão: o sofrimento é consequência direta
do pecado, e a iniquidade é sempre punida. Argumentam que é possível avaliar o
favor ou desfavor de Deus a alguém pela prosperidade ou adversidade material.
Assumem erroneamente que o povo pode compreender os caminhos de Deus sem levar
em conta o fato de que as bênçãos e a retribuição divina podem ir além da vida
presente.
Na sua
resposta aos seu amigos, Jó reafirma a sua inocência, dizendo que a experiência
prova que tanto o justo como o injusto sofrem, e ambos desfrutam momentos de
prosperidade. Lamenta o seu estado deplorável e as sua tremendas perdas,
expressando a sua tristeza em relação a eles por acusarem-no em lugar de
trazer-lhe consolo. Depois que os três amigos terminam, um jovem, chamado Eliú,
confronta-se com Jó, que prefere não responder suas acusações. O argumento de
Eliú pode ser resumido desta maneira: Deus é maior do que qualquer ser humano,
isso significa que nenhuma pessoa tenha o direito ou autoridade de exigir uma
explicação dele. Argumenta que o ser humano não consegue entender algumas
coisas que Deus faz.
Ao mesmo
tempo, Eliú sugere que Deus irá falar se ouvirmos. A sua ênfase está na atitude
do sofredor, ou seja, uma atitude de humildade levará Deus a intervir. Essa é a
essência da sua mensagem: em vez de aprender com o seu sofrimento, Jó demonstra
a mesma atitude dos ímpios para com Deus, e esta é a razão pela qual ainda está
sofrendo aflição. O apelo de Eliú a Jó é: 1. ter fé verdadeira em Deus,
em vez de ficar pedindo explicação; 2. mudar a sua atitude para uma
atitude de humildade.
Não se deve
concluir que todas as objeções dos amigos de Jó representem tudo o que se
pensava de Deus durante aquela época. Na medida em que a revelação da natureza
de Deus foi se fazendo conhecida através da história e das Escrituras, descobrimos
que algumas dessas opiniões eram incompletas. Evidentemente, isso não faz com
que o texto seja menos inspirado, antes nos dá um relato inspirado pelo ES dos
incidentes como realmente aconteceram.
Quando os
quatro concluíram, Deus respondeu a Jó de dentro de um redemoinho. A resposta
de deus não é uma explicação dos sofrimentos de Jó, mas, através de uma série
de perguntas, Deus procura tornar Jó mais humilde.
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