O MITO EGÍPCIO DE SETH
A Lenda de
Osíris é um dos mais antigos e importantes mitos no Egito e na religião
egípcia. O mito define a posição de Osíris como Senhor dos Mortos e do Submundo
e o direito de Hórus (e de todos os faraós) ao trono. Também exibe os poderes e
deveres de outros deuses e o seu grande adversário, Seth. Com a generosa idade
desta lenda e escassez de versões completas, é mostrada aqui uma versão criada
por David C. Scott, a partir de passagens de vários documentos e fontes.
Nos tempos
distantes, na Era Dourada quando os Deuses andavam sobre a terra com os
humanos; naqueles antigos dias, Osíris, o bisneto de Rá, sentava-se no Trono
dos Deuses, reinando sobre o mundo assim como Rá o fez sobre os Deuses. Ele foi
o primeiro Faraó, e Ísis, a primeira Rainha. Eles reinaram por muitos Eóns
juntos, pois o mundo ainda era jovem e a Velha Morte não era tão severa quanto
é hoje.
Seus métodos
eram justos e perfeitos, e garantiram que Maat permanecesse em equilíbrio,
fazendo com que a Lei fosse mantida.
E assim,
Maat sorriu para o mundo. Todas as pessoas louvaram Osíris e Ísis, e a paz
reinou sobre todos, pois esta foi a Era Dourada. Mas, ainda assim, havia um
problema. O orgulhoso Seth, o nobre e Soberbo Seth, irmão de Osíris. Ele, que
defendeu a Carruagem do Sol das garras de Apep (ou Apopi), o Destruidor, pôs a
desordem em seu coração. Ele cobiçava o Trono de Osíris. Ele cobiçava Ísis. Ele
cobiçava o poder sobre o mundo e desejava tirá-lo de seu irmão. Em sua mente
sombria, ele formulou um plano para assassinar Osíris e dele tirar tudo. Ele
construiu uma caixa e inscreveu em sua superfície um maléfico encanto que iria
acorrentar e aprisionar qualquer um que entrasse.
Seth levou a
caixa para o grande banquete dos Deuses. Esperou até que Osíris ficasse
embriagado, desafiando-o para um teste de força. Cada um deles iria entrar na
caixa e tentar, através da força, sair de dentro. Osíris, confiante em seu
poder, porém frágil em sua mente por causa da bebida, entrou na caixa. Seth
rapidamente despejou chumbo derretido na caixa. Osíris tentou escapar, mas a
magia perversa o segurou indefeso, levando-o à morte. Seth ergueu a caixa e
lançou-a no rio Nilo. A caixa desapareceu levada pelas águas.
Seth
reivindicou o Trono de Osíris para si e demandou que Ísis se tornasse sua
Rainha. Nenhum dos outros deuses se atreveu a impedir Seth, pois ele havia
matado Osíris e poderia facilmente fazer o mesmo a eles. O grande Rá deu suas
costas e lamentou. Ele não se opôs a Seth.
Essa foi a
Era de Trevas. Seth era tudo que seu irmão não era. Cruel e desalmado, não se
importando com o equilíbrio de Maat ou com os humanos, filhos dos Deuses. A
guerra dividiu o Egito, e tudo estava sem lei enquanto Seth governava. Em vão
os egípcios choravam para Rá, pois seu coração estava endurecido pela mágoa que
não o deixava escutar os apelos.
Somente
Ísis, a abençoada Mãe Divina Ísis, lembrou-se dos humanos. Somente ela não
temia Seth. Ela procurou por todo o Nilo pela caixa contendo seu amando marido.
Finalmente ela a achou, presa em um ramo de tamareira que havia se tornado uma
grande árvore, pois o poder de Osíris ainda estava ativo, mesmo que ele
estivesse morto. Ela abriu a caixa e limpou o corpo sem vida de Osíris. Ela
carregou a caixa de volta para o Egito e a colocou na casa dos Deuses. Ísis
transformou-se em um pássaro e voou sobre o corpo de Osíris, cantando uma
canção de lamento. Ela rezou por ele e lançou um encanto. O espírito de Osíris
atendeu suas preces e tomou o corpo de Ísis. Da comunhão espiritual que
aconteceu, Ísis concebeu um filho cujo destino seria vingar o seu pai. Ela
batizou a criança de Hórus, o que tudo vê, e a escondeu numa remota ilha, longe
dos olhos de seu tio Seth.
