sexta-feira, abril 27, 2012

As Tábuas de Nippur - Génesis Ultima Parte


- Gilgamesh, o nome dele é Gilgamesh! – Interrompeu Ninsun ciumenta.



- Ok. “Gilgamesh” – continuou o Anunnaki –, existe uma cidade Anunnaki aqui em Nippur, e muitos Anunnakis e Lulus moram lá.



- Anunnakis morando, e os Lulus sendo obrigados a servi-los! – Completou ironicamente Ninsun.



- Porque não me contou da cidade mãe? – Perguntou Gil irritado – E de todos que vivem lá?



- Eu iria lhe contar quando chegasse a hora certa Gil. – Respondeu Ninsun, mesmo sem saber se realmente contaria algum dia – Já lhe falei que há muitas coisas que você ainda precisa saber, mas só quando chegar a hora. Mas você não terminou de nos contar como se feriu... – desviou a conversa para o Anunnaki - qual é mesmo seu nome?



- Meu nome? – Responde o Anunnaki - Meu nome é Enki!



- Mentira. – Gritou Ninsun, pondo-se em pé, já com a lança na mão – Enki morreu, foi assassinado. E a sua morte foi o inicio do inferno em nossas vidas, na vida dos Lulu Amelus.



- Realmente houve uma tentativa em me matar, e foi por tentar defender uma de vocês, mas, eu me salvei!



- Eu não acredito. Sabia que não podia confiar em um Anunnaki, você está mentindo! – Falou Ninsun extremamente nervosa, puxando Gil pela mão – Vamos embora Gil. – Já saindo da caverna, virou-se para o Anunnaki e completou - Se você já tem condições para inventar mentiras também tem condições para se cuidar sozinho. Adeus!



- Espere, não é mentira! – Gritou o Anunnaki – Eu sou realmente Enki!



Mas Ninsun não esperou. Foi puxando Gil, a passos largos, até a caverna onde estão pernoitando. Ninsun chegou chorando. As lembranças daquele momento eram trágicas, as feridas ainda doem.



Enki foi um bom Anunnaki, um dos poucos, mas foi assassinado. A história é clássica, e sempre lembrada a todos os Lulus, para que sirva de exemplo, Ninsun a conhecia de cor, todos os Lulus a conheciam. Mas, para os que a presenciaram, a dor era ainda maior.



Ela tinha apenas seis anos quando aconteceu, na época, não entendeu nada. Aquele tumulto, aquele desespero, a imagem de sua mãe tentando tapar sua visão para poupá-la de testemunhar tamanha crueldade, e a de um Anunnaki batendo nela, gritando que todos deveriam assistir. Todos, não importando a idade.



Aquele momento deveria servir de exemplo a todos os Lulus, para o resto de suas curtas vidas e também para, as gerações vindouras.



A festa de inauguração está pronta.



Todos se reúnem em torno da estrutura formada por três pirâmides, uma extremamente grande, e as outras, gradualmente menores. Elas ficam quase que alinhadas e são cobertas por uma liga metálica que faz gerar energia entre elas, energia esta que abastece, fartamente, toda Eridu. Não existe aí nenhuma novidade para os Anunnakis. Esta é a forma tradicional, e praticamente gratuita, de se obter energia e é utilizada há anos em Nibiru.



O que intriga os presentes é uma estrutura próxima, que está rodeada por uma grande cortina suspensa por uma nave, que flutua calmamente. Todos comentam e se perguntam sobre o que teria dentro da cortina. Todo trabalho dos Lulus fora realizado dentro desta proteção de tecido, para aumentar ainda mais a curiosidade sobre a surpresa prometida pelo Chanceler.



Enlil está em seu gabinete, preparando-se para iniciar as festividades, repassando seu discurso, quando, seu assessor entra apavorado.



- Senhor, alguém aqui precisa falar-lhe com urgência!



Entra no gabinete Ereshkigal, arrastando consigo dois Lulus visivelmente machucados.



Após algum tempo de conversa entre eles, o Chanceler chama o chefe da guarda de Nippur e ordena que leve todos os Lulu Amelus para bem próximo ao palco onde será realizado o discurso de inauguração.



Ao serem chamados, os Lulus sentiram grande alegria, afinal, apesar de serem os construtores dos geradores, bem como da surpresa que esta atrás da cortina, não haviam sido convidados para a cerimônia.



– Devem ter repensado o assunto e acham importante nossa presença! – Comentam entre si.



Os Anunnakis também estranharam a presença dos Lulus.



– Os Lulus são seres inferiores. Não são dignos de participar das festividades Anunnakis! – Era o que comentavam.



Quando todos já estavam em seus lugares, o Chanceler sobe ao palco, acena pedindo silêncio e começa a falar.



