A “página goética” é mencionada e vista em muitos grimórios e alfarrábios que abordam a Goetia. A maioria deles atribui sua origem ao livro conhecido como “Pactum”, cuja autoria é desconhecida, assim como a data certa de suas primeiras edições. Diz-se que a explicação dos caracteres é dada no antigo grimório e que sua fórmula revela um dos segredos fundamentais da Goetia.
“La Cruz: Simboliza al Hombre Desnudo, es decir limpio de toda impureza”.
O autor também é desconhecido, mas podemos afirmar com certo grau de precisão que ele conhecia os mistérios encerrados nos elementos descritos e que era preciso encobri-los, talvez para sua própria segurança, de maneira que seu significado não se perdesse ao longo dos séculos.
A Cruz, a Serpente, o Cálice e o Caduceu são conhecidos como os quatro elementos do ritual Goético Maior.
O ritual Goético Maior não pode ser entendido ou visto como uma prática isolada dentro do Caminho da Mão Esquerda e da Antiga Goetia, o termo é utilizado para revelar os elementos ritualísticos principais num caminho Negro em Essência, sem a submissão pretensiosa dos poderes Infernais aos poderes celestiais ou vice-versa. Ele denota um caminho de consecução mágicko e gnóstico onde os operadores não se cercam de proteções “brancas”, sejam elas quais forem para adentrar em Sitra Ahra, para operarem literalmente dentro dos Túneis de Set ou para evocarem os Deuses mais Antigos. O ritual Goético Maior é aquele reservado aos “Nativos”, aos que não se envenenam para poder envenenar, mas aqueles que são o próprio veneno.
O texto da “página goética” revela também que a dimensão sexual dos mistérios era conhecida e utilizada conscientemente pelos magos goéticos antigos. Muitos ocultistas, obviamente influenciados pelo frígido e impotente pensamento judaico-cristão, acreditavam que os mistérios sexuais tinham sido pervertidos e corrompidos por Magos Negros que se entregavam a lascivos ritos profanos e criminosos.
É realmente incomum encontrarmos referências explícitas à sexualidade aplicada para fins mágickos no ocultismo ocidental durante esse período.
Façamos então breves exposições sobre os Quatro Elementos, como descritos na “página goética”.
A Cruz
A Serpente Luminosa
A Serpente é um dos mais importantes símbolos primordiais e representa a mulher em sua fase lunar, ou seja, durante a menstruação.
Numa antiga lenda judaica Eva começou a menstruar numa terça-feira, ocasião em que se transformou em uma serpente. Terça-feira é o dia de Marte, divindade do derramamento de sangue. Em certas tradições hindus, a terça-feira é consagrada à Deusa Kali.
Nas tradições Tifonianas e Draconianas a serpente simboliza o renascimento e a transformação contínua em alusão às suas trocas de pele. É também um glifo associado à Lua e à Daath devido à Serpente de Oito Cabeças que habita o Abismo.
A Serpente é o Veneno que pode engendrar a Morte e a Arte de enganar uma presa até suas próprias mandíbulas. É um símbolo de longevidade saudável e de ameaça mortal perene. É o réptil que se move ligeiramente sem ser ouvido e sem possuir patas.
No antigo Egito a Serpente era um símbolo dos períodos femininos e era um dos emblemas da Deusa (Ta-Urt, Ape, Tiphon), assim como o Chacal e o Crocodilo. Apep era o Dragão-Serpente que habitava a escuridão.
As diversas interpretações da tentação de Eva e os escritos bíblicos nos conduzem a outras serpentes, demônios ou divindades associadas: Nahash, Samael, Leviathan e Lilith.
A Serpente está associada ao arquétipo de Lilith e aos poderes sobre-humanos da Mulher Escarlate. É malícia, astúcia, força, inteligência, sedução, veneno, perigo e deleite.
O Caduceu
Na página goética o Caduceu representa o Lingam, os órgãos genitais masculinos, o Falo ereto que penetra o “mundo desconhecido”. O símbolo é utilizado há mais de 4000 anos e está presente em tradições sumerianas, hindus e gregas.
