Lúcifer – O mistério de Prometeu
“O diabo –
se é permitido num livro de ciência empregar esta palavra desacreditada e
vulgar – o diabo se dá ao mago e o feiticeiro se dá ao diabo.” (Eliphas Lévi)
Lúcifer
Prometeu, acorrentado na dura rocha da lide cotidiana, sofre com o Abutre do
materialismo e da vulgaridade que abunda na sociedade.
Esse Abutre
do vulgarismo, da profanidade, da anti-iniciação, corrói o fígado desse Titã,
que por amor à essência humana, roubou o Fogo do Olimpo. O fígado é o Calvário
onde crucificamos todos os dias o Salvador.
A figura
trágica e rebelde de Prometeu, símbolo da humanidade, constitui um dos mitos
gregos mais presentes na cultura ocidental. Filho de Jápeto e Clímene – ou da
nereida Ásia ou ainda de Têrmis, irmã de Cronos, segundo outras versões –
Prometeu pertencia à estirpe dos Titãs, descendentes de Urano e Gaia e inimigos
dos deuses olímpicos.
O poeta
Hesíodo relatou, em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo escondido no
Olimpo para entregá-lo aos homens. Fez do limo da terra um homem e roubou uma
fagulha do fogo divino a fim de dar-lhe vida. Para castigá-lo, Zeus enviou-lhe
a bela Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os
males sobre a Terra.
Como Prometeu resistiu aos encantos dessa mensageira,
Zeus o acorrentou a um penhasco, onde uma águia (em alguns mitos, era um
abutre) devorava diariamente seu fígado, o qual se reconstituía ao amanhecer.
Lendas posteriores narram como Hércules matou o pássaro e libertou Prometeu. Na
Grécia, havia altares consagrados ao culto a Prometeu, sobretudo em Atenas. Nas
Lampadofórias (festas das lâmpadas), reverenciavam-se ao mesmo tempo Prometeu,
que roubara o fogo do céu, Hefesto, deus do fogo, e Atena, que tinha ensinado o
homem a fazer o azeite de oliva (ou seja, os elementos necessários para a
prática da Alquimia. Entenda quem tiver entendimento).
Prometeu
Acorrentado é a única parte sobrevivente de uma Trilogia que teria, na ordem de
apresentação, Prometeu Acorrentado, Prometeu Libertado e Prometeu Portador do
Fogo. O nome do drama satírico não é conhecido.
O mito de
Prometeu, inseparável da questão da origem do “fogo”, situa-se entre os mais
antigos e universais, pois encontramos seus equivalentes nas mitologias
indiana, germânica, céltica, eslava. O fogo significava a matéria-prima
alquímica que originava e fortalecia a inteligência e a sabedoria, fazendo com
que os Homens se diferenciassem dos animais (intelectuais). A tragédia teatral
Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, foi a primeira a apresentá-lo como um rebelde
contra a injustiça e a onipotência das forças da natureza, imagem
particularmente apreciada pelos poetas românticos, que viram nele a encarnação
da liberdade humana, que leva o homem a enfrentar com orgulho seu destino.
Prometeu significa etimologicamente “o que é previdente”, o que pensa primeiro
e depois age, ao contrário de seu irmão, Epimeteu, aquele que primeira faz e
depois reflete.
O mito, além
de sua repercussão literária e artística, tem também ressonância profunda entre
os pensadores místicos. Simbolizaria o Herói que, para beneficiar a humanidade,
sacrifica-se e enfrenta o suplício inexorável; a grande luta das conquistas
iniciáticas e da propagação de seus benefícios à custa de dor e sofrimento.
O verdadeiro
Lúcifer Prometéico da Doutrina Arcaica é, por antítese, edificante e
essencialmente dignificante, justamente o contrário do que supõem teólogos como
Des Mousseaux e o Marquês de Mirville. É, pois, a alegoria da retidão, o
símbolo extraordinário e maravilhoso do mais alto sacrifício (Christus-Lúcifer
dos Gnósticos) e o Deus de Sabedoria sob diversos nomes.
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