- Amigos Anunnakis. Hoje era um dia para grande alegria e festividades – começou –, mas acabo de receber uma noticia que me abalou, e quero compartilhá-la com todos vocês!



O Chanceler fez sinal para que trouxessem os dois Lulus que vieram com Ereshkigal das minas. A curiosidade tomou conta de todos, principalmente dos Lulu Amelus, que viram dois dos seus muito machucados sobre o palco. Logo a curiosidade foi substituída por outras emoções: ira por parte dos Anunnakis e perplexidade por parte dos Lulu Amelus.



O Chanceler formalmente acusou os dois Lulus pelo assassinato de seu irmão, e gerente das minas, Enki. Contou a todos a história apresentada por Ereshkigal, de que quatro Lulus violentaram uma fêmea de sua própria espécie, e que Enki tentou defende-la. Conseguiu matar dois dos agressores, mas foi surpreendido e morto pelos dois que estavam sangrando no palco. Em uma tentativa para se livrarem da culpa, jogaram o corpo de Enki, em um caudaloso rio próximo as aralis e, o corpo não foi mais visto.



Um alvoroço começa, os Anunnakis pedem justiça e, é isso que o Chanceler lhes dará. Uma punição exemplar deve acontecer, e por isso, todos os Lulu Amelus foram chamados. Para assistir e aprender com a lição. Para ficar claro a todos o que acontecerá a quem agredir, ou pior ainda, vier a matar um Anunnaki.



O carrasco sobe ao palco e inicia a sessão de tortura, contra os dois Lulus que foram acusados. A tortura se estende por horas, sob a torcida alucinada dos Anunnakis.



Os acusados imploram para que o suplicio cesse. Juram inocência, mas não há clemência, não há perdão. Os Lulus que assistem horrorizados a cena, nem em seus piores pesadelos imaginavam que poderia existir tamanha crueldade. Eles choram. Tem certeza da inocência dos seus, alguns desmaiam de terror, outros são agredidos por alguns Anunnakis mais exaltados e que a segurança não pode, ou não faz questão, em conter.



Após horas de tortura, finalmente os dois acusados tombam, mortos, mas com o alento de que o sofrimento finalmente acabou. Todos os Lulus são devolvidos aos seus alojamentos, muitos em estado de choque, outros, gravemente feridos. As festividades recomeçam, os corpos dos torturados são carregados pelos guardas e jogados no rio próximo à cidade. Devem ser consumidos pelas feras, nem sepultamento eles tem direito, o castigo deve ser completo.



Alheio ao sofrimento dos Lulus, o Chanceler dá sequência ao protocolo e, inaugura o gerador citando as vantagens para o povo que está morando em Nippur e que indústrias finalmente serão instaladas e a primeira a funcionar será uma fábrica de armas, que segundo o Chanceler, visará à segurança dos próprios Anunnakis.



Finalmente a curiosidade dos Anunnakis é sanada. A nave que segura à cortina, alça vôo e, eis que surge, um enorme leão esculpido em pedra. Deitado sobre suas patas, majestoso, de cabeça erguida, orgulhoso. O animal será o símbolo de Nippur, e representa a superioridade dos Anunnakis sobre tudo o que existe neste primitivo e insalubre planeta.



Ao terminar de contar esta história Ninsun esta chorando copiosamente, Gil a acompanha. O Anunnaki, que apesar de convalescido, os seguiu até a caverna do alto do morro, também ouvira a história, e fica horrorizado. Ele chega próximo a Ninsun e Gil, e os abraça.



Neste momento Ninsun chora ainda mais, colocando para fora toda a angustia de uma vida. Todo sofrimento que passou em sua infância, e que, nem ao menos conseguia entender o porquê.



Não tenho a mínima idéia de quem são as pessoas que querem as relíquias, mas, eles são eficientes.



Liguei para Mari a noite, pedindo para vender o que for possível de meu apartamento, e que, iria pensar em uma forma para buscar o dinheiro. Na manhã do dia seguinte como de costume, fui à padaria próxima para tomar meu café da manhã, e encontrei, também como de costume, as mesmas pessoas que encontro todos os dias, que já se tornaram minhas novas amigas. São pessoas simples, em sua maioria aposentados que aproveitam o ambiente da padaria para jogar um pouco de conversa fora, discutir assuntos do Brasil e novidades na cidade.



Foi quando descobri uma das vantagens em se morar numa cidade pequena: Sempre estamos bem informados sobre tudo que acontece no lugar.



Cheguei à padaria e cumprimentei os presentes. Não havia sequer sentado, e a atendente já veio com o comentário:



- Acabou o sossego em nossa cidade!



