O BAFOMETO DOS TEMPLÁRIOS
Uma das
imagens de mais forte presença no universo ocultista de nossa época, por vezes
erroneamente interpretada como uma rebuscada representação do diabo católico,
recebe o nome de Baphomet. Todavia, apesar de muito ter sido especulado sobre o
lendário ídolo dos Templários, pouca informação confiável existe a respeito
desta enigmática figura. Daí vêm as inevitáveis questões: o que de fato esta
imagem significa e qual a sua origem? Além disso, o que ela hoje representa
dentro das Ciências Arcanas? Há algum culto atualmente celebrado cujos
fundamentos estejam calcados neste Mistério?
Em 1307 uma
série de acusações daria início a cruel perseguição imposta pelo Papa Clemente
V (Arcebispo de Bordéus, Beltrão de Got) e pelo Rei de França Felipe IV, mais
conhecido como Felipe o Belo, contra a Ordem dos Cavaleiros do Templo, também
chamada de Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, ou, simplesmente, Templários.
O processo inquisitorial movido contra os Templários foi encerrado em 12 de
setembro de 1314, quando da execução do Grão-Mestre da Ordem do Templo, Jacques
de Molay, juntamente com outros dois Cavaleiros, todos queimados pelas chamas
da Inquisição.
No longo rol
de acusações estavam: a negação de Cristo, recusa de sacramentos, quebra de
sigilo dos Capítulos e enriquecimento, apostasia, além de práticas obscenas e
sodomia. O conjunto das acusações montaria um quadro claro do que foi
denominado de desvirtuação dos princípios do cristianismo, os quais teriam sido
substituídos por uma heterodoxia doutrinária de procedência oriental, sobremodo
islâmica.
No entanto,
dentre as inúmeras acusações movidas contra os Templários, uma ganharia
especial notoriedade, pois indicava adoração a um tipo de ídolo, algo
diabólico, entendido como um símbolo místico utilizado pelos acusados em seus
supostos nefastos rituais. Na época das acusações, costumava-se dizer que em
cerimônias secretas, os Templários veneravam um desconhecido demônio, que
aparecia sob a forma de um gato, um crânio ou uma cabeça com três rostos. Na
acusação, embora seja feita menção a adoração de uma “cabeça”, um “crânio”, ou
de um “ídolo com três faces”, nada é mencionado, especificamente, sobre a
denominação Baphomet.
De onde,
então, teria surgido o termo? Não se sabe com precisão onde surgiu o termo
Baphomet. Uma das possíveis origens, entretanto, é atribuída a pesquisa do
arqueólogo austríaco Barão Joseph Von Hammer-Pürgstall, um não simpatizante do
ideal Templário, que em 1816 escrevera um tratado sobre os alegados mistérios
dos Templários e de Baphomet, sugerindo que a expressão proviria da união de
dois vocábulos gregos, Baphe e Metis, significando Batismo de
Sabedoria. A partir desta conjectura, Von Hammer especula a respeito da
possibilidade da existência de Rituais de Iniciação, onde haveria a admissão,
seja aos mistérios seja aos segredos cultuados pela Ordem do Templo.
Segundo Von
Hammer, de acordo com suas descobertas, os ídolos Templários se tratavam de
degenerações de ídolos gnósticos valentinianos, sendo que, de todos eles, o
mais imponente formava uma estranha figura de um homem velho e barbudo, de
solene aspecto faraônico. Um traço bem marcante de todas as figuras era a forte
presença de caracteres de hermafroditismo ou androginia, traços que, ainda de
acordo com a descrição de Von Hammer, endossariam cabalmente as acusações de
perversão movidas pelo clero contra os Templários. Desta descrição aparece
outra referência que muito diz sobre o mistério que cerca o nome Baphomet: ela
aponta para a imagem de um “homem velho”, o qual seria adorado pelos
Templários. Este “homem velho” possuía as mesmas características de Priapus,
aquele criado “antes que tudo existisse”. Contudo, a mesma imagem, por vezes
aparecendo com armas cruzadas sobre o peito, sugere proximidade com o Deus
egípcio Osíris, havendo até quem afirme ser Osíris o verdadeiro Baphomet dos
Templários.