Ela, então,
foi ao encontro a Thoth, o sábio Thoth, que conhece todos os segredos, e
implorou por sua ajuda. Ela pediu por uma magia que pudesse trazer Osíris de
volta à vida. Thoth, Senhor do conhecimento, procurou através de sua magia. Ele
sabia que o espírito de Osíris havia deixado seu corpo e estava perdido. Para
restaurar Osíris, Thoth deveria recriá-lo, assim seu espírito iria reconhecer e
tomar novamente o seu corpo. Thoth e Ísis juntos criaram o Ritual da Vida, o
qual iria permitir que os humanos vivessem para sempre após a morte. Mas antes
que Thoth pudesse pôr em ação sua magia, o cruel Seth descobriu seus planos.
Ele roubou o corpo de Osíris e o esquartejou, espalhando seus pedaços pelo
Egito. Ele estava certo de que Osíris jamais renasceria.
Ainda assim,
Ísis não caiu em desespero. Ela implorou pela ajuda de sua irmã Néftis, para
guiá-la e ajudá-la a encontrar os pedaços de Osíris. Por muito tempo elas
procuraram, trazendo cada pedaço para Thoth para que ele pudesse realizar sua
mágica. Quando todos os pedaços estavam reunidos, Thoth procurou Anúbis, Senhor
dos Mortos. Anúbis costurou os pedaços, lavou as entranhas de Osíris,
embalsamou-o em linho e realizou o Ritual da Vida. Quando a boca de Osíris
abriu-se, seu espírito entrou em seu corpo e ele ganhou vida novamente.
Mas, nada
que foi morto uma vez, nem mesmo um Deus, poderia viver novamente na terra dos
vivos. Osíris foi para Duat, o Mundo Subterrâneo. Anúbis cedeu o trono a Osíris
e ele se tornou o Senhor dos Mortos. Ali, ele aplicava o julgamento das almas
dos mortos. Condenava os justos à Terra Abençoada do além-vida, mas os
pecaminosos eram condenados a ser devorados pelo demônio Ammut (os Mundos
Infernos).
Quando Seth
descobriu que Osíris estava vivo novamente, ficou enfurecido. Mas sua ira
amenizou-se, pois sabia que Osíris não poderia jamais retornar à terra dos
vivos. Sem Osíris, Seth acreditava que iria sentar no Trono dos Deuses por toda
a eternidade. Mas, em sua ilha, Hórus atingiu a força da maturidade. Seth
enviou muitas serpentes e demônios (os diversos agregados psicológicos) para matar
Hórus, mas este derrotou a todos. Quando estava pronto, sua mãe Ísis deu a ele
grande magia para usar contra Seth, e Thoth deu a ele um punhal mágica.
Hórus
procurou Seth e o desafiou pelo trono. Seth e Hórus lutaram por muitos dias,
mas, no final, Hórus derrotou Seth e o castrou. Mas Hórus, piedoso, não tirou a
vida de Seth, pois se derramasse o sangue de seu tio não o faria melhor do que
ele. Seth manteve seu título no trono, e Hórus pronunciou-se como filho de
Osíris. Os deuses iniciaram uma luta entre eles, os que apoiavam Hórus e
aqueles que apoiavam Seth. Banebdjetet saltou no meio do conflito e demandou
que os Deuses terminassem com a luta pacificamente ou então Maat entraria em
desequilíbrio. Ele ordenou que os Deuses buscassem o conselho de Neith. Esta,
íntima da guerra mas sábia em conselho, pronunciou que Hórus era o herdeiro por
direito do Trono dos Deuses. Hórus lançou Seth para as Trevas, onde ele vive
até hoje.
E assim,
Hórus cuida dos humanos enquanto vive, guia os passos do Faraó enquanto vive, e
seu pai Osíris cuida dos humanos no além-vida. E assim, os Deuses estão em paz.
E assim Seth, o Condenado, eternamente tenta sua vingança, lutando contra Hórus
conseqüentemente. Quando Hórus vence, Maat está segura e o mundo permanece em
paz. Quando Seth vence, o mundo entra em redemoinho. Mas os humanos sabem que
tempos obscuros não duram para sempre, e que os raios brilhantes de Hórus irão
novamente resplandecer sobre eles.
No Final dos
Tempos, Hórus e Seth lutarão uma última vez pelo mundo. Hórus irá derrotar Seth
para sempre e Osíris poderá retornar a este mundo. Neste dia, conhecidos pelos
Hierofantes egípcios como o Dia do Despertar, todas as tumbas serão abertas e
os justos que morreram ganharão a vida novamente, e toda tristeza e sofrimento irão
terminar para todo o sempre.
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