Introdução Runas
Para os povos de língua germânica, a palavra runa pode significar tanto “segredo” como “sussurro” ou “mistério”.
É também “uma das letras do alfabeto usado pelos povos germânicos mais antigos”, o Fuþark, que recebe este nome exatamente por causa das iniciais de suas 6 primeiras letras (Fehu, Uruz, Þorn, Ansuz, Raiðo e Kenaz).
Embora outros alfabetos antigos também tenham em sua origem atributos
que transcendem a sua função lingüística (como é o caso do hebraico e
do ogham, só para citar dois exemplos), vários estudos afirmam que o
sistema rúnico é o mais desenvolvido entre eles, certamente pelo fato
destes elementos místicos e mitológicos acabarem por prevalecer sobre
todo o resto.
Do ponto de vista histórico, a origem das runas é ainda um tema
discutível com, no mínimo, quatro teorias, cada qual atribuindo a outras
civilizações a responsabilidade por sua criação. São elas a Teoria Latina ou Romana (L.F.A. Wimmer, 1874), a Grega (Sophus Bugge, 1899), a Etruca ou Norte-Itálica (C.J.S. Marstrander, 1928) e a Indígena (R.M. Meyer, 1896), única a defender a origem puramente germânica.
Com relação à sua utilização, 3 informações são de grande importância:
- Evidências históricas demonstram que as runas eram aplicadas de diversas maneiras e em diversos materiais mas nunca chegaram a ser utilizadas (na sua época) como uma escrita de caneta e tinta, sendo reconhecidas apenas como símbolos talhados ou gravados sobre madeira, osso, metal e pedra.
- O conhecimento necessário à utilização do Fuþark, tanto para escrita como para propósitos mágicos, era essencialmente especializado, sendo o entalhador ou o Mestre de Runa era um membro altamente considerado na sociedade. O primeiro tinha a capacidade de ler (coisa rara na ocasião) e gravar as runas. O segundo, além das habilidades do primeiro, conhecia o poder mágico do Fuþark.
- O Fuþark é composto originalmente por 24 letras. Neste formato é conhecido como Fuþark Antigo ou Germânico. Com o passar do tempo e por influência de outros povos, surgiram o Fuþark Anglo-Saxão, composto por 29 ou 33 runas, e o Fuþark Viking ou Moderno, composto por 16 letras.
Dentro
da perspectiva mitológica, o surgimento das runas é atribuído à Óðinn, a
divindade máxima do panteão nórdico. Ele era um xamã, entre outras
coisas, e como muitos xamãs ainda fazem nos dias de hoje, Óðinn se
submeteu a uma experiência de “retorno da morte” para alcançar um estado
de êxtase místico.
Algumas vezes este estado de transcendência é conquistado em
acidentes ou doenças que conduzem o indivíduo ao limite de sua
existência mas, na maioria das práticas xamânicas, rituais envolvendo
alucinógenos, transes profundos, danças sagradas e/ou mortificações
(como ser enterrado vivo, por exemplo) são realizadas com o mesmo
objetivo.
Numa das seções do Hávamál, um poema épico traduzido como “as
palavras do Altíssimo”, encontramos o Runatál, que descreve
especificamente este ritual de auto-sacrifício elaborado por Óðinn na
árvore eixo do mundo, Yggdrasil.
Segundo consta, durante nove dias e nove noites, sem ninguém para lhe
dar água ou comida, Óðinn ficou pendurado em Yggdrasil, ferido pela
própria lança, até ingressar numa dimensão além do mundo dos mortos e
retornar, vitorioso, com o conhecimento necessário para a confecção e
manipulação das runas.
De lá para cá, os herdeiros do legado de Óðinn têm constantemente
associado as runas aos processos oraculares, às práticas talismânicas e à
manipulação de forças naturais e sobrenaturais para um propósito
definido pelo iniciado. São inúmeros os registros arqueológicos de runas
entalhadas em armas, batentes de portas, copos de dados e chifres
utilizados como cálices, entre tantos outros objetos, o que confirma a
fé dos povos setentrionais na proteção que estes símbolos ofereciam.
Lendas e testemunhos históricos dos primeiros romanos em terras
nórdicas revelam o uso destes mesmos símbolos na predição do futuro e
nas tentativas, nem sempre felizes, de alterá-lo.
Para os que gostam de explorar paralelamente outras áreas de
conhecimento, o fato de Óðinn se pendurar em Yggdrasil chama a atenção
dos estudiosos da Cabalá e do Tarot.
No primeiro caso, porque os “Nove Mundos” da mitologia nórdica
sustentados por Yggdrasil, poderiam ser comparados às 10 sefirót que
formam a estrutura conhecida como Árvore da Vida.
No
segundo caso, porque muitos baralhos modernos incorporaram parte do
mito de Óðinn à interpretação da carta do Pendurado – o Arcano XII, que,
entre outras coisas, representa a busca da sabedoria interior através
da introspecção.
Os conceitos que envolvem cada runa serão apresentados nas páginas
disponíveis neste blog. A existência de uma 25ª runa, de nome Wyrd
(também conhecida por “Runa Branca”) está sendo totalmente
desconsiderada por se tratar de uma invenção de Ralph Blum.
“O futuro que as runas não podem antever” é um conceito perfeitamente
aplicável à 14ª runa, Peorð, não havendo razão para duplicidades.
Apesar de Ralph Blum ser um campeão de vendas e o grande responsável
pelo resgate do interesse pelas runas, eu, particularmente, não
recomendo nenhum de seus livros.
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