Seguindo a
mesma lógica e pensamento de que o vocábulo Baphomet teria vindo da Grécia
Antiga, também existe a hipótese de que sua procedência esteja na conjunção das
palavras “Baphe” e “Metros”, algo como “Batismo da Mãe”. Por sua vez, a partir
deste raciocínio, surge uma outra proposição poucas vezes mencionada nos
estudos sobre Baphomet, a qual aponta ser “Baphe” e “Metros” uma corruptela de
Behemot, um fantástico ser bíblico de origens hebréias. Esta teoria é
importante, visto Behemot ser citado (e por vezes traduzido) como uma grande
fêmea de Hipopótamo que habitava as águas do rio Nilo, sendo uma das
representações da “Grande Mãe”, esposa do Deus Seth.
Na concepção
egípcia dos Deuses, a fêmea do Hipopótamo faz uma espécie de contra-parte do
Crocodilo (Typhon), da mesma forma pela qual existem os bíblicos Behemot e
Leviathan.
De acordo
com o pesquisador Raspe, outra definição que ganha importância, principalmente
na abordagem dos cultos que atualmente são rendidos a Baphomet, mostra o
suposto ídolo dos Templários como uma fórmula oriunda das doutrinas Gnósticas
de Basilides. Neste sentido as palavras anteriormente apresentadas, que originaram
o termo Baphomet, seriam Baphe e Metios. Assim, teríamos a
expressão “Tintura de Sabedoria”, ou o já apresentado “Batismo de Sabedoria”,
como o significado de Baphomet.
Considerando
que a palavra Baphomet possua raízes árabes, especula-se também que ela seja a
corruptela de Abufihmat (ou ainda Bufihmat, como pronunciado na
Espanha), expressão moura para “Pai do Entendimento” ou “Cabeça do
Conhecimento”. Se nos lembrarmos das acusações movidas contra os Templários, de
que eles adoravam uma “Cabeça”, veremos nesta hipótese algo plausível de ser
aceito. Apesar de todas as alusões até aqui feitas, a figura de Baphomet que se
tornou mais famosa, servindo de principal referência para os ocultistas atuais,
é mesmo aquela cunhada no século 19 pelo abade Alfonse Louis Constant, mais
conhecido pelo nome Eliphas Levi Zahed, ou simplesmente Eliphas Levi.
De acordo
com a descrição do abade, publicada pela primeira vez em 1854, a imagem de
Baphomet, o Bode de Mendes ou ainda o Bode do Sabbath, é feita do seguinte modo:
“Figura panteística e mágica do absoluto. O facho colocado entre os dois
chifres representa a inteligência equilibrante do ternário; a cabeça de bode,
cabeça sintética, que reúne alguns caracteres do cão, do touro e do burro,
representa a responsabilidade só da matéria e a expiação, nos corpos, dos
pecados corporais.
As mãos são
humanas para mostrar a santidade do trabalho; fazem o sinal do esoterismo em
cima e em baixo, para recomendar o mistério aos iniciados e mostram dois
crescentes lunares, um branco que está em cima, o outro preto que está em
baixo, para explicar as relações do bem e do mal, da misericórdia e da justiça.
A parte baixa do corpo está coberta, imagem dos mistérios da geração universal,
expressa somente pelo símbolo do caduceu.
O ventre do
bode é escamado e deve ser colorido em verde; o semicírculo que está em cima
deve ser azul; as pernas, que sobem até o peito devem ser de diversas cores. O
bode tem peito de mulher e, assim só traz da humanidade os sinais da
maternidade e do trabalho, isto é, os sinais redentores. Na sua fronte e em
baixo do facho, vemos o signo do microcosmo ou pentagrama de ponta para cima,
símbolo da inteligência humana, que colocado assim, em baixo do facho, faz da
chama deste uma imagem da revelação divina.
Este panteus
deve ter por assento um cubo, e para estrado quer uma bola só, quer uma bola e
um escabelo triangular.” Devido à eficiência de sua ideação, Levi
propositalmente faz com que se acredite que exatamente essa forma de Baphomet
era a presente na celebração dos Antigos Mistérios.
A figura
emblemática do Bode de Mendes, de Eliphas Levi, como vemos no início deste
texto do site GnosisOnline, foi uma das primeiras, senão a primeira, que
associou o bode ao ídolo Templário. É muito provável, dada a condição de
sacerdote católico do Abade Alfonse Louis Constant, que a imagem Bíblica do
sacrifício do Bode Expiatório tenha lhe servido de inspiração.
O bode no
Egito, entretanto, não possuía um significado religioso grande, exceto por este
culto sacrificial, promovido na cidade de Mendes. Daí a denominação escolhida
por Levi, o Bode de Mendes.