Na mitologia grega o caduceu pertencia inicialmente a Apolo que o deu a Hermes em troca da lira, desde então o Caduceu passou a ser o principal símbolo de Hermes e de Mercúrio. O Caduceu é um símbolo da astúcia, da inventividade e da sabedoria e é através dele que Hermes guiava as almas dos grandes homens pelas regiões de luz e de trevas.
O Caduceu é formado por um cetro (o Lingam) no qual estão enroscadas duas Serpentes que representam as correntes “opostas” de OB (serpente da direita) e OD (serpente da esquerda), restando ao cetro o AUR. As serpentes representam também o Obeah e o Wanga.
Os nadis (canais) Ida e Pingala são associados às serpentes e Sushuna ao cetro. Ida se conecta ao testículo esquerdo e Pingala ao testículo direito. Tais relações o associam à Kundalini.
O Cálice
O Cálice representa a sagrada Yoni e é o símbolo mágicko do Entendimento e um dos símbolos de Binah (3° Sephirah). O Cálice é a arma elemental da Água e do Sangue. Nele são administrados e misturados os elixires medicamentosos ou envenenadores.
A superfície do líquido que o Cálice contém é um plano que oculta sua profundidade numa abstração de uma dimensão aparentemente dual. Quanto mais concentrado é o conteúdo, mais difícil é apreender o que está abaixo do plano, da Abstração, da Ilusão.
O plano é perfurado pela Vara do Caduceu e a borda do cálice é um círculo, dessa forma a Vontade (Finita) comunga com o Infinito (Círculo).
O cálice é utilizado como repositório, mas também emite determinadas secreções em circunstâncias especiais provocadas ou procuradas, é por onde flui o sangue lunar. É um glifo para o recipiente que recolhe o orvalho na tradição alquímica.
Conclusão
No mito edênico a Serpente (Nahash / Lilith / Lucifer) tenta, seduz Eva a comer o fruto proibido da Árvore. Eva cede e, como Serpente Luminosa, convence, seduz Adão a comê-lo também.
No Ritual Goético Maior o Homem (Cruz) se une à Mulher (Serpente Luminosa), ambos despidos de conceitos morais (ambos são amorais), vergonha, receio, medo ou culpa. A união se dá fisicamente através do intercurso do pênis (Caduceu) com a vagina (Cálice). O Cetro (Vontade / Sabedoria / Palavra) atravessa o Olho Oculto (Z-Ayn) e transmuta a energia de acordo com a finalidade do ritual. Se conduzida de maneira adequada, tal união pode dar acesso aos planos interiores ocultos e às regiões cósmicas representadas pelos Túneis de Set, pelas Qliphoth e além.
Na vagina (cálice) fluem os elixires secretados pela Sacerdotisa (Serpente Luminosa), isso ocorre antes e após o intercurso, sendo que os kalas precisam ser ativados previamente. É preciso aquecer o Athanor.
A união dos Amantes é um glifo de Zamradiel, Túnel que liga Thagirion à Satariel (Thipareth à Binah).
O intercurso se mantém pelo tempo necessário, porém não se deve estendê-lo por muitas horas. O momento da Morte (Daath) marca a transmutação mercurial e é o momento em que se misturam os elixires na Taça das Abominações. O Cálice transborda o elixir que é coletado e consumido pela Sacerdotisa e pelo Sacerdote, de acordo com a natureza e finalidade do Ritual.
A união dos Amantes representada por Zamradiel é o casamento dos pares de opostos complementares em eucaristia. No tarot de Thoth a sétima carta se chama “Os Amantes” e Zamradiel é o Sétimo ou Décimo-Sétimo Túnel, profundamente carregado com a atmosfera de Daath.
Os oceanos fluídicos (Água / Sangue) represados pelo Cálice (Vagina) se identificam com o Grande Mar (Marah) de Binah que é também entendimento. Binah, enquanto Mãe Obscura e Estéril é tornada Fértil e Brilhante através do rito: AMA se torna AIMA.
Postado por Rituais de Magia
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