Sabia que precisava dar uma resposta e, apesar de não estar curioso a respeito, por pura educação, perguntei:



- Por quê?



- Não soube? – Responde a atendente.



Normalmente, de manhã, não estou com muita paciência. Não tenho o menor interesse em saber o porquê de ter acabado o sossego da cidade, mas, novamente por educação, prossegui a conversa:



- Não. Acabei de acordar!



- Temos um bandido em nossa cidade! – Conta a atendente com um tom de voz apavorado.



Sem entender o que ela queria dizer, e ainda sendo educado, perguntei:



- Que bandido?



Imediatamente um senhor, já conhecido meu, se adiantou e falou:



- Sabe aquele professor que matou um colega seu de São Paulo? Ele está em nossa cidade!



- A policia esteve cedo fazendo perguntas! – Completou a atendente.



Neste momento meu sangue gelou.



– Eles me acharam! Devem ter grampeado o telefone da Mari. Preciso urgentemente sair desta cidade!







***







Foram enviados quinhentos Lulu Amelus para trabalhar nas aralis.



Foram os primeiros. Os trabalhadores Anunnakis já estavam a ponto de se amotinar novamente se os "cabeças preta", que é como chamam os Lulus, não fossem enviados imediatamente para as minas. Foi um motim dos mineiros, o estopim para criação dos trabalhadores primitivos e, para o Chanceler não é nada interessante outro motim. Devido a isso, envia os Trabalhadores Primitivos, mesmo antes do prazo estipulado.



Enki, o gerentes das aralis, manda preparar um alojamento confortável para os novos, ao lado do alojamento dos Anunnakis. Isto gerou indignação e comentários maldosos por parte de alguns Anunnakis, eles vêem os Lulus como animais, transformados em ferramenta de trabalho e, na visão deles, não devem ser tratados como um Anunnaki, sequer devem ficar próximos a eles.



Com os novos trabalhadores, realmente o trabalho dos Anunnakis diminuiu em muito. Os Lulu Amelus receberam treinamento para trabalhar nas aralis e passaram a desempenhar seu trabalho com excelência. O único que viu seu trabalho aumentar foi Enki.



Agora ele precisava estar sempre muito atento, pois os Anunnakis, sempre que tinham oportunidade, maltratavam e humilhavam os Lulu Amelus. Enki é rigoroso com o castigo para quem age desta forma, porém, só pode castigar quando vê o ato, porque nenhum dos Anunnakis delata os colegas agressores, e os Lulus, por sua natureza pacifica e sabendo que os Anunnakis seriam castigados, também não entregam o seu agressor.



À noite, como de costume, Enki está em seu escritório cuidando da parte burocrática das aralis, é um trabalho chato e maçante, mas alguém precisa fazê-lo. Como os Lulu Amelus dormem neste período, Enki reservava este turno para cuidar da papelada. Tranca o alojamento dos Lulus e ficava tranqüilo, sabendo que estarão bem, e que não precisa vigiar.



Esta noite, porém, ouve um alvoroço do lado de fora de seu escritório. Interrompe seu trabalho, e vai verificar. Ao Abrir a porta de seu escritório, e se depara com um grupo que puxa a força alguém para fora do alojamento dos Lulus, que está com as portas abertas. Outro grupo sai em socorro ao que está sendo arrastado, mas é alvejado. Alguns tombam mortos, outros recuaram.



Enki corre em direção do alvoroço, e ao chegar perto constata que dois Lulus estão mortos e, um grupo de Anunnakis segura uma fêmea dos trabalhadores primitivos. Ela está nua.



- O que está acontecendo aqui? - Grita Enki.



- Fique fora disso. - Responde Ereshkigal, que é o segundo no comando das Minas subordinado apenas à Enki.



- Soltem esta Lulu, imediatamente! – Grita novamente Enki



- Vá para seu escritório e faça de conta que não viu nada, será melhor para você! - Responde Ereshkigal.



- Você está me desafiando, Ereshkigal. – Fala Enki com tom desafiador - Vai pagar por isso, e caro!



Enki é muito respeitado e temido pelos mineradores. Seu pai foi um herói em Nibiru, seu irmão é o Chanceler em Nippur e o Rei Anu é seu amigo pessoal, tudo isso, alem do fato que ele é um respeitado cientista, função considerada fundamental em Nibiru, isso, após a grande crise. Graças a este currículo, estava conseguindo manter este barril de pólvora que são as aralis. Pelo menos, por enquanto.



- Você é um tolo Enki – gritou Ereshkigal -, defendendo estes animais. Nós os criamos, eles são nossos, estão aqui para nos servir e nos divertir.



- São seres vivos, inteligentes, e possuem sentimentos como nós!



