Leitura
Parte I: Material
Da teoria para a prática, alguém que se propõe a lançar runas precisa
montar o seu kit básico para a consulta. Este kit consiste das 24 runas
do Fuþark, uma toalha e uma pequena sacola.
Toalha - A toalha é uma representação do espaço sagrado e o
seu uso deve ser exclusivo para as práticas oraculares. Jamais use esta
toalha para qualquer outra coisa, como forrar uma mesa para um lanche ou
para secar as mãos, etc. O tecido pode ser o que mais lhe agradar,
assim como a cor. Dê preferência à fibra natural. Eu não entendo muito
do assunto, não sei dar nome aos diferentes tipos de tecido, mas é
importante, entre outras coisas, que ele não fique marcado depois de
desdobrado ou que seja muito leve, a ponto de desarrumar a mesa a
qualquer esbarrão…
O
tecido pode, ainda, ser liso, estampado ou trazer símbolos pintados
(eu, particularmente, prefiro as toalhas lisas). Uma opção é o Valknutr,
uma referência à habilidade de Óðinn em fazer e desfazer as amarras do
destino. Outra possibilidade é colocar todas as runas em um círculo, a
exemplo do emblema do grupo Rune-Gild
(ao lado), uma sociedade secreta fundada por Edred Thorsson em 1980 e
voltada para o estudo tanto da religião como da magia teutônica.
Uma observação importante nesta história é que as runas podem ser
escolhidas uma a uma durante o jogo ou lançadas aleatoriamente em
conjunto sobre a toalha, de modo que talvez você ache mais interessante
marcar na toalha áreas específicas que dêem um “colorido” às runas que
caírem ali… Veja um exemplo do que me refiro na parte das técnicas de
leitura.
Sacola – O uso de uma pequena sacola para acomodar as runas é
tradicional. Os Mestres de Runas andavam com ela presa à cintura e
muitas vezes eram reconhecidos por causa dela. Não há nada de especial
na sua confecção, basta um retângulo costurado em três lados e um cordão
para amarrar. Você pode utilizar um tecido de fibra natural ou couro.
Runas – Esta é uma parte importante! Embora algumas editoras
publiquem cartas com os símbolos rúnicos, tradicionalmente fazemos uso
de pequenos blocos de madeira gravados – uma referência direta à
Yggdrasil, a árvore que sustenta os Nove Mundos. A preferência é
geralmente dada à madeira de árvores frutíferas ou consideradas sagradas
dentro da tradição nórdica. Você pode pegar um pedaço de madeira
tratada ou escolher um galho com uns 2cm de diâmetro e “fatiá-lo”.
As runas podem ser feitas da madeira de uma único tipo de árvore ou
de árvores diferentes, de acordo com as associações mágicas (veja o
texto sobre Magia Rúnica). Alguns só fazem suas runas de galhos caídos
na floresta e outros retiram os galhos da árvores, sendo que, neste
caso, existe todo um “ritual de solicitação” para que as runas venham de
uma doação e não de um “estupro ecológico”.
A outra opção para as runas é a gravação ou pintura de cristais.
Escolha 24 pedras mais ou menos no mesmo formato e grave ou pinte um
símbolo em cada uma delas. Eu já comprei vários conjuntos gravados e já
usei uma caneta de tinta dourada para pintar um jogo de runas em Olho de
Tigre. Você pode associar as características do cristal com o objetivo
do kit (ametista para questões de ordem espiritual, quartzo rosa para as
questões afetivas, etc.).O problema das runas de cristal é que já vi
alguns casos em que as pedras trincam de ponta a ponta depois de um
certo tempo. O próprio chacoalhar das runas dentro da sacola pode ser
prejudicial para a integridade do seu kit. Para lançar sobre uma toalha,
então, fora o incômodo do barulho, é quase certo as pedras quebrem ou
rachem cedo ou tarde.
Em
qualquer um dos casos, a gravação/pintura da madeira/pedra deveria ser
acompanhada de um ritual. Geralmente este ritual consiste na
concentração do Runemál à pintura ou gravação de cada Runa (não o faça
assistindo a TV ou pensando em outras coisas, por exemplo) repetindo o
verso correspondente ao Antigo Poema Rúnico Inglês e pedindo as bênçãos
dos deuses, principalmente às Norns, à Óðinn e à Freyja.
Nos EEUU existem algumas lojas com opções interessantes. A melhor delas é a Tara Hill Designs,
que vende blocos de madeira já gravados ou lisos para você mesmo
gravar. As runas confeccionadas pelo Runemál são sempre as mais
poderosas, acredite… Entre as possibilidades, você pode escolher se as
suas runas virão gravadas no freixo, teixo, carvalho (branco, marrom ou
vermelho), bétula, maçã, azevinho ou olmo.
Outra opção que não pode ser ignorada, apesar de bem menos ortodoxa, é
o uso de baralhos rúnicos. Contamos com uma boa variedade deles hoje no
mercado, como The Rune Vision Cards, de Sylvia Gainsford e Howard Rodway.