Porém, é
significativo mencionar que o bode, do mesmo modo como atribuído ao carneiro,
sempre foi símbolo de fertilidade, de libido e força vital. Contudo, enquanto o
carneiro assume características solares, o bode se relaciona às lunares. Em
outras palavras, é costume relacionar carneiros, ou cordeiros, como símbolos de
aspectos considerados “positivos” das divindades, enquanto que aos bodes
estariam reservados os “negativos”.
Assim, se
naquele convencionou-se associar uma imagem de pureza, vida e santidade, neste
são associados luxúria, sacrifício e perversão. Em ambos os casos, contudo, é
importante salientar que tanto o carneiro quanto o bode são claros símbolos de
divindades solares, sendo que no primeiro tem-se a exaltação da Divindade,
enquanto no segundo a expiação e morte do Deus.
As
inscrições SOLVE ET COAGULA da imagem de Eliphas Levi são outro claro
exemplo do enfoque dualista de seu Baphomet. Originalmente presentes nos
antebraços do Hermafrodita de Khunrath, esses dois preceitos misteriosos
mostram que o Andrógino domina completamente o mundo elementar, agindo sobre a
natureza, de modo inteiramente onipotente. As inscrições são dois pólos que
marcam o ciclo solar de Vida, composta de Geração, Nascimento e Morte, para
depois haver uma nova Geração que dará continuidade ao interminável ciclo da
Vida.
A essa
propriedade de transformação, ou melhor, ao elemento que permite esta
transformação, os Mestres deram o nome de Mercúrio Filosofal, ou Água dos
Sábios, a mesma Tintura de Sabedoria, da qual falava o gnóstico Basilides ainda
no século 2º.
A imagem do
Baphomet de Eliphas Levi, enfim, é a representação emblemática deste Mercúrio
Filosofal ou do Andrógino Primordial. Também de Eliphas Levi vem outra curiosa
explanação sobre a origem do nome Baphomet, que se tornou voga nos dias de
hoje. Segundo o erudito Abade, esta palavra era a forma cifrada de se dizer Tem
Ohpab, uma espécie de acróstico inverso de Baphomet, que formaria a sentença
iniciática Templi Omnium Hominum Pacis Abbas.
Pergunta: Por que muitos estudantes gnósticos temem a CARTA
15 do TARÔ? Por que ali o DIABO, ou TIPHÓN BAFOMETO, está representado com
seios, como se fosse também ANDRÓGINO?
Samael Aun
Weor: Bem, falemos
um pouco sobre a carta 15 do Tarô. Sinto prazer em falar de dita lâmina… Não
sei por que as gentes julgam tão mal a Tiphón Bafometo. Sem embargo, os
gnósticos jamais ignoram aquela frase que diz: “Eu creio no Mistério do
Bafometo e do Abraxas”.
A Carta 15
do Tarô (o Diabo) é profundamente significativa. Recordemos que se acha depois
das Cartas 13 e 14. Inquestionavelmente, a 13 corresponde à morte do “mim
mesmo”, do “si mesmo”, do ego. Indubitavelmente, a Carta 14 nos fala dessa
Temperança, dessa CASTIDADE, dessa Perfeição que resulta da morte do ego.
Depois vem a 15, que corresponde inevitavelmente ao ANDRÓGINO PRIMIGÊNIO, ao
Mistério do Bafometo e do Abraxas, ao DIABO (palavra, esta última, que algo
horroriza às gentes piedosas, porém que constitui algo extraordinário para o
Sábio).
Na Catedral
de Notre Dame de Paris aparece um corvo. Ele mira, fixamente, até o rincão do
Templo, para esse lugar onde se encontra a Pedrazinha Angular, a PEDRA MESTRA,
a Pedra da Verdade. Tal pedra tem uma forma, sim, terrível, com cornos que
horrorizam: O DIABO (pavor de muitos pseudo-esoteristas e pseudo-ocultistas)…
Os Alquimistas medievais dizem: “Queima teus livros e branqueia o Latão”…
Por que o
Corvo Negro mira em direção ao Diabo? Porque devemos morrer em si mesmos,
porque é necessário que desintegremos os “elementos inumanos” que levamos
dentro. É urgente que os reduzamos a cinzas, a poeira cósmica. Assim será como
podremos “branquear o latão”, esse Latão ou Cobre, representado na Estrela da
Manhã. Já sabemos todos, com inteira claridade, que em um dia não muito
distante, aquele Luzeiro Vespertino se chamava também Lúcifer, o “Fazedor de
Luz”.
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