sábado, dezembro 01, 2012


Lúcifer – O mistério de Prometeu

“O diabo – se é permitido num livro de ciência empregar esta palavra desacreditada e vulgar – o diabo se dá ao mago e o feiticeiro se dá ao diabo.” (Eliphas Lévi)
Lúcifer Prometeu, acorrentado na dura rocha da lide cotidiana, sofre com o Abutre do materialismo e da vulgaridade que abunda na sociedade.
Esse Abutre do vulgarismo, da profanidade, da anti-iniciação, corrói o fígado desse Titã, que por amor à essência humana, roubou o Fogo do Olimpo. O fígado é o Calvário onde crucificamos todos os dias o Salvador.
A figura trágica e rebelde de Prometeu, símbolo da humanidade, constitui um dos mitos gregos mais presentes na cultura ocidental. Filho de Jápeto e Clímene – ou da nereida Ásia ou ainda de Têrmis, irmã de Cronos, segundo outras versões – Prometeu pertencia à estirpe dos Titãs, descendentes de Urano e Gaia e inimigos dos deuses olímpicos.
O poeta Hesíodo relatou, em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo escondido no Olimpo para entregá-lo aos homens. Fez do limo da terra um homem e roubou uma fagulha do fogo divino a fim de dar-lhe vida. Para castigá-lo, Zeus enviou-lhe a bela Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os males sobre a Terra.





Como Prometeu resistiu aos encantos dessa mensageira, Zeus o acorrentou a um penhasco, onde uma águia (em alguns mitos, era um abutre) devorava diariamente seu fígado, o qual se reconstituía ao amanhecer. Lendas posteriores narram como Hércules matou o pássaro e libertou Prometeu. Na Grécia, havia altares consagrados ao culto a Prometeu, sobretudo em Atenas. Nas Lampadofórias (festas das lâmpadas), reverenciavam-se ao mesmo tempo Prometeu, que roubara o fogo do céu, Hefesto, deus do fogo, e Atena, que tinha ensinado o homem a fazer o azeite de oliva (ou seja, os elementos necessários para a prática da Alquimia. Entenda quem tiver entendimento).
Prometeu Acorrentado é a única parte sobrevivente de uma Trilogia que teria, na ordem de apresentação, Prometeu Acorrentado, Prometeu Libertado e Prometeu Portador do Fogo. O nome do drama satírico não é conhecido.
O mito de Prometeu, inseparável da questão da origem do “fogo”, situa-se entre os mais antigos e universais, pois encontramos seus equivalentes nas mitologias indiana, germânica, céltica, eslava. O fogo significava a matéria-prima alquímica que originava e fortalecia a inteligência e a sabedoria, fazendo com que os Homens se diferenciassem dos animais (intelectuais). A tragédia teatral Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, foi a primeira a apresentá-lo como um rebelde contra a injustiça e a onipotência das forças da natureza, imagem particularmente apreciada pelos poetas românticos, que viram nele a encarnação da liberdade humana, que leva o homem a enfrentar com orgulho seu destino. Prometeu significa etimologicamente “o que é previdente”, o que pensa primeiro e depois age, ao contrário de seu irmão, Epimeteu, aquele que primeira faz e depois reflete.
O mito, além de sua repercussão literária e artística, tem também ressonância profunda entre os pensadores místicos. Simbolizaria o Herói que, para beneficiar a humanidade, sacrifica-se e enfrenta o suplício inexorável; a grande luta das conquistas iniciáticas e da propagação de seus benefícios à custa de dor e sofrimento.
O verdadeiro Lúcifer Prometéico da Doutrina Arcaica é, por antítese, edificante e essencialmente dignificante, justamente o contrário do que supõem teólogos como Des Mousseaux e o Marquês de Mirville. É, pois, a alegoria da retidão, o símbolo extraordinário e maravilhoso do mais alto sacrifício (Christus-Lúcifer dos Gnósticos) e o Deus de Sabedoria sob diversos nomes.

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