Parte II: Técnicas de Leitura
O Runemál tem várias opções para a consulta ao oráculo. A mais
simples delas é usar as runas como geralmente usamos as cartas do Tarot,
ou seja, você estabelece antecipadamente quantas runas vai selecionar e
qual o atributo de cada seleção. O exemplo mais comum é perguntar
mentalmente ou em voz alta qual a runa que melhor descreve uma
determinada situação, colocar a mão dentro sa sacola e escolher
aleatoriamente uma pedra.
Do mesmo modo podemos escolher três pedras, uma representando o
passado, outra o presente e a terceira o futuro de uma determinada
situação. Precisa de um conselho sobre o que fazer? Basta selecionar
mais uma runa… Se o seu jogo terá 5, 11 ou 24 runas é só uma questão de
escolha. Você pode consultar alguns livros sobre Tarot e escolher entre
diferentes jogos ou criar o seu, não importa.
A outra forma de se consultar as runas pode ser um pouco mais
complicado e deve ser tentado na medida que a sua interpretação for se
tornando mais fluente. A exemplo da consulta aos búzios, o Mestre de
runas coloca as 24 runas nas mãos e as deixa cair sobre a toalha
previamente marcada. A leitura é feita de acordo com as runas presentes
em cada área com um significado específico. Pode ser que um campo fique
vazio, que outro tenha 3 runas ou que uma runa caia na linha que divide
duas áreas. Esteja preparado para tudo isso.
A Mandala Astrológica, por exemplo, é um jogo clássico no Tarot. Com
as runas você pode sortear 12 pedras de dentro da sacola formando um
círculo ou lançar as runas numa toalha com um círculo dividido em 12
partes iguais. O tipo de gráfico a ser utilizado fica a critério do seu
conhecimento e criatividade (eu plastifiquei algumas mandalas e as uso
sobre a toalha, de acordo com o meu objetivo, ao invés de confeccionar
várias toalhas, o que é mais trabalhoso).
Cabe a você, ainda, decidir o que fazer com as runas viradas para
baixo. Não se trata de uma runa invertida (= de cabeça para baixo), veja
bem, até porque algumas runas são simétricas, mas de uma runa com a
face virada para baixo. Estas runas podem ser retiradas do jogo ou
consideradas “negativas” naquelas áreas de experiência.
Não deixe de olhar o link Tempo e Espaço para informações adicionais que podem valorizar a sua leitura.
Um exemplo de jogo onde as runas são lançadas sobre um gráfico é sugerido pelo Thorsson no livro At the Well of Wyrd,
baseado nos Nove Mundos de Yggdrasil. Na ilustração ao lado temos a
ilustração. Escrevi as iniciais de cada mundo apenas como referência
para a descrição a seguir:
Ásgarðr: [As] O reino dos Æsir e da consciência arquetípica.
Espiritualidade, os aspectos velados de uma questão, assuntos
relacionados à honra do indivíduo e as influências positivas do passado
(incluindo vidas passadas) que favorecem o presente. .
Ljóssálfheimr: [Lj] O mundo dos elfos luminosos, do
planejamento, da cognição e do intelecto. Aspectos mentais, assuntos de
família e as direções que devem ser tomadas para a realização das
promessas de Ásgarðr.
Miðgardr: [Mi] O reino dos homens e da realidade manifestada. O mundo tangível, o corpo e o Ego.
Swartálfheimr: [Sw] O reino dos anões, da criatividade, da
memória e das emoções. Também assuntos financeiros, questões sobre as
quais se deve refletir e direções que devem ser tomadas para a
realização das promessas de Hel.
Hel: [He] O mundo dos mortos e das influências inconscientes,
secretas ou ancestrais. Desejos sufocados ou escondidos, funções
automáticas de comportamento e e as influências negativas do passado
(incluindo vidas passadas) que restringem o presente
Muspellheimr: [Mu] O reino do fogo e das influências ativas externas.
Niflheimr: [Ni] O reino do gelo e das influências externas restritivas.
Vanaheimr: [Va] O reino dos Vanir, da vitalidade, da harmonia e
do bem estar. Tudo o que promove o crescimento. Também os
relacionamentos sentimentais.
Jötunheimr: [Jo] O reino dos gigantes, da crise, das mudanças ou das oportunidades, de acordo com o seu ponto-de-vista.
Os mundos dentro do círculo referem-se às influências mais
subjetivas/psicológicas da leitura. Os mundos fora do círculo referem-se
às influências mais objetivas da leitura. Ljóssálfheimr e Swartálfheimr são pessoais. Ásgarðr e Hel são transpessoais. Miðgardr, ao centro, deve ser considerado, uma síntese de todas as energias.
Para finalizar, é considerado parte do ritual a invocação prévia das
Norns, de Óðinn e/ou de Freyja para abençoar e orientar a leitura. Outra
tradição afirma que devemos sempre estar voltados para o Norte em
qualquer prática Rúnica, seja mágica ou divinatória. Quando ao ar livre,
em contato com a natureza, o Mestre de Runas sempre procura se
posicionar sob uma árvore frondosa (virado para o Norte) e aguardar,
depois da leitura, a confirmação pelos omens. Esta confirmação consiste
na delimitação visual de uma área ao seu redor (algo em torno de uns 10m
de diâmetro) e na espera do surgimento de algum animal dentro dele:
animais escuros são auspiciosos e representam uma confirmação de todos
os aspectos da leitura realizada; animais claros sinalizam que nem tudo
foi percebido de maneira correta.
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