- Não temos tempo para discutir com Você. - Ereshkigal virou-se para dois Anunnakis ao seu lado e ordenou - Prendam Enki na jaula. - A jaula é o lugar onde Enki prende os Anunnakis que maltratam os Lulus.



Os dois se entreolharam em duvida se deviam ou não executar a ordem, afinal, se trata de Enki.



- Vão agora. - Insistiu Ereshkigal - Eu assumo a responsabilidade!



Os Anunnakis foram em direção a Enki com certo receio. Enki ainda os ameaçou, mas, neste momento, a insurreição de Ereshkigal falou mais alto. Eles prenderam Enki, que ainda tentou se defender, porém, os rebelados estavam armados e o ameaçaram, não vendo opção, acabou se entregando.



Já dentro da jaula, ainda pôde ouvir os gritos e pedidos de socorro da jovem Lulu que os Anunnakis estavam levando. Enki ainda gritou, tentando em vão, conte-los de cometer este barbarismo.



O dia já estava clareando quando os mesmos Anunnakis que o prenderam, a pedido de Ereshkigal, vieram buscá-lo.



- Venha conosco Enki. - Fala um dos Anunnakis puxando Enki para fora da jaula.



Eles o algemam e o levam para fora do prédio, lá Ereshkigal o aguarda. Enki olha em direção ao alojamento dos Lulus e vê, sentada no chão, encostada na parede do alojamento a jovem Lulu da noite passada. Ela apresenta muitos machucados e está chorando, nitidamente foi violentada. A cena revoltou mais ainda Enki, que falou a Ereshkigal:



- Você vai se arrepender Ereshkigal. Você e estes seus comparsas irão apodrecer no presídio...



Neste momento recebeu uma bofetada no rosto que o fez cair, sentiu o sangue escorrendo pelo seu nariz.



- Cale a boca, seu filhinho de papai! - Gritou Ereshkigal. – Vamos, tragam-no!



Eles o levaram com um veiculo de transporte para um cânion próximo. A uns quarenta metros abaixo, passa um caudaloso rio. Posicionaram Enki em pé à borda do cânion. Ereshkigal vira-se para os outros dois e fala:



- Vão embora. Vocês não podem testemunhar o que não presenciaram. - Ao que os dois saem sem fazer perguntas, já sabem o que acontecerá em seguida.



- Porque está fazendo isso Ereshkigal? - Perguntou Enki.



- Por quê? Você ainda pergunta? - Responde Ereshkigal com ódio, dando mais um soco em Enki - Eu seria o Gerente das minas, estava tudo acertado, o cargo era meu. Mas não, o filho do grande Eni se candidatou para a vaga, e a vaga se torna dele, nem precisa fazer força. Você vive na sombra de seu pai, nunca teve competência, e roubou o lugar que era meu por direito.



- E você tem competência Ereshkigal? Violentar jovens Lulus, isso é competência?



- Os trabalhadores precisam de diversão, você sempre negou isso a eles, e eu não. Agora estão ao meu lado! - Disse Ereshkigal rindo - Mas chega de conversa, estou pegando meu cargo novamente, se não por bem, então... por mal.



Ereshkigal saca uma arma, aponta para Enki e atira. Com o impacto, Enki arqueia seu corpo para traz, e cai. O corpo de Enki despenca os quarenta metros do cânion, até a água na qual, bate em cheio com um forte impacto. Ereshkigal ouve o barulho na água como uma canção em homenagem a sua vitória. Vai à borda do precipício e olha tentando encontrar Enki, mas ele desapareceu no nas águas bravias do rio. Crente que ele não poderia ter resistido à queda, fala para si mesmo:



- Foi mais fácil que pensei, nem precisei jogá-lo. Agora a água gelada e os animais cuidam do resto!



- Quando acordei estava aqui, nesta mesma praia, machucado, mas vivo, o tiro me atingiu de raspão. – Prossegue Enki com sua história - Depois de me recuperar, tentei voltar para a cidade por terra, mas não consegui suportar o gelo e o frio. Em um impulso terrível para voltar e denunciar Ereshkigal, construí uma jangada improvisada com galhos e tentei atravessar o mar, nem me dei conta dos perigos desta atitude. Já estava a uns 100 metros quando meu barco foi atacado por baixo e tombou. Não vi o que era, mas devia ser um dos grandes animais marinhos que habitam estas águas. Por muita sorte, conseguiu alcançar a margem, mas, mortalmente ferido. Procurando proteção consegui, a grande custo, arrastar-me até a caverna onde, certamente morreria, se vocês não tivessem me encontrado.



Ao terminar sua história, reparou que Ninsun e Gil o olhavam atentamente, não esboçaram nenhuma reação, só olhavam impressionados.




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